Beja: Isaclino Palma, o “mestre” que trabalha o barro.


Há 33 anos que as suas mãos moldam o barro e criam figuras da vivência dos seus 91 anos. Mestre Isaac, como é conhecido, já fez mais de meio milhar de peças, e uma a uma contam as suas, amizades, as suas paixões, vividas em Beja.

Isaclino Francisco da Palma, 91 anos

Artesão, naturalidade e residência: Beja

Entre os nomes que lhe vêm à memória estão os de Manuel de Melo Garrido, jornalista bejense e dirigente desportivo (na foto), Max, uma figura simples, mas culta da cidade e o poeta algarvio António Aleixo, que conheceu nos seus tempos de moço. Todos já faleceram mas, foram imortalizados pelas mãos do mestre do barro.

Orgulha-se de ter sido um “Dragão de Olivença”, como são conhecidos todos aqueles que fizeram o serviço militar no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, unidade ainda hoje no ativo.

Sem imaginar viver uma grande paixão pelo barro, Isaclino Palma teve no futebol uma das suas fortes exaltações, tendo sido jogador, treinador, mas foi como árbitro que ainda hoje é conhecido em Beja.

Depois de muitos anos atrás do balcão do café a que deu o seu nome (Café Isaac), onde o tempo era repartido entre o clientes e os desenhos que fazia a olho nú ou a partir de fotografias, Mestre Isaac chega em 1986, à autarquia e ao barro. Ainda hoje mantém a sua ligação à autarquia, sendo também “professor” na Universidade Sénior de Beja.

“A minha paixão é divulgar a arte do barro e com ele o cante alentejano. As minhas figuras são, maioritariamente, pessoas que nasceram e cresceram na cidade”, acrescentando que procurar dar vida ou representação “a lendas e histórias, aos símbolos marianos e ao mundo alentejano”, remata.

Mestre Isaclino tem a capacidade de recrear em barro, como “lendas vivas”, a Batalha de Beja entre Gonçalo Mendes da Maia e o Rei Mouro, a Lenda do Touro e da Cobra ou a paixão de Soror Mariana Alcoforado e o capitão francês.

Em miúdo conheceu António Aleixo, que passou muitas temporadas de verão em casa do pai e a vida de trabalhador rural do poeta algarvio, é uma das que idolatra. “Como muitos outros algarvios para Beja para a ceifa. Era uma figura impar que dava gosto ouvir declamar os seus poemas. Para um homem semianalfabeto, era uma pessoa fascinante”, recorda.

Mestre Isac, já expos em Lisboa e no Porto, mas a sua grande alegria foi quando rumou ao Canadá e na Casa do Alentejo mostrou aos milhares de alentejanos que vivem em Toronto, as vivências que muitos, alguns nunca mais regressaram à sua terra, recordaram com nostalgia.

O Centro UNESCO para a salvaguarda do Património Cultural Imaterial, inaugurado em julho de 2017, recebe a exposição de Mestre Isac, denominada “Mãos que trabalham o barro”, que de três em três meses ronda os conjuntos e as figuras residentes, para que se possa conhecer melhor as temáticas e obras do artesão.

Teixeira Correia

(jornalista)


Share This Post On
468x60.jpg