(Exclusivo) Mértola: Motards feridos graves em quedas no antigo troço ferroviário de M.S.Domingos.


Dois motards britânicos sofreram ferimentos graves, na sequência de quedas no fosso de uma antiga ponte do troço da linha ferroviária que durante muitos anos ligou as localidades de Mina de São Domingos ao porto fluvial de Pomarão, no concelho de Mértola.

Os acidentes ocorreram junto à localidade de Santana de Cambas, quando os motards rodavam nos trilhos de terra batida da antiga linha de caminho-de-ferro de via reduzida, desativada desde 1968, e ao chegarem junto à ponte não se aperceberem que esta não tinha tabuleiro, caindo no vazio, de uma altura de 6 metros.

O primeiro acidente ocorreu do passado dia 26 de setembro, tendo a vítima, um cidadão inglês com cerca de 50 anos, que viajava numa moto 4, sido transportada no helicóptero do INEM para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em estado considerado como muito grave.

No passado dia 12 aconteceu o segundo acidente, tendo desta feita a vítima sido John Shepherd, um cidadão escocês, de 61anos, que sofreu ferimentos nos membros inferiores. Transportado para o Hospital de Beja, pelos bombeiros de Mértola, foi sujeito a uma cirurgia, num dos membros inferiores, não correndo perigo de vida.

O trilho da antiga linha mineira, com cerca de 15 quilómetros de extensão, é conhecido entre os praticantes de raids motorizados (motas e automóveis) e de BTT, como a “Rota do Minério”, surgindo em diversos sites e livros de estrada (road books) da especialidade.

Se os praticantes locais sabem que das 26 pontes do troço, muitas já não têm tabuleiros, o mesmo não é do conhecimento dos cidadãos estrangeiros. Na cama do Hospital de Beja, John Shepherd afirmou ao Lidador Noticias (LN), que “fazia um passeio com mais dois amigos desde Bragança para Tavira, utilizando o road book. Vinha na frente do grupo e de repente caí no vazio. Não morri por mero acaso”, justificou.

Após o segundo acidente, um cidadão ligado ao mundo das motas, colocou umas paletas em madeira a bloquear o acesso à ponte nos dois sentidos, a fim de evitar novos acidentes.

A infraestrutura está integrada numa propriedade com cerca de 2.000 hectares, propriedade da empresa La Sabina-Sociedade Mineira e Turística, SA, uma sociedade anónima de origem espanhola, proprietária do complexo mineiro de Mina de São Domingos.

Em 2011 a Câmara de Mértola elaborou dois projetos, um para a construção de uma Ecopista (333 mil euros) na faixa de terreno onde se encontra o antigo caminho-de-ferro e outro para a requalificação da zona ribeirinha do Pomarão (360 mil euros), no valor de 693 mil euros, ambas com financiamento do Interreg na ordem dos 85%.

Legítima proprietária do prédio rústico das áreas em causa, a La Sabina, que só tinha que ceder os espaços em direito de superfície por 30 anos, na hora de assinar os contratos recusou e os projetos ficaram sem efeito.

Para atalhar caminho para Mina de São Domingos, as populações de Santana de Cambas e Sapos utilizam os caminhos de terra batida, pela Achada do Gamo, percorrem 6 quilómetros, enquanto que se utilizarem a estrada nacional andam o dobro.

Ouvido pelo LN, Helmefried Horster, administrador da empresa justificou que “temos muitos caminhos e é impossível vedar tudo”, acusando a Câmara de Mértola de ter “colocado placas de sinalização” para a Mina de São Domingos e Pomarão “o que deixa referencia que pode ser utilizada”, rematou.

Quando questionado sobre as razões que levaram a não assinaram os contratos para a cedência dos espaços para o projeto da autarquia, o administrador justificou que “não me recordo da ideia. Houve da nossa parte uma hesitação e a câmara nunca mais avançou”, concluiu.

Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola, desmente o administrador e afirma que “tudo o que tem sido no espaço da propriedade feito foi com autorização da La Sabina”, acrescentando que “tudo fizemos para criar uma verdadeira via para veículos, mas não houve recetividade da empresa”, concluiu.

Quanto à implementação dos projetos da Ecopista e da requalificação do Pomarão, o autarca revelou que “estavam na expetativa de compra de toda a propriedade e não aderiram aos projetos. Deixámos cair as candidaturas”, rematou.

Jorge Rosa garante que “no primeiro acidente mandamos uma comunicação a responsabilizar a La Sabina e ficaram preocupados. Apos o segundo acidente exigimos à Proteção Civil para que a situação fosse alterada, o que levou a empresa a mudar a sua postura”, disse.

O LN apurou que, para analisar a situação e tomar medidas, vai realizar-se uma reunião onde estarão presentes representantes da Câmara Municipal, Bombeiros e GNR de Mértola, da La Sabina, da Proteção Civil Municipal e Distrital.

Teixeira Correia

(jornalista)


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