Mértola: Seca severa obriga autarquia ao abastecimento diário de populações.


O ritual diário de Francisco Costa, motorista da Câmara de Mértola, nos últimos dois meses tem sido sempre o mesmo, por causa da seca que afeta o concelho.

MÉRTOLA- Água_800x800Encher o depósito do camião, despejar os 8.000 litros de água no reservatório de abastecimento público do monte do Ledo, voltar a encher e rumar à Bicada e cumprir a mesma tarefa. Às 10,00 horas da manhã, estas duas localidades com cerca de 100 habitantes, as que mais sofrem com o flagelo da falta de água, estão abastecidas.

Com as férias de Verão, muitos são os “filhos da terra” que regressam, e a população residente cresce cerca de 50%.

“Há três anos que a terra não é fustigada pela chuva e as linhas de água estão secas”, revela ao JN, Francisco Costa. Ao chegar aos lugares de abastecimento, a sua presença é notada, pelo trabalhar do motor que retira a água do depósito do camião, para a cisterna de abastecimento público.

Almerinda Estevão, residente em Mem Martins, Sintra, é um dos casos de retorno à Bicada, monte a 8 quilómetros de Mértola, e a falta de água “causa transtorno, mas a ajuda da câmara resolve o problema”, justifica.

Maria Antónia Paulino, 75 anos, residente no pequeno aglomerado, diz que “para precaver algum contratempo, tenho sempre meia dúzia de garrafões sempre cheios”, justificando que com a chegada dos casais em férias “as coisas complicam-se, mas a ajuda de autarquia, resolve o assunto”, remata.

Francisco José, antigo imigrante na Suíça, regressou à Bicada há 35 anos e aí montou o único café do monte. “Sem pressão na torneira, desligo a máquina do café e tenho que recorrer à de cápsulas”, revela. Conhecedor da região o empresário defende que “falta uma grande barragem entre Mértola e o Algarve. Construída na ribeira do Vascão, tínhamos o problema da margem direita do rio Guadiana resolvido”, remata.

Mértola é abastecida por um adutor que liga a vila à barragem do Enxoé, no concelho de Serpa, e é aí que a autarquia abastece o autotanque, cujo camião, tem dias que anda mais de 250 quilómetros.

Como o problema tende a agravar-se a edilidade da “Vila Museu” vai investir cerca de 50 mil euros na aquisição de um novo autotanque.

Apesar de não ser uma competência da edilidade, a Jorge Rosa, presidente da Câmara, vão chegando os “lamentos e pedidos de ajuda dos criadores de bovinos e ovinos”, cujas charcas e barragens estão no limite.

O edil sustenta que o Governo deveria decertar “seca extrema na região”, por forma a existirem apoios e minimizar os custos com os abastecimentos.

Jorge Rosa (presidente da Câmara Municipal de Mértola)

“É um problema recorrente em anos de seca, na margem direita do concelho. As roturas na rede, por ser muito antiga é outro drama. Só as obras das AgdP-Águas Públicas do Alentejo, previstas para o início de 2017, podem resolver o problema. Os furos artesianos estão quase secos e a alternativa é o transporte de água. Quanto custa ? No final fazemos contas, importa é não faltar a água. O grande erro estratégico aconteceu há 40 anos, por não se ter defendido a construção de 2/3 barragens no concelho. Hoje não tínhamos problemas”.

Teixeira Correia

(jornalista)


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