Mineiro Aljustrelense: Um clube, que transporta a mística, da mina, da vila e do concelho.
Com a chegada de Vítor Rodrigues como treinador, o clube conseguiu 18 vitórias em 18 jogos, o que levou o Mineiro ao primeiro lugar e ao título de campeão distrital. O emblema da “Vila Mineira” conseguiu um feiro inédito. Ao título juntou as vitórias na Taça e Supertaça. (Artigo publicado hoje no suplemento Ataque do Jornal de Notícias).
Finda a temporada, que já foi baptizada como a “Época de Ouro” do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, o “embrulho final” nada tem a ver com o quadro que se vivia no início de 2016. A fraca prestação da equipa levou a direcção a recorrer à fórmula mais fácil e mais tradicional: mudar de treinador. E a estratégia resultou. Dezoito jogos, dezoito vitórias, nas três competições, Campeonato, Taça e Supertaça, em que a equipa participava e ganhou na Associação de Futebol de Beja (AFBeja).
Quando a 12 de janeiro, Vítor Rodrigues, regressou ao comando técnico da equipa sénior, o cenário no clube era dramático e muito longe de poder ser alcançado o único objectivo de dirigentes e sócios para a temporada: o regresso ao Campeonato Nacional de Seniores.
No final da primeira volta do Distrital de Beja, o Mineiro era 3º a 5 pontos do líder Praia de Milfontes. No final, o clube de Aljustrel sagrou-se Campeão, com 6 pontos se avanço sobre o seu principal adversário.
De moribunda, desligada, perdida e desrespeitada pelos adversários, a equipa tricolor da “Vila Mineira” transfigurou-se e passou a ser um grupo unido, aguerrido e ganhador, fazendo justo ao hino dos mineiros quando diz: “eu trago a camisa rota e sangue de um camarada”. A história de Aljustrel e do seu clube confundem-se com a história da mina e dos trabalhadores mineiros.
Aos 35 anos, mais novos do que alguns dos mais carismáticos jogadores, Vítor Rodrigues, vive a sua maior conquista como treinador ao alcançar o tri e colocar o clube no Campeonato Nacional de Seniores.
Dois anos depois a história voltou a rescrever-se. A 23 de janeiro de 2013 o treinador chegou ao Mineiro, foi Campeão e ganhou a Supertaça. Na época seguinte, na competição federativa, duas derrotas levaram-no a deixar o lugar. Seguiu-se o comando técnico da Seleção do Distrito, ao serviço da AFBeja, mas o seu profundo conhecimento de equipas e jogadores da região, levaram os homens de Aljustrel a contratar o jovem treinador.
“Conhecia o grupo e fiz-lhes ver como tinhas triunfado há dois anos. Foi preponderante unir o grupo, ganhar os primeiros jogos e redefinir objetivos”, justificou Vítor Rodrigues. Professor de profissão, o treinador vai continuar no cargo para a próxima época e o Nacional de Seniores vai ser encarado com outra perspetiva. “Conheço melhor a competição, o grupo é mais experiente e esperamos cumprir o objetivo que passa pela manutenção”, sustentou.
Carlos Estebainha, “filho de Aljustrel”, é o jogador que há mais anos veste a camisola tricolor do Mineiro. A par de Nelson Raposo, ambos capitães de equipa, é o exemplo vivo do jogador/trabalhador mineiro. Depois de 10 anos à superfície, Estebainha é há 3 anos trabalhador de fundo, nas minas de Neves-Corvo (Castro Verde). “Há dias em que vou do treino para a mina. E esta temporada tive vários jogos em que terminava o turno, comia uma sande, vestia o equipamento e entrava em campo”, revela feliz o esquerdino, lembrando que aos longo dos 83 anos de história sempre houve este tipo de vivência no clube, o futebol e a mina.
Entre o plantel sénior, os escalões de formação e a logística, o Mineiro Aljustrel, tem um orçamento de 100 mil euros por época, já que o Hóquei em Patins e a Patinagem Artística são secções autónomas.
Os subsídios e contratos-programa com a Câmara de Aljustrel valem entre 30 a 35% do orçamento, “sem isso era impossível manter a estrutura do clube”, revelou António Gonçalves, o presidente da Direcção do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, que justifica que “há grande rigor nos gastos, para não criar buracos financeiros”, rematou.
Em tempos o clube foi proprietário da Praça de Touros e do Cine Teatro Oriental, mas uma permuta com a autarquia levou a que se tornasse proprietário de dois apartamentos, com 8 quartos, que suportam a vinda de jogadores forasteiros.
“É o limite e torna-nos mais competitivos”, diz de forma realista, o dirigente, que ressalva a oferta das refeições por parte dos restaurantes da vila. Com uma massa associativa muito colaborante, a quotização vale cerca de 25/30 mil euros por ano “uma receita muito importante” remata.
O lançamento de uma caderneta de cromos de todos os atletas do clube, tem gerado uma importante receita extra. A caderneta custa 5 euros e cada cadeira de cromos 50 cêntimos e os cinco primeiros coleccionadores a completarem a caderneta, vão receber adereços do clube, camisola oficial, pólo, cachecol, caneca e porta-chaves.
Das fotos ao empacotamento, todo o trabalho foi feito pelos dirigentes, com um único objectivo: “a receita vai servir para a aquisição de equipamentos para a enfermaria do estádio”, revelou António Gonçalves.
O presidente do Mineiro é crítico para com a nova formula de disputa do Campeonato Nacional de Seniores, em que os clubes passam à segunda fase com 75% dos pontos. “Isto altera tudo. Ou investimos no início da temporada ou esperamos por janeiro. Beneficias as equipas de Lisboa e Setúbal”, acusa António Gonçalves.
Bilhete de Identidade
Passe curto
Fundação: 25/ 05/ 1933
Local de jogos: Estádio Municipal
Sócios: 860
Equipamento: camisola listada azul, vermelha e branca, calções azuis e meias vermelhas
Palmarés: Campeão Nacional da 3ª Divisão (2007/2008), Campeão Distrital da 1ª Divisão (1948/1949, 53/54, hexacampeão entre 59/60, 64/65, 71/72, 75/76, 83/84, 89/90, 98/99, 2003/04, 06/07, 2013/14 e 2015/16), Taça Distrito da associação de Futebol de Beja (2015/16) e Supertaça da Associação de Futebol de Beja (2013/14 e 5/16)
Temporada de ouro: 2015/16-Campeonato, Taça e Supertaça
Passe longo
O clube deve o nome e o emblema há existência da mina em Aljustrel, que então explorava o zinco, e o plantel sempre teve jogadores/mineiros. Do antigo e pelado Campo das Minas, o clube passou para o Estádio Municipal, dotado de um relvado sintético. Além da equipa de seniores, na formação o clube tem 160 atletas federados e mais 30 não federados, dos 3 aos 16 anos. Esta temporada a exceção é a categoria de juniores.
A Orica, fabricante de explosivos, localizada em Aljustrel, patrocinadora da equipa de ciclismo do World Tour Orica/GreenEdge, é o sponsor do Mineiro.
Plantel
Guarda-redes: Fábio Reis, Miguel Cruz e Igor Palma
Defesas: Paulo Serrão, Nuno Alves, Marcos Santos, Rui Pirralho, Ruben Soares e Paulo Maurício
Médios: Carlos Estebainha, Nelson Raposo, Nuno Martins, João Nabor Bruno Conduto, Edgar Severino, Rodrigo Lemos, Fábio Monteiro e Nuno Carracha
Avançados: João Pepe, Alexis Palma, Cesaltino, Tidjane Indjai “Có” e João Gonçalves “Pazinho”.
Equipa técnica: Vitor Rodrigues (Treinador), Duarte Patrício (Treinador-adjunto) e António Zacarias (Treinador de guarda-redes)
Mineiro Aljustrelense: A figura
Carlos Estebainha, 37 anos, é um dos capitães da equipa e é o exemplo do jogador/ mineiro. Começou com 10 anos no Mineiro, percorreu todos os escalões de formação até chegar aos seniores. Pelo caminho defendeu durante oito temporadas os emblemas do Desportivo de Beja, e em 2002/2003 o do União da Madeira, onde foi Campeão Nacional da 2ª Divisão-B. De regresso a Aljustrel, com a inauguração do Estádio Municipal, Estebainha consegue em 20072008, o título de Campeão Nacional da 3ª Divisão. “Foi o melhor momento da minha vida. O Mineiro é a minha segunda casa. Filho da terra e capitão de equipa, transmito a mística do clube aos que vão chegando”.
Teixeira Correia
(jornalista)
Foto: ANDRÉ VIDIGAL-GLOBAL IMAGENS