Beja: António Cunha, “o fotógrafo que com vagar vê ao longe”.


“Importa-me mais deixar um acervo para o futuro do que ser conhecido na rua”, diz António Cunha, o fotografo “andarilho”, que muita gente da sua terra não conhece, mas que  ele “DE BEJA com vagar se vê ao longe”.

Nome: António Cunha

Idade: O fotógrafo é uma figura intemporal (justificou Cunha)

Profissão: Fotógrafo, Naturalidade e Residência: Beja

Define-se como “um alentejano enraizado no seu espaço, face à vivência e ao trabalho e muito viajado pelo mundo. Um andarilho que a fotografia leva através da máquina fotográfica”. É este o autorretrato que António Cunha faz da sua pessoa. Mais do que um fotógrafo, é uma figura do universo da fotografia.

Como se do alto da Torre de Menagem do Castelo de Beja, estivesse “a fotografar a sua vida”, Cunha recorda muito do que já publicou: “nove livros pessoais e mais meia dúzia com outros companheiros. Aos catálogos já perdi o conto, desde os CTT ao Círculo dos Leitores, passando pelo levantamento de grandes obras para o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU). As revistas “Grande Reportagem” e a “Nacional Geograpich” são dois marcos na minha vida”, justifica.

A vivência e partilha de experiências com o realizador e fotógrafo iraniano Abba Kiarostamy e o etnólogo e coletor corso Michel Giacometti, fazem parte de “um privilégio conseguido através da fotografia que me meu deu uma via látea de amigos”, rejubila.

Dois catálogos sobre arte sacra para a Fundação Gulbenkian e mais dois para a Região de Turismo Planície Dourada-Beja, para a Expo 98 sobre a presença dos portugueses na Índia, levaram o alentejano por quatro vezes àquele país asiático. “Foram os grandes momentos da minha vida e da carreira. Muito distintos, mas muito significativos”, lembrando que os portugueses andaram pelas paragens indianas durante quatro séculos.

Esteve durante 20 anos ligado à revista “Grande Reportagem”, e comovido, António Cunha lembra os trabalhos e a cumplicidade feitos com José Barata Feyo e Miguel Sousa Tavares. “Estive desde o segundo número até ao seu fecho. Foram tempos muito gratificantes”, recorda.

Em 1998 desligou-se do Ministério da Cultura e passou a trabalhar por conta própria. Há 17 anos que trabalha para a “Nacional Geograpich”, onde a relação com o arqueólogo Cláudio Torres e o mundo islâmico, têm-lhe permitido mostrar “uma cultura rica e uma fascinante história”, concluiu.

A Câmara Municipal de Beja convidou António Cunha “a fazer um livro de autor com imagens e sem palavras, que fosse um catálogo para uma visita à cidade e ao concelho”, lembra. Lançado no passado mês de outubro, “DE BEJA com vagar se vê ao longe”, leva o cidadão comum a uma viagem ao contrário, que resultou em 174 fotografias, das mais de 2000 que tirou. “Começou do céu para a terra, faz uma viagem pelas aldeias, visita o centro da cidade e termina num lusco-fusco, onde da terra se vê o seu e a via láctea”, revela.

Há uma Beja que não o conhece, mas que não o preocupa. “Importa-me mais deixar um acervo para o futuro do que ser conhecido na rua”, mostrando-se António Cunha reconfortado e grato à fotografia que “deu-me todo o meu eu”, remata.

Teixeira correia

(jornalista)


Share This Post On
468x60.jpg