Beja: Joaquim Lampreia, “O último sapateiro. Um artista dos sapatos”


Joaquim Lampreia, conhecido na sua terra natal, Cabeça Gorda, a 10 quilómetros de Beja, como “Joaquim Nó”, está à beira de completar 50 anos de carreira profissional como sapateiro.

Nome: Joaquim Jacob Lampreia, Idade: 64 anos

Profissão: Sapateiro

Naturalidade e residência: Cabeça Gorda (Beja)

Local trabalho: Beja

Começou aos 16 anos, como aprendiz do Mestre Manuel Pardal, que também era barbeiro. “Para não andar feito marau a apanhar passarinhos, a minha mãe prendeu-me na loja do mestre. Fui sapateiro e barbeiro”, recorda.

Em 1975, depois de cumprido o Serviço Militar Obrigatório, Joaquim Lampreia rumou a Beja para trabalhar e entrou para uma Cooperativa de Sapateiros, situada numa das artérias mais conhecidas de Beja, a Rua do Sembrano. Mas a idade avançada da maioria dos companheiros e o desaparecimento de alguns, levou Joaquim a mudar o rumo da vida. “Na mesma rua, estabeleci-me por conta própria”, lembra.

Todos os dias Joaquim Lampreia faz 30 quilómetros, entre Cabeça Gorda e Beja para vir trabalhar. “É mais cansativo arranjar lugar para estacionar o carro, do que vir da aldeia”, justifica.

Manufator de Calçado, é também como se apresenta e explica porquê: “manufator, é aquele que há mão, faz de raiz uns sapatos ou umas botas, e eu sei fazer qualquer um dos dois”, atira a rir.

Mas “Joaquim do Nó” tem também uma denominação para quem é um verdadeiro sapateiro. “Sapateiro todo é aquele tratar do calçado sentado. Se estiver de pé, é um “arranjador”, um habilidoso, um curioso que aprendeu a mexer no calçado”, justifica.

Mas a profissão já teve altos e agora está muito baixa, sustenta o sapateiro. “Hoje colocamos umas capas, deitamos uns remendos. Colocar meias solas, é tempo que já lá vai. Pedimos 15 euros por um arranjo e respondem: deixe que compro uns nos chineses”, conta desencantado.

Joaquim Lampreia é uma figura muito conhecida na cidade, não só pela profissão, mas porque é um individuo muito extrovertido e falador.

A loja fica numa artéria que liga o Cine Teatro Pax-Júlia ao Jardim do Bacalhau, numa das mais movimentadas, quer por pessoas quer por automóveis e há quem todos os dias passe dar dois dedos de conversa. “Tenho um amigo que muito respeito que nunca falha. O Veiga Trigo, o antigo árbitro de futebol. Excelente pessoa e bom conversador”, atira.

Mas para não estar sozinho, tem um “ajudante” o Rafael, um manequim que o Joaquim criou. Sentado numa cadeira, sapatos na mão e cigarro “nos queixos”, é a sua companhia com quem “conversa” nos momentos de solidão.

Mas “Joaquim do Nó, porquê: “foi uma velhota lá na aldeia que me chamava Jaquenol por eu ser Jacob e ficaram a pensar que era aquela alcunha. Se forem à minha aldeia e se não perguntarem pelo “Joaquim Nó” ninguém sabe quem é”, diz a rir.

Teixeira Correia

(jornalista)


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