Beja: Família revoltada com justiça, no caso da morte de ciclista por militar alcoolizado.
A família de Jorge Martinho, o ciclista de 52 anos, que foi atropelado mortalmente na tarde do passado dia 29 de junho, por um militar da Força Aérea Portuguesa (FAP) que saiu alcoolizado da Base Aérea (BA)11, está “indignada e revoltada com a justiça portuguesa”.
Isabel Manuel, irmã da vítima, emigrante na Alemanha há 30 anos, é voz da revolta e atira: “aqui ficava sem carta e a apodrecer na cadeia, como está o meu irmão debaixo da terra no cemitério”, justifica em lágrimas, acrescentando que “não o tendo feito de propósito, é um crime que não pode ficar impune”, remata.
Detido após o acidente, longe do local do mesmo, o primeiro-sargento, militar na BA11, ligado à Esquadra 552-“Zangões” que opera os helicópteros Aloutte III, acusou uma taxa de alcoolemia de 1,71 gramas /litro de sangue. Depois de levado ao Hospital de Beja, onde foi feita a recolha de urina, para despistar o uso de substâncias psicotrópicas, foi constituído arguido, sujeito a termo de identidade e residência (TIR) e notificado pela GNR para comparecer perante a justiça, n segunda-feira, 2 de julho.
Face à greve dos funcionários judiciais, o arguido que fora notificado para comparecer no Ministério Público (MP) de Beja, acabou por não ser ouvido, tendo o processo passado a inquérito. O individuo, residente em Faro, que arrisca ser julgado pelos crimes de homicídio por negligência e omissão de auxílio, vai continuar a aguardar o processo em liberdade, a poder conduzir sem qualquer embargo, sendo posteriormente notificado para comparecer no MP a fim de prestar as primeiras declarações.
“Como é possível um militar sair do seu local de trabalho alcoolizado? Será possível que a Força Aérea permita uma coisa destas? Será que é suspenso?”, são perguntas que a família de Jorge Martinho, quer ver respondidas.
Isabel Manuel sabe o que pretende: “não vamos dar vida ao meu irmão, mas não nos calamos. O meu sobrinho Gonçalo, fez 17 anos no dia a seguir à morte do pai, está um farrapo”, alega. Inconsolada e triste com as leis em Portugal pergunta: “será quando uma tragédia destas acontecer com um juiz, é que percebem a nossa revolta?”.
Ao LN, o chefe das relações públicas da FAP, Tenente-Coronel Manuel Costa, justificou que na BA11 “decorre um processo averiguações interno, para determinar o que se passou antes do acidente, o resto é com a justiça civil”, justificou.
Outros casos
6 de outubro 2014: Atropelamento na Avenida Salgueiro Maia, uma mulher morreu. Julgamento em fevereiro de 2017, o condutor foi absolvido.
19 de setembro de 2015: Despiste provocado por ultrapassagem de terceiro na EN122, em Mértola, um casal morreu. Julgamento em outubro de 2017. A condutora foi condenada a 2 anos e 2 meses de prisão, com pena suspensa, inibição de conduzir durante um ano e pagamento de indemnização de 30.000 euros.
29 de outubro de 2015: Atropelamento na Avenida do Brasil, em Beja, uma mulher morreu. Julgamento ainda não foi efetuado.
21de junho de 2016: Despiste provocado por ultrapassagem de terceiro no IP2, em Albernoa (Beja), um homem morreu. O condutor foi condenado a uma pena de multa de 2.400 euros e à inibição de condução durante um ano. A seguradora condenada a indemnizar a família da vítima.
Teixeira Correia
(jornalista)