Alentejo: Norberto Patinho, ex-autarca e cantador alentejano é um dos novos deputados do PS.
O antigo presidente da Câmara e cantador do Grupo de Cantares Regionais de Portel, é um dos novos deputados do PS na Assembleia da República. Norberto Patinho, assumiu o cargo, a 27 de novembro, dia em que o cante alentejano celebrava um ano de elevação a património da UNESCO.
“Serei deputado, com os mesmos ideais com que sou cantador”, assim se definiu Norberto Patinho, um dos novos parlamentares socialistas que face à posse do Governo liderado por António Costa, chegou na passada sexta-feira à Assembleia da República (AR).
O antigo presidente da Câmara de Portel e atual presidente da Assembleia Municipal canta há quase 40 anos no Grupo de Cantares Regionais da vila, sendo uma das suas vozes mais marcantes e carismáticas. É impossível dissociar o nome dos “Regionais” do que Norberto Patinho.
Usando uma linguagem militar, o edil justifica que “assentei praça” como deputado a 27 de novembro, dia em que se “comemorou o 1º aniversário da elevação do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade da Unesco”, diz com orgulho.
Aos 61 anos, Patinho vive “a sua terceira vida”. Primeiro foi professor, depois autarca e agora deputado. “Quero representar um Povo, uma gente, uma região”, assumindo-se como porta-voz do Alentejo, garantindo continuar a ser “o mesmo Homem que sempre fui. Como autarca e cantador”, remata.
O Grupo de Cantares Regionais de Portel, nasceu na noite de 5 de janeiro de 1976, vai celebrar 40 anos, quando um punhado de jovens percorreu as ruas da vila entoando o “Cante dos Reis”. Norberto não esteve nessa noite, mas dias depois chegava ao grupo.
Do bolso dos cantadores saiu o dinheiro para gravarem umas cassetes. A editora, sem autorização do grupo fez sair um single (disco em vinil), em que uma das modas era “Eu ouvi o passarinho”, que viria a tornar-se num êxito nacional que “ainda hoje toda a gente cante”, lembra. “Estivemos sete semanas do top de vendas em Portugal. Inédito e histórico para o Alentejo e a música tradicional”, lembra orgulhoso o deputado.
Como professor primário, delegado escolar, aluno da Escola Superior Educação do Politécnico de Beja, autarca, o portelense de 61 anos, nunca deixou de vestir a farda, colocar o lenço ao pescoço e cantar as modas alentejanas. E agora como deputado, perguntámos: “o cante é algo que não se perde. Funciona como escape para ultrapassar a rotina da vida”, justifica Norberto Patinho.
Vereador sem pelouros na Oposição durante 12 anos na Câmara de Portel, conquistou a autarquia aos comunistas, que liderou durante 16 anos, cargo que deixou em 2013, face à lei de limitação de mandatos. Ainda assim Patinho foi eleito presidente da Assembleia Municipal, o que fez com que nunca deixasse a sua terra.
Mercê da assunção da pasta de ministro da Agricultura, por parte de Capoulas Santos, Patinho, o número dois da lista do PS em Évora, assume o lugar na Assembleia da República e vai alterar as suas rotinas diárias. “Muitas vezes dou por mim a cantar quando vou sozinho ao volante. Agora, nas viagens Évora-Lisboa-Évora tenho mais um bom motivo para afinar a garganta para falar no Parlamento”, diz a gracejar.
Diz a moda, “Eu ouvi um passarinho, às quatro da madrugada”, e para o novel deputado é “um incentivo” para levantar cedo ou fazer umas diretas, para que se “ouça bem alto a voz dos alentejanos” na Assembleia da República.
Teixeira Correia
(jornalista)