Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): GENÉTICA E CRIANÇAS DESAPARECIDAS.


Amanhã dia 25 de maio assinala-se o “Dia Internacional da Criança Desaparecida” e por esse motivo trazemos ao LN o tema da genética no auxílio na identificação de crianças desaparecidas.

Rogério Copeto

Tenente-Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Chefe da divisão de Ensino/ Comando de Doutrina e Formação

É a terceira vez que a temática das crianças desaparecidas é aqui abordada no LN, sempre por esta altura, com o objetivo de assinalar o “Dia Internacional da Criança Desaparecida”, tendo em 2015 sido com o artigo “’Criança desaparecida’: Uma criança, várias definições”, que deu a conhecer o estudo sobre o fenómeno das crianças desaparecidas na União Europeia (UE) a 27, elaborado pela Comissão Europeia, denominado “Missing children in the European Union: Mapping, data collection and statistics” datado de 2013, e no ano passado com o artigo “O Meu Manual de Segurança”, onde demos a conhecer a iniciativa lançada em 2015, numa parceria entre a GNR e a “Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas” (APDC), que consistiu na apresentação no dia 25 de maio de 2015, na Escola da Guarda, em Queluz, do livro “O Meu Manual de Segurança”, destinado a todas as crianças até aos doze anos de idade e que apresenta um conjunto de regras elementares de segurança no sentido de prevenir que as crianças sejam vítimas de crimes.

Também no ano passado a APCD, para assinalar o “Dia Internacional da Criança Desaparecida”, procedeu à apresentação do kit “O Meu ADN”, para ajudar na identificação de crianças desaparecidas, conforme foi difundido pelo Destak de 30 de maio 2016 no artigo com o título “Guardar a identidade genética dos mais pequenos em casa”, onde é referido que o kit “É considerado uma das mais importantes ferramentas para a investigação do desaparecimento de uma criança”, porque permite “guardar em casa a identidade genética dos mais pequenos”, tendo o mesmo sido “criado com a ajuda de um perito internacional em identificação de pessoas em situações de catástrofe natural”.

O referido perito é dado a conhecer no artigo da Visão de 25 de maio de 2016 denominado “Com o ADN da pessoa desaparecida é possível saber se esteve num determinado local”, que publica uma entrevista com o referido perito forense britânico Derek Forest, especialista na identificação de vítimas, consultor da Interpol e Fundador do Centro de Identificação de Vítimas de Desastre. No âmbito do seu trabalho foi destacado para ajudar a identificação das vítimas do tsunami que assolou a Tailândia, em 2004, de onde seguiu para o Egipto, depois do atentado ao Hotel em Sharm El Sheikh em 2005, ao mesmo tempo que aconselhava as autoridades norte-americanas no pós furacão Katrina e em 2009 ajudou a identificar as vítimas da queda do Air France 447 no Oceano Atlântico, tendo-lhe sido atribuído o título de Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico, por motivo dos seus 30 anos de experiência na identificação de pessoas ao serviço da polícia inglesa.

Com ajuda da informação disponível na internet importa agora dar a conhecer o que é o kit de identificação “O Meu ADN”, contendo o mesmo um cartão de armazenamento de ADN, uma zaragatoa para recolha da saliva, luvas esterilizadas, cartões de impressões digitais biométricas, formulários respetivos e instruções de utilização, e pode ser adquirida nas farmácias e nas grandes superfícies.

O “O Meu ADN” tem assim como objetivo contribuir para uma mais rápida identificação de crianças desaparecidas, mesmo no caso da sua morte, podendo também ser usado para confirmação se a criança esteve em determinado lugar, de onde tenham sido recolhidos vestígios biológicos, devendo para o efeito os progenitores proceder á entrega do KIT às autoridades, para que estas possam comparar as amostras de ADN recolhidas nos vários locais investigados.

Voltando à entrevista dada á Visão pelo perito Derek Forest, ficamos a saber que para encontrar uma pessoa desaparecida é necessário num primeiro momento “recolher toda a informação sobre essa pessoa e procurar pistas sobre o que lhe poderá ter acontecido… para determinar se o desaparecimento foi ou não planeado”. Derek Forest ressalva no entanto que nos casos dos adultos, estes têm o direito de desaparecer, sem dizer nada a ninguém, não se podendo aplicar esse princípio às crianças. Sendo que em qualquer dos casos é sempre importante agir rapidamente “mantendo os locais e os bens da pessoa desaparecido intocáveis para que se possa recolher a sua informação genética”.

As várias vantagens do kit de identificação são elencadas por Derek Forest, começando por dizer que “se tivermos o ADN da pessoa desaparecida é muito mais fácil saber ao certo se esteve num determinado local … o kit fica na possa de cada um, não passa a fazer parte de nenhuma base de dados. Só será entregue às autoridades se for preciso ir à sua procura e aí pode ajudar-nos a ultrapassar uma série de obstáculos, tornando a investigação muito mais fácil”.

E numa investigação por desaparecimento de uma criança, os vestígios biológicos encontrados num determinado local indicam quem pode ter estado com a criança (no caso de possuirmos o seu ADN), conseguindo “levar-nos ao seu encontro ou a compreender o que pode ter acontecido … Se tivermos o ADN da criança, podemos fazer circular a sua informação, para pesquisarem sempre que se cruzarem com alguém que não esteja identificado. Mesmo que seja anos e anos depois, imagine-se alguém que foi raptado muito novo e já não se lembra da sua vida anterior. Se tivermos a sua informação genética, não haverá dúvidas para o identificar no caso de ser encontrado. E quando um ente querido desaparece, nunca são demais as ferramentas que se podem usar para um final feliz”.

Assim, para quem quiser saber mais sobre este assunto, está convidado a comparecer na “Conferência: Desaparecimento e Identidade Genética”, que a APCD realiza amanhã dia 25 de maio, pelas 14H00, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa, para assinalar o “Dia Internacional da Criança Desaparecida”, com o objectivo de debater a problemática da identificação genética (com base no ADN) na investigação de desaparecimento de pessoas, procurando refletir sobre a experiência americana e a nacional.


Share This Post On
468x60.jpg