Assinala-se hoje dia 31 de janeiro o “Dia Nacional do Sargento”, que teve origem na revolta republicana na cidade do Porto que ocorreu no dia 31 de janeiro de 1891, evento que foi o percursor da implantação da República e a primeira expressão revolucionária do movimento republicano que sairia vitorioso 19 anos mais tarde, em 5 de outubro de 1910.
Coronel da GNR
Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Esta revolta foi realizada por Sargentos e Cabos e enquadrada e apoiada pelo povo anónimo das ruas e foi hostilizada ou minimizada pelos Oficiais, de onde resultaram 22 condenados em Conselho de Guerra, dos quais 14 Sargentos, pelo que neste dia pretende-se enaltecer o papel dos Sargentos e os serviços por estes prestados a Portugal, sendo o presente artigo uma modesta forma de exaltar todos os Sargentos que cumprem ou cumpriram serviço nas Forças Armadas (FA) ou na Guarda Nacional Republicana (GNR).
Os Sargentos que pertencem aos ramos da FA ou à GNR realizam atividades fundamentais, sendo essenciais para a eficiência e eficácia das operações, sejam elas militares ou policiais, desempenhando um papel crucial de ligação entre os Oficiais e aqueles que se encontram na base da pirâmide hierárquica, sendo a sua importância indiscutível, pois são peças-chave no cumprimento da missão de qualquer uma das instituições referidas.
De uma forma geral os Sargentos desempenham diversas funções dentro das suas instituições, nomeadamente de liderança de grupos menor ou maior dimensão, consoante a missão a cumprir, supervisionando o cumprimento das tarefas atribuídas, garantindo a execução eficiente das mesmas, quer seja em áreas operacionais, de apoio ou de formação, onde contribuem para o enquadramento dos efetivos, compartilhando os conhecimentos necessários para o desempenho das suas atividades.
Em qualquer uma destas áreas os Sargentos são chamados a participar ativamente na tomada de decisões operacionais, fornecendo valiosos contributos baseados na sua experiência e conhecimento prático, tendo em conta que os Sargentos possuem vasta experiência profissional, adquirida em cumprimento de diversas tarefas em diferentes áreas, durante bastante tempo.
No entanto para partilha dessa importante experiência, os Sargentos precisam se sentir confortáveis em oferecer os seus contributos, para solução dos problemas que surgem, pelo que os Oficiais deverão promover essa partilha através do reconhecimento constante do papel que os Sargentos têm nas instituições militares.
Durante a minha carreira militar de mais de 30 anos, tive o privilégio de trabalhar diretamente com dezenas de Sargentos, com os quais tentei manter sempre relações profissionais e pessoais profícuas, cujos primeiros foram os Sargentos Fuzileiros, com quem comecei a aprender como ser um Comandante e a quem estou agradecido para sempre.
Depois dos Fuzileiros ingressei na GNR onde encontrei Sargentos de elevado valor e possuidores de grandes qualidades profissionais e pessoais, com quem também aprendi e aprendo a ser um melhor Oficial, em particular os Sargentos que tive a honra de Comandar enquanto Comandante de Destacamento Territorial, pelo que as seguintes linhas serão sobre estes homens e mulheres, que desempenham as funções de Comandante de Posto Territorial da GNR.
Um Sargento Comandante de Posto tem a responsabilidade de liderar um determinado número de Militares da GNR, com a missão de garantir a segurança de pessoas e bens numa determinada área geográfica do Território Nacional, onde não raras vezes é chamado a representar a GNR em diferentes vertentes, nomeadamente nos diferentes conselhos e comissões que existem ao nível concelhio.
O Sargento Comandante de Posto tem de possuir um vasto conhecimento em todas as áreas da missão da GNR, desde ordem pública e uso da força, passando pelas honras de estado e de protocolo, relações públicas, fiscal e aduaneiro, estrangeiros, segurança privada, armas e explosivos, investigação criminal, segurança a eventos, prevenção criminal, policiamento de proximidade, direitos humanos, detenções, buscas, revistas, trânsito, proteção da natureza e do ambiente, proteção de crianças e jovens em perigo, tráfico de estupefacientes, etc.
O Sargento Comandante de Posto desempenha as suas funções quase sempre longe do seu local de residência, numa altura da sua vida em que pensa constituir família ou acabou de a constituir, e por isso os filhos estão para chegar ou são de tenra idade, pelo que o exercício da parentalidade fica muitos vezes para segundo plano, porque nem sempre é possível compatibilizar o serviço com o apoio à família, adiando-se assim a vontade de constituir família, sobrepondo-se o profissionalismo e o gosto pela profissão.
E quando já existe família constituída, o serviço está sempre em primeiro, porque é mais importante acompanhar os seus Militares, do que o crescimento dos filhos, não sabendo inclusive quando regressa a casa, sempre que sai em serviço.
Mas mesmo quando volta a casa é sempre por pouco tempo, porque o serviço não se interrompe, as ocorrências sucedem-se e os militares necessitam do apoio do Sargento Comandante de Posto, porque sem ele, a missão é muito mais difícil de cumprir.
Tudo isto porque o Sargento Comandante de Posto jurou garantir a segurança a pessoas e bens, durante as 24 horas do dia, 365 dias por ano, faça chuva ou faça sol, nos dias, horas e condições em que o vulgar cidadão se recolhe no aconchego familiar, tendo como única recompensa o reconhecimento da população que serve e a consciência que desenvolve uma profissão essencial num estado de direito democrático, onde sem segurança, não pode existir liberdade.
Resumindo, o Sargento Comandante de Posto desempenha um papel crucial como supervisor de primeira linha, sendo a peça chave na eficácia operacional e na manutenção da ordem pública na sua Zona de Ação, liderando e motivando os seus subordinados na execução eficiente do serviço diário, promovendo a segurança da população que serve, onde as suas competências em tomar decisões rápidas e coordenar recursos é vital para enfrentar todos os desafios, contribuindo diretamente para a prevenção da criminalidade e na resposta efetiva a ocorrências de diferente natureza, fortalecendo a confiança pública.
Mas apesar de considerar que a função de Comandante de Posto é uma das mais exigentes funções que um Sargento pode desempenhar ao serviço de Portugal, o principal papel de qualquer Sargento é ser um elo de ligação entre os superiores e os inferiores hierárquicos, sendo fundamental para o bom funcionamento e coesão de qualquer Unidade, onde a sua posição estratégica permite que sejam transmitidas as diretrizes e expectativas dos Comandantes de Unidade de maneira acessível aos seus Militares, facilitando a compreensão e implementação eficiente das ordens, desempenhando ainda um papel crucial na transmissão de feedback e na comunicação bidirecional, agindo como representante dos interesses e preocupações dos seus subordinados perante os seus superiores, cuja capacidade de traduzir as necessidades da base para a liderança contribui para um ambiente de trabalho mais colaborativo e eficaz, promovendo a coesão e a efetividade operacional dentro da sua Unidade.