Barrancos: O ultimo apicultor com colmeias em cortiça.


A pouco mais de dois meses de completar 80 anos, o “Tio Florindo” como carinhosamente o tratam em Barrancos, mantém sã a alegria de viver, o espírito de trabalhador do campo e o carinho pelas abelhas e os cortiços.

Nome: André Carvalho “Florindo”

Idade: 79 anos, Profissão: Apicultor

Residência: Barrancos

Todos os dias André Carvalho calcorreia a pé os estreitos carreiros que o levam a Cansalobos, um lugar nos arrabaldes da vila, onde tem as colmeias e o horto de um vizinho que trata como sendo seu.

Concluiu a Instrução Primária, aos 11 anos quando fez o exame da 4ª classe e em vez de um diploma “fui trabalhar para o campo com o meu pai e os outros sete irmãos. Eramos 4 rapazes e 4 raparigas. Em 1952 a família vivia do cultivo e venda dos cereais. Era uma vida dura”, recorda.

Em maio de 1962 deixou Barrancos durante 28 meses por causa da vida militar. Esteve 14 semanas nos Regimentos de Infantaria de Beja e Abrantes, onde fez a recruta e a especialidade. O resto do tempo foi passado no Presídio Militar de Santarém “a guardar os tipos mal comportados da tropa”, revela.

Foi com o pai, o senhor Florindo, de quem herdou a alcunha, que aprendeu toda a arte da apicultura: desde o fabricar dos apiários (colmeias) em cortiça, o “chamar” as abelhas para as colmeias, ao retirar os favos e fazer o mel e a água-mel.

“Sempre usámos os cortiços cilíndricos. A produção não é industrial, os favos são mais naturais e dão um mel melhor”, diz o mais antigo dos apicultores de Barrancos, que lembra os tempos idos em que a família tratava de 40 cortiços e “vendíamos a produção para a Confeitaria Salitre, em Lisboa”, recorda. Dos melhores sobreiros da Herdade da Contenda compravam os canudos de cortiça para fazer as colmeias, colocadas nas terras mais pobres e sempre carregadas por burros, em virtude dos acessos serem difíceis.

“Os cortiços são colocados numa lage de pedra, para que abelhas entrem por baixo, na junção da cortiça. Por dentro leva quatro cruzetas em pau onde vão deixando o pólen e originam os favos. Este processo é a partir de março e depois em finais de maio, tiram-se os favos e faz-se o mel”, conta o “Tio Florindo”.

Hoje continua a ter os cortiços à moda antiga, “dois ou três, para entretenga. Faço mel para a família e para alguns amigos”, acrescentando que “é com tristeza que não vejo os jovens a continuar a apicultura tradicional”, justificando que a herança familiar não tem seguimento porque “estão todos para as bandas de Lisboa”, remata.

André Carvalho, vive sozinho em Barrancos depois de ter perdido “a minha Catarina” (a mulher). Desde dezembro de 2019 que não vai a Lisboa ver a família “por causa desta porcaria (covid-19)”, mas anseia que chegue o dia 21 de junho. “Nesse dia faço 80 anos e a minha neta Alexandra, faz 26. Só celebro desde que ela nasceu”, justificando que está feliz por “ter sido roubado na idade”, contando que nasceu em maio e só depois fui registado.

Teixeira Correia

(jornalista)

 


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