Beja: Dois refugiados sírios deixam Cruz Vermelha e “acampam” na rua em protesto.


Dois cidadãos sírios, pai e filho, refugiados em Portugal e recebidos em Beja em abril de 2016, deixaram a Cruz Vermelha e passaram a viver na rua como protesto pela sua situação. Taman, o mais novo, não consegue trabalho e tem a família na Turquia.

Adnan Alnajjar, 88 anos, e Taman Alnajjar, 40 anos, pai e filho, refugiados da Síria, que chegaram a Portugal em abril de 2016 e que desde essa data se encontraram em Beja, na Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), decidiram deixar ontem as instalações da instituições e passaram a vir na rua em protesto.

Os dois homens trouxeram uma cama, duas cadeiras, uma mesa e as suas duas malas e encostaram as mesmas junto à Igreja de Santa Maria, no Centro Histórico de Beja, para chamarem a atenção das autoridades e exporem as suas necessidades.

Taman, estofador de profissão, e o pai, recebem por mês, 150 euros cada um, e não consegue emprego no setor na região. Já fez “biscates” na agricultura e a saída da CVP tem como objetivo: “sair de Beja e ir para Lisboa. Quero frequentar uma escola de português e procurar trabalho como estofador”, resumiu.

Casado, Taman deixou a mulher e quatro filhos, três rapazes e uma rapariga, em Istambul, na Turquia e atravessou com o pai num barco em direção à Grécia e daí, de avião veio para Portugal. O sírio que “arranha” o português disse ao JN: “a minha filha de 8 meses ainda não a conheço. Ficaram todos na Grécia, porque o barco podia virar e morrerem. Eu podia morrer, mas ele não”, rematou.

Taman entrou junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) com o processo de asilado e o mesmo foi recusado, tendo-lhe sido atribuído o estatuto de “residente provisório” por 3 anos, o que não lhe permite acionar o “reagrupamento familiar e trazer a família para Portugal”.

Ouvido pelo JN, Tadeu de Freitas, delegado da CVP de Beja, referiu que se trata de “uma rotura deseja pelos dois cidadãos, para alterarem a sua situação”, acrescentando que parte da instituição em que “temos cumprido tudo na totalidade as nossas obrigações”, justificando que apesar de terem optado por sair “estamos a acompanhar a situação”, concluiu.

“Do Alto Comissariado ao SEF, passando por empresas, caso da Autoeuropa, para conseguir emprego, tudo fizemos para os apoiar”, justificou. Tadeu de Freitas ressalvou que “apesar de terem deixar a instituição, as portas estão abertas para regressarem quando quiserem”, concluiu.

“O senhor Adnan é um homem idoso e doente e a nossa instância tem sido acompanhado na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, para que a sua saúde não se deteriore”, rematou

Na Delegação de Beja da CVP existem mais dois refugiados sírios, que estão a trabalhar de forma temporária no Algarve. Em abril de 2016, os quatro homens foram recebidos em Évora, pelo Presidente da República, que lhes deu as boas vindas a Portugal.

Refugiados: Dois em cada cinco deixaram o país

Pelo menos dois em cada cinco refugiados recolocados em Portugal abandonaram o país. Em 2016 e 2017, Portugal recolocou 1306 refugiados (1003 provenientes da Grécia e 303 de Itália) e 555 abandonaram o país, o que significa que pelo menos 42% dos recolocados se deslocaram para outros país, disse na terça-feira o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita.

Teixeira Correia

(jornalista)


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