Opinião (Rogério Copeto): A GNR no combate ao isolamento e solidão dos idosos.
“A GNR no combate ao isolamento e solidão dos idosos”
Rogério Copeto
Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Chefe da Divisão de Ensino/ Comando da Doutrina e Formação
Decorre no presente mês de abril a 5ª edição da “Operação Censos Sénior” da GNR que tem como missão combater a solidão e o isolamento nos idosos e prevenir situações de perigo, a que alguma desta população está sujeita, devido à sua condição de maior vulnerabilidade.
Possivelmente o leitor em 2011 acompanhou as noticiais referentes a uma idosa residente na Rinchoa, concelho de Sintra, que foi encontrada morta na sua residência em fevereiro desse ano e que alegadamente estaria morta há 9 anos, sem que ninguém tivesse feito nada, durante esse tempo todo.
Como consequência dessa mesma ocorrência, a GNR levou para o terreno a 1ª edição da “Operação Censos Sénior” nesse ano, para que idosos isolados ou sozinhos não fossem encontrados mortos, sem que ninguém lhes prestasse socorro, porque nenhum ser humano deve morrer sem assistência, muito menos um idoso.
Assim, o principal objectivo da “Operação Censos Sénior” é registar todos os idosos que residam sozinhos e/ou isolados, mantendo com os mesmos contactos frequentes e referenciar junto das instituições de apoio à terceira idade, aqueles que se encontrem em situações de maior vulnerabilidade.
Para isso a GNR vale-se da sua implantação em todo o território nacional, desde as zonas urbanas até às zonas mais recônditas do nosso país, com recursos humanos formados e motivados, tendo na primeira edição da “Operação Censos Sénior” registado um total de 15.596 idosos em todo o território nacional à responsabilidade da GNR, cuja área abrange 94% do território nacional e 56% da população residente. Na 2ª edição em 2012 foram registados 23.001, no ano de 2013 foram registados 28.197 e no ano passado 33.963 idosos, prevendo-se que este ano o número continue a aumentar, tendo conta o aumento constante da população idosa no nosso país, constituindo-se já um dos mais envelhecidos do mundo.
A todos os idosos registados é efectuada uma avaliação do risco, sendo que nas situações em que o idoso revela especial situação de vulnerabilidade, o mesmo é sinalizado às instituições respetivas, tendo sido já as centenas de idosos sinalizados e alguns foram literalmente salvos de uma tragédia iminente.
É também recolhida um conjunto de informação nomeadamente a idade, sexo, estado civil, coordenadas GPS da sua residência, se tem telefone, se tem família, o estado de saúde e nível de autonomia, se recebe apoio, qual a regularidade desse apoio e apoio recebido.
A informação recolhida é transmitida voluntariamente e é confidencial, sendo usada só para os fins a que se destina, que é garantir melhor segurança aos idosos sozinhos ou isolados, para que se sintam protegidos, reforçando dessa forma a sua própria segurança.
Essa informação recolhida e que a GNR agora dispõe torna-a na instituição com mais informação sobre a temática do isolamento e solidão dos idosos, sendo por isso com frequência solicitada para inclusão nos Planos de Diagnóstico Sociais Locais, no âmbito da Rede Social.
Apesar da GNR desenvolver esta actividade, no âmbito desta problemática, esta constitui-se como entidade de 1ª linha, articulando-se com as instituições de resposta, não se substituindo a estas, conseguindo por isso uma enorme visibilidade e consequente reconhecimento, junto das entidades que trabalham com idosos, tendo por isso a “Operação Censos Sénior” sido reconhecida como uma Boa Prática Nacional no estudo encomendado pelo Conselho Económico e Social (CES) denominado “O Envelhecimento da População: Dependência, Ativação e Qualidade”[1] e da autoria do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Católica Portuguesa e apresentado publicamente no Seminário “O Envelhecimento da População”, realizado no dia 26 de junho de 2013.
A “Operação Censos Sénior” também suscitou grande interesse, ao nível governamental, onde se incluem os Ministérios da Solidariedade e Segurança Social e da Administração Interna, que levou a que ambos os ministérios assinassem um protocolo em 1 de dezembro de 2012 com o objetivo de “… prevenção do risco, inerente ao isolamento e solidão, aumento da qualidade de vida dos idosos e do sentimento de segurança dos mesmos”[2].
Também o Ministério da Saúde mostrou interesse no trabalho desenvolvido pela GNR no âmbito da 1ª edição da “Operação Censos Sénior”, tendo por isso o Instituto Nacional de Saúde – Dr. Ricardo Jorge protocolado com a GNR, a parceira no estudo “Envelhecimento e Violência”[3] e apresentado publicamente na Fundação Calouste Gulbenkian no dia 25 de fevereiro do ano passado.
Os órgãos de comunicação social locais e nacionais também ao longo destes cinco anos realizaram várias reportagens e sem ter intenção de deixar de fora nenhum artigo, temos de destacar o que foi realizado pela jornalista Rosa Ramos e publicado no Jornal I no dia 15 de fevereiro de 2014, com o título “Quando a solidão termina com uma chamada da GNR”[4] onde em seis páginas retrata qual é a atividade dos militares da GNR no âmbito da “Operação Censos Sénior”, que vai muito para além do que lhes é exigido e que só o grande humanismo de todos os militares envolvidos faz com que esta operação seja um sucesso ano após ano.
[1] http://www.ces.pt/download/1483/Relatorio%20Final_UCP_ago%202012.pdf
[2] http://www.portugal.gov.pt/media/845475/20130201%20mai%20msss%20protocolo.docx.pdf
[3] http://repositorio.insa.pt/handle/10400.18/1955
[4] http://www.ionline.pt/artigos/portugal/quando-solidao-termina-telefonema-da-guarda