LOCALIZAR IDOSOS DESAPARECIDOS


Na semana passada o JN no artigo com o titulo “Mais de 100 idosos desaparecidos nunca foram localizados”, de 16 de julho de 2024, deu a conhecer que “Só na área da PSP houve 1446 alertas para casos de desaparecidos que envolvem pessoas com 65 anos ou mais. GNR não tem números compilados”, verificando-se que passada quase uma década as Forças de Segurança (FS) continuam sem saber quantos idosos desparecem e quantos são encontrados e em que condições.

Rogério Copeto

Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Já em novembro de 2015 o JN, sobre o desaparecimento de idosos, referia que o “Trabalho do JN apontou falhas” e “Não se sabe quantos morrem”, cujos artigos com os títulos “Desapareceram 750 idosos nos últimos três anos”, de 22 de novembro e “Desaparecem 3500 pessoas todos os anos em Portugal” de 23 de novembro, da autoria do jornalista Nelson Morais, que solicitou dados às autoridades policiais e judiciais, e ouviu diversos especialistas no assunto, concluiu, há quase dez anos atrás, que nem tudo estava bem no que diz respeito ao registo de idosos desaparecidos e à sua localização.

Sobre este assunto, já tive a oportunidade de escrever por várias vezes, bem como colaborado na redação de artigos, sobre o tema, como é exemplo o artigo “Desaparecem mais de 150 idosos por ano e só 74 % são salvos” (sem link disponível), da autoria do jornalista Alfredo Teixeira e que foi publicado na edição de 2 de julho de 2012 do Diário de Notícias.

Nesse artigo eram analisados os registos da GNR, sobre o fenómeno dos idosos desaparecidos entre 2007 e 2011, sendo referido que o ano de 2011 foi o que registou um maior número de idosos desaparecidos, registando-se 211, tendo como principais causas os problemas de saúde e, sobretudo, a doença de Alzheimer que potencia o aumento destes casos.

Nos cinco anos analisados foram registados o desaparecimento de 771 idosos, uma média de 154 por ano, verificando-se nessa altura, que o número de pessoas desaparecidas com mais de 65 anos representava já 10 % do total das situações contabilizadas pela GNR.

Dos 771 idosos desaparecidos, 5% foi por fuga dos locais onde se encontravam, quase sempre devido a serem vítimas de maus-tratos, 54% foi por se terem perdido e 41% por outros motivos, onde se incluem as tentativas de suicídio, estando os idosos desaparecidos por 22 horas, em média, sendo que 74% são encontrados vivos, 20% encontrados mortos e 6% desconhece-se o paradeiro, tendo a GNR empenhado nas operações de busca uma média de seis militares de diferentes valências.

O artigo referia ainda que é no interior do país, onde o fenómeno tem mais expressão, existindo um maior número de desaparecimentos, por motivo de existir um maior número de idosos mais vulneráveis, por se encontrarem isolados ou a viver sozinhos, a maioria com problemas de saúde, sem família e com dificuldades económicas, muitos deles encontrando-se deslocados dos locais onde nasceram ou viveram, porque com o avançar da idade, foram levados para junto da família ou institucionalizados, potenciando os desaparecimentos, por desconhecimento desses novos locais e por isso, perdem-se facilmente por falta de sentido de orientação.

No ano seguinte em 2013, novamente o DN publicou na sua edição de 28 de dezembro um artigo com o título “170 idosos foram dados como desaparecidos nos últimos 12 meses” (sem link disponível), da autoria da jornalista Rute Coelho, que se reportava também a dados da GNR referentes a esse ano e onde o porta-voz da GNR referia na altura que “a Guarda assume estes desaparecimentos como prioritários e tenta localizar as pessoas no mais curto espaço de tempo e na busca por um idoso desaparecido são empregues todos os meios ao dispor da GNR: meios cinotécnicos (equipas homem/cão), a cavalo, do Grupo de Intervenção, Proteção e Socorro, do Serviço da Proteção da Natureza e do Ambiente e patrulhas dos Postos Territoriais.

Este artigo dava ainda destaque à Operação Censos Sénior de 2013, onde foram sinalizados 28.197 idosos a viverem sozinhos ou em situação de isolamento, verificando-se um aumento de 12.601 novos casos, relativamente à 1ª edição da Operação Censos Sénior realizada em 2011, cuja operação é realizada todos os anos, tendo como objetivo identificar situações de potencial risco, na área de responsabilidade da GNR, sendo os idosos que se encontram em perigo, sinalizados às autoridades competentes, que na última Operação Censos Sénior de 2023, realizada em outubro, foram identificados 44.114 idosos.

Conforme referi, muito recentemente tive a oportunidade, por duas vezes, de abordar o assunto das pessoas desaparecidas aqui no LN, no artigo “A atuação das Forças de Segurança no desaparecimento de pessoas” de 5 de julho de 2023 e já este ano no artigo “Pessoas desaparecidas e o mito das ‘24 horas’” de 22 de maio, tendo no  primeiro artigo dado a conhecer quais os procedimentos que as FS, desenvolvem na localização de uma pessoa desaparecida e no segundo que não é verdade que as autoridades policiais tenham de esperar 24 horas para iniciar as buscas por uma pessoa desaparecida, independentemente da idade.

Relembramos por isso, que para localizar pessoas desaparecidas, as FS começam logo após a participação do desaparecimento, com a divulgação do mesmo a todas as Forças e Serviços de Segurança, iniciando-se imediatamente a operação de busca, através da recolha das informações necessárias para se determinar qual a rotina habitual da pessoa desaparecida e quais as suas deslocações normais, sendo após essa avaliação, estabelecido um perímetro de atuação, maior ou menor, de acordo com o tempo de desaparecimento.

É também solicitada a colaboração das corporações de bombeiros locais e da população, para sob as ordens do Comandante territorialmente competente serem constituídas equipas de busca, reforçadas pelos binómios cinotécnicos, que são obrigatoriamente usados nas buscas.

As FS na localização de pessoas desaparecidas, podem recorrer á localização celular do telemóvel, que esteja na posse da pessoa desaparecida, recurso que em muito tem ajudado a encontrar uma grande maioria dos desaparecidos.

E para prevenir os desaparecimentos de idosos é necessário ter alguns cuidados, especialmente quem tem idosos à sua responsabilidade, pelo que logo que seja conhecido o desaparecimento, deve-se informar as FS o mais rapidamente possível, bem como se um idoso é visto na rua com sinais de desorientação. Os familiares de idosos devem ter atenção redobrada nas fases de transição, por exemplo quando o idoso muda de morada ou é institucionalizado e no caso de idosos com algum tipo de demência, utilizar uma pulseira ou um colar de identificação, com um número de telefone para contato, podendo-se também optar por um dispositivo de localização GPS, e nunca sair para a rua sem identificação, aconselhando-se a inscrição no “Programa Rumo Seguro”, uma pareceria da “Alzheimer Portugal” com a GNR ou no “Programa Estou Aqui Adultos” da PSP.

Terminamos sugerindo às FS que mantenham registos atualizados de todos os idosos desaparecidos, devendo todas as ocorrências serem encerradas, após a sua localização, para que dessa forma passem a existir os dados necessários sobre o desaparecimento de idosos, para melhor conhecer o fenómeno e melhor promover a sua prevenção.

Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.


Share This Post On
468x60.jpg