Mértola: Amândio, o homem dos gelados Nicolau “com brinde na ponta do pau”.
“Gelado Nicolau tem o brinde na ponta do pau”, é assim que Amândio Pacheco Correia, apregoa há mais de meio século os gelados de fabrico próprio, cuja arte herdou do seu pai João Nicolau.
O calor aperta e pelas ruas de Mértola, lá o Amândio com o seu carrinho a vender os sorvetes e os Gelados Nicolau que ele próprio fabrica. “Ir a Mértola e não comer um sorvete ou um gelado Nicolau, é como ir a Roma e não ver o Papa”. Não há feira ou romaria no distrito de Beja e na zona serrana do concelho algarvio de Alcoutim, onde Amândio não seja visto, mas por este nome pouca gente o conhece, para todos é o “Nicolau dos gelados”.
Desde 1955 que Mértola viu nascer a fábrica, que outrora trabalhava com gelo “importado” de Vila Real de Santo António e que chegava à vila nas camionetas da carreira.
Sandes de baunilha, bolas de chocolate ou morango e gelados de pau, tudo artesanal, fazem parte do cardápio do Nicolau, de que ele e a mulher guardam o segredo.
Entre Abril e Setembro, empurrando o carrinho de mão Amândio calcorreia as ruas de Mértola vezes sem conta em busca dos muitos visitantes, que cruzam a vila de e para o Algarve. “Tenho dias de fazer mais de dez quilómetros e cantar mais de mil pregões. Está na massa do sangue”, diz sorridente.
Nas feiras de terra batida e nas touradas, de maleta ao ombro lá anda o Nicolau sempre atencioso: “Ó freguês, frutoescolate” atira à boa maneira alentejana. A sorrir lembrar a pergunta que muitos clientes lhe fazem: “Amândio qual é o brinde do gelado este ano”, e sem esperar atira: “está na ponta do pau”, recordando que é um slogan de muitas décadas.
Das muitas histórias que tem para contar Amândio recorda uma noite de muito calor no cais da vila durante as Festas do Concelho, quando uma senhora lhe disse com subtileza: “vir a Mértola e não comer um Nicolau gelado é um desperdício”, lembrando que foi um trocadilho que o deixou algo encavacado perante as muitas clientes que aguardavam ser atendidas.
A fama de Amândio Correia, passa as feiras e as romarias e sabedora da adoração que as crianças têm pelo Nicolau e os seus gelados, todos os anos a autarquia de Mértola leva-o à “Oficina da criança”, para contar a sua história de vida.
Mas porque os dias não são só calor, entre Outubro e Dezembro volta às ruas da vila, mas agora, para aquecer os corações frios dos mertolenses, vendendo castanhas. Aqui o pregão não tem tanta pujança como nos gelados, mas, a fama é igual porque a alcunha do pai era o “João das Castanhas”.
O primeiro trimestre de cada ano, é destinado à manutenção, limpeza e pintura do material da gelataria e preparar o carrinho de mão para mais seis meses de venda de gelados. “Como me considero? Um trabalhador honesto, que adora o que faz. Figura pública? Não, poderei ser uma imagem de marca da vila”, diz orgulho Amândio.
Mas, cromo que é cromo e é conhecido, tem que ir aos programas de entretenimento da televisão e Nicolau já esteve na RTP e SIC. Ainda não perdeu a esperança de ir à TVI, para oferecer gelados à dupla Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira e conseguir que “fizessem o pregão” dos gelados Nicolau.
Teixeira Correia
(jornalista)
