Beja: “Zuca dos Barros”, o mestre da olaria de Beringel.
“Zuca dos Barros”, como é conhecido, o artesão que hoje é um “mestre” da olaria, foi empregado de mesa na Suíça.
Meteu as mãos no barro quando tinha 8 anos, seguindo os passos do pai.
José Mestre, “Zuca dos Barros”, 59 anos
Profissão: Artesão de olaria
Residência: Beringel (Beja)
José Mestre, é o quinto de sete irmãos, que não teve opção de escolha e aos 8 anos restou-lhe “meter as mãos no barro” para ajudar o pai e um dos irmãos, que se dedicavam ao fabrico de pratos, canecas, tachos, quando a olaria era uma indústria, manual e ancestral. Longe estavam os tempos em que trabalhar o barro se tornaria numa arte e os oleiros passavam a ser artesãos.
Beringel, a escassos 12 quilómetros de Beja, é a terra dos oleiros do Baixo Alentejo e a Família Mestre, o expoente máximo dessa atividade. Agora na vila, restam dois oleiros, José e o seu irmão António, um ano mais velho.
Durante 12 anos, debaixo da alçada do pai, Zuca, foi apreendendo muito do que sabe hoje, mas a vida militar, alterou-lhe o rumo da vida. Finda a tropa pensou seguir outro caminho, mas a falta de trabalho levou-o a rumar à Suíça. Foi empregado de mesa, mas, começou a lavar pratos: “não assentei praça como general”, lembra. A experiência helvética deixou-lhe boas recordações. “Fiz um curso de hotelaria e além do português falo mais cinco línguas, incluindo o alentejano”, graceja José Mestre.
Em julho de 1992, há 26 anos, decide volta a Portugal e à sua Beringel natal, para se estabelecer por conta própria e dar expansão ao apelido de miúdo, passando a ser conhecido pelo “Zuca dos Barros”. José Mestre e a mulher, Maria de Fátima, moldam o barro à mão, fazem as peças e depois de cozidas no forno do irmão, são por eles pintadas. A matéria-prima, uma vem da serra de Portel e o barro vermelho da Herdade da Corte Negra, no concelho de Beja, os famosos “barros de Beja”.
Há muitos anos que está, em instalações provisórias, no Mercado Municipal de Beja, onde as vendas diretas ao público já tiveram melhores dias. Mas existe uma nova e importante nicho de vendas, enfileirado pelas Câmaras Municipais, Juntas de Freguesias, coletividades desportivas e os grupos corais. “Fazemos muitas peças por encomenda para encontros de grupos, provas de BTT e outras”, justificando que as autarquias são um bom suporte. “Nos últimos meses a Câmara de Beja comprou cerca de 3.000 euros em peça de barro”, justifica.
Os potes para as azeitonas e os vasos para flores são os mais procurados, mas os ímans com pinturas dos grupos corais “são a grande moda” diz o “Zuca dos Barros”. Mas não á bela sem senão: “o iva a 23% é muito elevado. O ideal seria entre os 10 e os 12%”, remata.
O filho de 29 anos, engenheiro informático na TAP, “não quer saber de moengas”, diz, mas anda assim vai investir no futuro. “Comprei uma casa em Beringel, vou abrir uma loja, com um forno elétrico e vamos trabalhar ao vivo. Queremos aproveitar a ajuda da Junta e da Câmara e passar a ter visitas dos miúdos das escolas”, acreditando que é possível dar mais vida ao barro.
Teixeira Correia
(jornalista)