Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): CIBERCRIMINALIDADE.
Ontem, dia 15 de novembro, foram publicados dois artigos sobre cibercriminalidade, o primeiro no JN, da autoria do jornalista Alexandre Panda com o título “Burlas informáticas quadruplicam em cinco anos” e o segundo no DN, da autoria da jornalista Rute Coelho e denominado “Sextorsion: Adolescentes são novas vítimas e quantias pedidas subiram”.
Tenente-Coronel da GNR
Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Chefe a Divisão de Ensino/ Comando de Doutrina e Formação
O tema da criminalidade praticada na internet já aqui foi amplamente abordado, nos artigos “Predadores Online”, “Ciberbullying e as redes sociais” e “Internet e bombinhas de carnaval”, sempre com a preocupação de alertar a população, para a necessidade de promoverem os procedimentos correctos, de forma a garantirem um uso seguro dos recursos disponiveis na internet.
Nesta área, a GNR tem desenvolvido diversas acções, nomeadamente junto da população mais nova, no âmbito do “Programa Internet Segura”, com a realização de ações de sensibilização, direcionadas à comunidade escolar, sobre a necessidade de prevenir os comportamentos de risco inerentes à utilização da internet, devendo os educadores estabelecer regras, acompanhar todas as crianças e jovens, estar atento aos sinais e comunicar às autoridades sempre que os factos possam tipificar qualquer tipo de crime, que tem como consequência traumas físicos e psíquicos, que tarde ou nunca serão ultrapassados e que só a prevenção o pode evitar.
Estas acções contam com parceiros como a Microsoft Portugal, que juntamente com a GNR promoveram centenas de acções todos os anos, que no âmbito do “Programa Internet Segura”, chegou a 5.187 escolas e a 694.997 alunos no presente ano lectivo, verificando-se que este tipo de acções é cada vez mais importante, tendo em conta que as nossas crianças, cedo começam a navegar na internet e a exporem-se demasiado aos perigos da internet, sem noção das eventuais consequências do seu incorrecto uso e os adultos não têm ainda os conhecimentos necessários, para uma correta supervisão das crianças e adolescentes, tendo estas acções como resultado, termos crianças e jovens como mais e melhores conhecimentos sobre os perigos da internet.
Mas o tema da cibercriminalidade é uma realidade já há vários anos e não é surpresa para os mais atentos, que esse tipo de criminalidade tenha aumentado nos últimos anos e que apareçam todos os anos novos fenómenos criminais associados ao uso da internet, podendo-se afirmar sem margem para erro, que poderá ser praticado qualquer tipo crime via internet, mesmo o homicídio.
Tendo em conta esta realidade a EUROPL criou em 2013 o “European Cybercrime Centre – EC3” para reforçar a resposta da aplicação da lei ao cibercrime na União Europeia (EU) e, assim, ajudar a proteger os cidadãos europeus, as empresas e os governos, contra a cibercriminalidade, que custa aos Estados-Membros da UE, 265 mil milhões de euros todos os anos, sendo o prejuízo para a economia global, de cerca de 900 mil milhões de euros, contabilizando-se unicamente os custos financeiros.
A criminalidade grave e organizada é um fenómeno cada vez mais dinâmico e complexo que requer uma resposta robusta e orientada pelas informações por parte da UE, tendo por isso sido considerada pela Europol, no relatório denominado “Serious Organised Crime Threat Assessment (SOCTA)”, que tem como objectivo dar a conhecer a evolução da criminalidade grave e organizada e as ameaças que ela representa para a UE, a cibercriminalidade como uma das áreas de criminalidade de primeira prioridade, juntamente com a droga, a falsificação, o tráfico de seres humanos, os crimes contra a propriedade, os crimes económicos, os crimes ambientais e o tráfico de armas.
Mas os que é o Cibercrime?
Qualquer inovação tecnológica em princípio é desenvolvida para ser aproveitada para o bem social, mas também pode ser para alcançar fins nocivos, sendo a área do cibercrime onde mais facilmente se verifica esse mau uso, para além de que os cibercriminosos estão a ficar cada vez mais violentos.
Os crimes praticados na internet geram lucros avultados, onde são praticados diversos tipos de fraudes online, nomeadamente associadas aos cartões de débito/crédito, que causam danos graves às suas vítimas, sem esquecer a exploração sexual de crianças e os ciber-ataques, que afectam as infra-estruturas críticas de empresas e de governos, não estando nenhum país imune a tais ataques, verificando-se que o cibercrime está a tornar-se mais agressivo e conflituoso, observando-se através de várias formas, que vão desde crimes de alta tecnologia a violações de dados e extorsão sexual.
Para a generalidade da população a cibercriminalidade está associada a crimes financeiros, onde o objectivo do cibercriminoso é a apropriação de códigos bancários, mas nenhum dado está a salvo dos cibercriminosos, verificando-se que o número e a frequência de violações de dados pessoais estão a aumentar, o que, por sua vez, está a conduzir a mais casos de fraude e extorsão, existindo uma enorme gama de oportunidades que os cibercriminosos têm procurado explorar, com recurso a diversos dipositivos: Botnets (redes de dispositivos infectados com malware sem o conhecimento de seus utilizadores, com o objectivo de transmitir um vírus, com a capacidade de controlar remotamente equipamentos informáticos para furto de senhas, desativando qualquer proteção antivírus); Backdoors (permite o acesso remoto aos dispositivos para criar botnets em equipamentos comprometidos, permitindo o furto de qualquer tipo de dados; Fóruns on-line (permitem a troca de conhecimentos/informação entre hackers); Bulletproof (serviços contra-anti-vírus); Transformação de moeda corrente em virtuais; Fraude on-line; Exploração sexual infantil on-line; Realização on-line de operações de venda de armas, de passaportes falsos, cartões de crédito falsificados e/ou clonados, drogas, serviços de hackers, etc. (darknet).
Como se pode verificar os cribercrimes são cometidos com recurso a conhecimentos e tecnologia que não está ao alcance de qualquer pessoa, sendo possivelmente essa a razão do aumento deste tipo de criminalidade, onde abundam termos que não são fáceis de descodificar, e para os quais, nenhum de nós está realmente protegido, apesar de presumirmos erradamente que sim.
Para melhor esclarecimento damos a conhecer um conjunto de termos que são os causadores da maioria da cibercriminaliddea, tais como malware (software malicioso), botnet (abreviação de rede de robôs), rootkit (conjunto de programas), worm (programa que se replica), trojan (programa que furta dados e apaga ficheiros), file infector infector (infecta ficheiros executáveis com a extensão .exe), backdoor (acesso remoto para um trojan ou RAT na sigla inglesa), logging keystrokes (registo de todos as teclas premidas); screenshots (capturas de ecrã); ransomware (impede o acesso a equipamentos informáticos) csareware (anti-vírus falso), spyware (monitoriza e transmite actividade) e adware (exibe banners publicitários ou pop-ups para rastrear o comportamento do usuário.
Perante tal adversidade, o prognóstico não é difícil de adivinhar. A cibercriminalidade vai continuar a crescer todos os anos, confrontando-se as autoridades com novos fenómenos, para os quais ainda não têm os recursos adequados, sabendo que tudo farão para levar à barra da justiça todos os cibercriminosos, necessitando para isso que o comum cidadão, denuncie todo e qualquer crime de que seja vítima, enquanto utilizador da internet, devendo por isso conhecer esta realidade e desenvolver todos os procedimentos de protecção, sendo as mais básicas, não abrir correspondência de destinatário desconhecido e não aceder a páginas de conteúdos duvidosos.