Após quase meio século de entrega à causa dos bombeiros, 30 anos dos quais como comandante do Corpo de Bombeiros de Ferreira do Alentejo, António Gomes, pede amanhã a passagem ao Quadro de Honra.
O operacional recebeu o Crachá de Cidadania e Mérito da Liga Portuguesa de Bombeiros (LPB) e entendeu ser chegada a hora de dar o lugar aos mais novos, mas sempre disponível para partilhar experiências e aconselhar no que for necessário. Na sua longa carreira constam louvores de várias instituições, todas as medalhas da LPB e o Crachá de Ouro da mesma instituição.
Na hora da despedida António Gomes, de 61 anos, recordou um conselho do falecido pai que lhe disse: “sai enquanto fores desejado, porque passado esse tempo, saíras sem saudades e pela porta pequena”. Ao Lidador Notícias (LN), confidenciou que “vou continuar a colaborar”, a nível distrital com a Federação de Bombeiros e a nível nacional com a Liga “no incentivo ao voluntariado”, esperando poder contribuir “para a melhoria das regalias dos bombeiros portugueses.
Depois de três operações à coluna António Gomes sentindo que não tinha condições físicas nem psíquicas, entendeu que tinha chegado o seu momento: “enquanto fui bombeiro, enquanto pude ser o primeiro nunca fui o último, e agora era um enorme martírio. Ficar a ver os meus bombeiros, aqueles que eu formei e ensinei tudo, saírem para as várias ocorrências e eu não poder estar ao lado deles a acompanhá-los na luta contra o fogo, no concelho, no distrito e em todo o país, nos acidentes a aconselhá-los e eu próprio a socorrer, nas várias ocorrências em que corríamos risco de vida, a dar-lhes o animo necessário”, diz com sentimento e uma lágrima ao canto do olho.
Do muito que tem para relatar das vivências de quase 50 anos de bombeiro diz que “uma página diária durante um ano no Lidador Notícias não chegava para contar o que vivi e senti”, diz.
“Vi chamas fantasmagóricas passarem por dentro de aldeias deixando rastos de destruição e de horrores…”, sintetiza António Gomes, que destaca o mais positivo e negativo da carreira: “pela positiva foi ter reanimado uma bebé que se afogou e esteve em paragem mais de 20 minutos, depois de um médico dizer que a criança estava morta e não havia nada a fazer, entrei com ela a chorar no hospital de Beja e eu também. Pela negativa as cheias do Carregueiro (Aljustrel) e os incêndios de Pedrogão”, conta emocionado.
Consigo trabalharam e ascenderam na carreira, o segundo comandante João Matias e o adjunto de comando Marco Custódio, mas apesar da última palavra ser da direção dos Bombeiros Voluntários, o comandante defende que “o meu lugar deve ser ocupado pelo João e o Marco passar a segundo comandante. São dois excelentes profissionais e operacionais”, remata.
“Ao virar da esquina”, ou seja, apôs a passagem à reforma e ao Quadro de Honra, tem tempo de dar a toda a família aquilo que sempre deu à “sua segunda casa”, os bombeiros. Na hora da saída António Gomes é um homem agradecido: “agradeço todo o apoio e colaboração que sempre me destes (Teixeira Correia/ Lidador Notícias)”.
Teixeira Correia
(jornalista)