25 de Abril: Beja celebra com 50 capas do jornal “Diário do Alentejo”.


Na principal artéria da cidade de Beja está disponível a exposição “Abril 74/75-Um ano de Diário do Alentejo, no calor da revolução”, que em 25 painéis duplos reproduz 50 capas do único jornal público de Portugal, propriedade dos municípios do distrito e que este ano celebra 92 anos.

Muitos foram os que passaram pelo “Diário do Alentejo” (DA), que se intitulava como “jornal regionalista independente”, como foram os casos do diretor da época da revolução, Melo Garrido, ou o também jornalista, José Moedas, pai de Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa.

Nas “Portas de Mértola”, como é conhecida a rua pedonal bejense, a exposição chama a atenção aos peões para aqueles gloriosos, mas também difíceis dias da Revolução. Francisco Vítor, de 77 anos, conhecido como “Chio”, trabalhou durante mais de quatro décadas no DA, sendo um dos impressores das edições dos anos 70, antes e depois do 25 de Abril.

“Cheguei ao jornal meses antes do assalto ao Quartel de Beja (que ocorreu na passagem de ano de 1961 para 1962) e porque era o mais novo fui a pé levar ao Regimento de Infantaria 3, as provas para a censura rever. Eram tempos difíceis. Houve primeiras páginas que chegaram a ser mudadas cinco vezes”, recorda.

Os tempos eram os do chumbo. “Os linotipistas faziam os textos que saiam em chumbo, faziam-se as provas no prelo, os jornalistas reviam e iam à censura. Na altura, todo o jornal era feito na nossa gráfica. A impressão, o corte, a dobragem manual, a cintagem e depois o transporte para o correio. Para os agentes no distrito iam uns rolos também pelo correio”, remata.

“As notícias eram ouvidas pela rádio. Os jornalistas tinham dois ou três rádios na redação e escreviam. Eram os dias inteiros, era uma algazarra terrível”, lembrando Francisco Vítor, os nomes de Melo Garrido e José Moedas, como “jornalistas incontornáveis” no DA.

“Chio” recorda que no dia da Revolução “era uma correria para os rádios. Mal se ouvia o hino do MFA parava tudo para ouvir as notícias. Não esqueço que no dia 26 de abril entrou um polícia nas instalações e berrou: “não gritem muito que isto ainda vai mudar”, defendendo o regresso a um triste passado ainda muito fresco na memória de todos.

Olhando para trás, recorda que viveu o melhor e o pior momento da sua vida, dentro do Diário do Alentejo. “Em 1979 o jornal fechou. Estávamos com ordenados em atraso, sem dinheiro para se por comida em casa e sem perspetivas de salvar o jornal e os postos de trabalho. Foi um período doloroso. Em 1980 as câmaras municipais, através da Associação de Municípios, compraram o título. Trabalhava nos Correios e o José Moedas foi buscar-me e regressei”, olhando com tristeza para o céu.

Mas o invés também aconteceu na vida de “Chio”, intramuros no jornal. “Foi o 25 de Abril. Aquilo era tudo malta de esquerda e existia uma cultura de democracia e um alerta para o que se estava a preparar. Foi sem sombra de dúvida o dia mais feliz da minha vida”, revela apontada para o grande título da primeira página do jornal do dia 26: “Forças armadas derrubaram Governo de Marcelo Caetano”.

Hoje, naquela que foi a casa de uma vida do DA, comprada e recuperada pelo Município de Beja, está instalado o Centro de Arqueologia e Artes.

Teixeira Correia

(jornalista)


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