Beja: Três meses depois do atropelamento mortal, Força Aérea ainda não concluiu inquérito.
A Força Aérea ainda não concluiu inquérito ao sargento que atropelou mortalmente ciclista. Militar acusou 1,71 de TAS. Passaram três meses e o militar continua a trabalhar e a conduzir.
Três meses depois da morte de Jorge Martinho, um ciclista de 52 anos, que foi atropelado mortalmente por uma viatura conduzida por um primeiro-sargento que saia da Base Aérea (BA) 11 alcoolizado, a Força Aérea (FAP) ainda não o inquérito interno, instaurado ao militar.
No dia 29 de junho, às 18,55 horas, Filipe Alves, ligado à Esquadra 552-“Zangões” que opera os helicópteros Aloutte III, saia da BA11 ao volante da sua carrinha BMW e por motivos não esclarecidos, atropelou o funcionário bancário que seguia de bicicleta na estrada militar que liga a unidade à cidade de Beja, via IP2.
O militar acusou uma taxa de alcoolemia, de 1,71 gramas /litro de sangue, considerado como crime, tendo sido conduzido ao Hospital de Beja, onde foi sujeito a uma recolha de urina para analisar se conduzia sob efeito de substâncias psicotrópicas.
O JN colocou ao Tenente-Coronel Manual Costa, chefe das Relações Públicas da FAP, diversas questões tendentes a perceber quais os resultados do inquérito instaurado, tendo esclarecido que: “segue os seus trâmites normais e cumpre os prazos legalmente estabelecidos, encontrando-se em fase de conclusão”, resumiu.
Quando questionado sobre o facto do militar ter saído alcoolizado do interior da BA11 e se tinha sido apurado o local onde o mesmo ingeriu as bebidas, o oficial acrescentou que além do Regulamento de Disciplina Militar a Força Aérea “possui regulamentação que estabelece regras relativas ao consumo de álcool. Cabe ao processo em curso apurar o incumprimento das mesmas”, rematou.
À questão sobre se a GNR ou Ministério Público já solicitaram informações à Força Aérea/BA11, não foram prestados quaisquer esclarecimentos.
Recorde-se que depois do atropelamento, a carrinha circulou mais de três quilómetros na estrada militar e junto ao acesso ao IP2, fez inversão de marcha para regressar à BA11, quando foi parada pela GNR.
Depois de sujeito às formalidade para testar a taxa de alcoolemia e recolha de urina, o primeiro-sargento foi identificado e notificado para comparecer no Tribunal de Beja na manhã de 2 de julho, para ser interrogado, o que veio a suceder, mas dada a greve dos trabalhadores judiciais, o processo baixou a inquérito. O militar contínua ao serviço da FAP e a conduzir a sua viatura.
No dia seguinte à morte de Jorge Martinho, o seu filho Gonçalo, viveu o drama de cumprir 17 anos, com o corpo do pai no Gabinete Médico-Legal de Beja, onde aguardava para ser autopsiado.
Família indignada
Isabel Manuel, irmã da vítima, emigrante na Alemanha há 30 anos, é voz da revolta e atira: “aqui ficava sem carta e a apodrecer na cadeia, como está o meu irmão debaixo da terra no cemitério”, justifica em lágrimas, acrescentando que “não o tendo feito de propósito, é um crime que não pode ficar impune”, remata.
“Como é possível um militar sair do seu local de trabalho alcoolizado? Será possível que a Força Aérea permita uma coisa destas? Será que é suspenso?”, são perguntas que a família de Jorge Martinho, quer ver respondidas.
Coimas e Sanções
É proibido conduzir com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 0,5 g/l.
Se a taxa de álcool no sangue for igual ou superior a 1,2 g/l, é considerado crime e punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, se a pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal. Neste caso são igualmente retirados 6 pontos.
Teixeira Correia
(jornalista)