Beja e Faro: Pequenos distribuidores do Sul processam dona da Sagres.


Rescisão unilateral da SCC gerou queda abrupta de receitas nos distribuidores independentes que pedem mais de cinco milhões de indemnização.

Três pequenos distribuidores independentes do Alentejo e Algarve da Sociedade Central de Cervejas (SCC) avançaram com processos contra a dona da Sagres depois da cessação unilateral do contrato que os unia à cervejeira há décadas. Segundo o site Dinheiro Vivo, uma publicação da Global Media Group, pedem em conjunto mais de 5,2 milhões de euros por prejuízos inerentes à cessação inesperada da atividade, de clientela e à sua imagem.

A Sociedade Central de Cervejas confirma o diferendo, mas não comenta: “É política da Sociedade Central de Cervejas não comentar em público as suas relações comerciais, nomeadamente quando as mesmas se encontram em instância judicial”, reage Nuno Pinto Magalhães, diretor de comunicação e relações institucionais da SCC, contactado pelo Dinheiro Vivo.

A trabalhar como distribuidor independente da Sociedade Central de Cervejas no distrito de Beja desde o final dos anos 90, Carlos Romero viu o seu negócio sofrer um duro golpe quando, em janeiro de 2017, a cervejeira o informou que a distribuição ia, a partir de maio, passar a ser assegurada pela Novadis, a distribuidora da cervejeira controlada pela Heineken. Em 95 dias perdeu um contrato que valia 65% da sua faturação. Resultado? “Despedimos 40% das pessoas [tinham 24 colaboradores] e só não despedimos mais, porque não temos capacidade financeira para o fazer”, lamenta Carlos Romero, gerente da Carlos Romero Lda. “Continuamos com a empresa, mas agora as bebidas só representam 10% do negócio. Temos outras atividades, como a de congelados”, continua. Mas longe vão os tempos em que a contabilidade tinha saldo positivo. Em 2016, o último ano completo do contrato com a cervejeira, a empresa que cobria os concelhos de Serpa, Monsarraz e Barrancos faturou 2,2 milhões de euros. “Hoje estamos com um prejuízo elevado.” No Tribunal de Beja pedem 1,313 milhões de euros de indemnização.

A mesma história de queda abrupta de receita é a de Carlos Candeias, sócio-gerente da Candeias & Filhos. Com 13 funcionários e 8 carros de distribuição colocava nos cafés e restaurantes dos concelhos de Odemira, Ourique e Almodôvar as cervejas e águas da Sociedade Central de Cervejas. O fim do contrato em março de 2017 retirou-lhe entre 70 a 80% do negócio. Faturavam cerca de 3,1 milhões. “Ainda não despedimos pessoas [temos colaboradores com 20 anos de casa], tentámos reestruturar, mas está complicado”, diz. Na Justiça pedem uma indemnização de 2,884 milhões de euros.

“Tivemos 90 dias para refazer toda uma vida”, lamenta Paulo Gonçalves, ex-diretor comercial da António Francisco Gonçalves Lda, empresa que assegurava distribuição em Olhão, Paderne e Alte. Com 90% do seu negócio dependente da dona da Sagres, analisadas as opções a decisão foi fechar a empresa familiar, indemnizar os nove trabalhadores (cerca de 60 mil euros) e vender os três carros de distribuição. Por falta de acordo num valor que consideram justo avançaram para a Justiça. No processo que deu entrada em março no Tribunal de Faro pedem 1,049 milhões de euros por perda de clientela, prejuízos inerentes à cessação de atividade e por danos causados à imagem e bom nome. “A denúncia repentina do contrato, o consequente encerramento da atividade, as consequentes perdas de postos de trabalho, as dificuldades económicas assim criadas, são dificilmente explicáveis aos ex-clientes, aos ex-colaboradores, aos bancos, tornando inevitáveis as suspeições infundadas quanto à seriedade, idoneidade e eficácia comercial do autor”, acusam no processo que deu entrada no Tribunal de Faro e ao que o Dinheiro Vivo teve acesso.

SCC reorganiza distribuição “A Sul fomos dos últimos a sair”, comenta Carlos Candeias, sobre o processo de reorganização que a Sociedade Central de Cervejas levou a cabo na sua rede de distribuição para o canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés). Os primeiros passos começaram a ser dados em 2012, altura em que o grupo dono da Luso e da Heineken comprou a Sodicel, desde 1959 uma das distribuidoras da Sociedade Central de Cervejas, e a maior da zona centro, cobrindo os distritos de Leiria, Castelo Branco, Lisboa e de Santarém.

Os 233 funcionários e todos os ativos transitaram para o grupo. Na época só a Sodicel representava 10% das vendas. Em março de 2014, a cervejeira anunciou que ia passar através da Novadis (instalações da Novadis, em Beja) a assegurar diretamente a distribuição para a restauração, pondo fim à relação de largos anos que mantinha com a Unilogos e com a Torres on Trade.

O mesmo processo de substituição foi levando a cabo em outras regiões, como Alentejo e Algarve, embora ainda mantendo relação com pequenos distribuidores. “ASCC tem atualmente 19 distribuidores independentes. A Novadis cobre cerca de 70% dos nossos clientes do mercado Horeca”, refere Nuno Pinto Magalhães.


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