Odivelas (Fª do Alentejo): Árvores “vestidas” de rendas … A culpa é do vagar !!!
A culpa é do vagar …
Quem vem pela Nacional 2 no troço que liga Ferreira do Alentejo a Odivelas, ao chegar a esta última localidade, depara-se com uma nova espécie de arvoredo, as árvores estão vestidas!!!
Entro num café ali à beira da estrada e peço uma sande de presunto (porco preto claro, estamos no Alentejo) e uma Mini e pergunto, em jeito de afirmação à moça do balcão. – Então agora vestem as árvores?
Ela ri-se e diz com o ar mais natural do mundo!! Sim, e lá na aldeia há muitas mais …
– E porque é que fazem isso? Pergunto.
Pois não sei … Só lá na aldeia é que lhe podem dizer.
Acabo a “sandocha” de presunto e vou espreitar na aldeia as árvores vestidas…
Já na praça central vejo dois homens sentados um em cada banco em lados opostos rodeados por esta espécie nova, ao todo julgo serem seis árvores, também vestidas. Vejo a junta de freguesia ao lado esquerdo e vou indo para lá quando um destes homens me diz : – olhe que a junta já está fechada, fecha às cinco (da tarde está claro)… Eu aproveito para meter conversa e a mesma pergunta … Então agora vestem as árvores? Mas porquê?
– Olhe é por causa do vagar… Diz o homem que fala comigo … O outro que estava no lado oposto acrescenta …
– Isso são as mulheres que têm tempo e vão-se entretendo …
Entretanto, e na diagonal uma mulher passa em passo apressado e quem fala comigo pede-lhe uma resposta … – Oh Arlinda porque que vestem as árvores? Está a perguntar este senhor …
A Arlinda já a falar comigo explica que há um grupo lá na aldeia que se dedica ao tricô como actividade de tempos livres e que como viram na televisão que num outro local fizeram o mesmo decidiram fazer igual…
Eu dei mais uma volta na aldeia e em vários locais vi as árvores vestidas de tricô colorido e eu que ainda não tinha visto espetáculo semelhante achei fantástico que esta gente no Alentejo só porque sim decida, e cá vai uma expressão típica do Alentejo, engalanar as árvores da aldeia, porque esta gente por cá tem orgulho maior na aldeia e no Alentejo e a troco de nada e por ter vagar trata como seu o património público. Digo eu que não sei nada da coisa pública mas parece que as mulheres da aldeia acrescentaram mais valia ao imobilizado urbano a troco do vagar (desculpem os termos técnicos) e isso só por si é digno de ser registado.
Bem hajam às mulheres de Odivelas, que criam os seus filhos e netos, trabalham a terra e certamente fazem as lides da casa e porque têm vagar ainda vão engalanar as árvores da aldeia.
Artigo com a cortesia de: José Maria Garcia