Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): O FURTO NOS SUPERMERCADOS.
Na semana passada um artigo do jornal online “Dinheiro Vivo”, com o título ”Furtos no comércio equivalem a 16 euros por português”, dava conta, que no ranking dos países onde menos se furta no comércio, Portugal ocupava o 6º lugar.
Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Chefe da Divisão de Ensino/ Comando da Doutrina e Formação
O autor do referido artigo baseava-se no anúncio feito pela “Global Retail Theft Barometer” (Barómetro Global do Furto no Retalho), que deu a conhecer o relatório elaborado pelo “The Smart Clube”, da autoria do investigador Ernie Deyle, com o apoio da “Checkpoint Systems”, onde consta que as perdas por razões desconhecidas reportadas pelas empresas de retalho portuguesas, correspondem a 0,9% das vendas, sendo esse valor inferior à média europeia, que é de 1,05%.
Os referidos 0,9% das vendas, referente às perdas, correspondem a 301 M€, sendo que 52% desse prejuízo corresponde aos furtos, que os seus clientes realizam no comércio nacional, perfazendo 157 M€, concluindo o autor que cada português terá por isso furtado artigos no valor de 16 €, sendo que o restante das perdas tem origem nos furtos perpetrados pelos próprios colaboradores (29%), fraudes pelos fornecedores (13%) e as perdas administrativas (6%).
Mas apesar da alusão que o título do artigo faz, ao fato de todos nós já termos furtado algo das prateleiras dos supermercados no valor de 16€, parece-me que neste caso o 6º lugar que Portugal ocupa, no ranking dos países do mundo onde menos se furta no comércio, que pelas contas envolve vendas no valor de 33.444 M€, e que os primeiros lugares do ranking são ocupados pela Noruega, a Suíça e a França, é motivo de orgulho para todos os portugueses.
Esse fato não é alheio o trabalho que a GNR e a PSP têm desenvolvido no âmbito do programa “Comércio Seguro”, especialmente no âmbito da parceria com a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), em cumprimento do protocolo formalizado entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e a APED datado de 4 de maio de 2010.
O programa “Comércio Seguro” de iniciativa do MAI baseia-se numa filosofia de policiamento de proximidade, que pretende incrementar as condições de proteção e segurança aos comerciantes. A GNR garante essa protecção recorrendo ao reforço do policiamento através de patrulhas apeadas e do estabelecimento, de regras e procedimentos de segurança de carácter geral.
O desenvolvimento deste programa tem vindo ainda a permitir a promoção de ações de sensibilização e a adoção das medidas que melhor respondam às necessidades e condições específicas dos diferentes tipo de comércio, aos níveis tanto da prevenção dos ilícitos criminais de que são vítimas os cidadãos que circulam nas áreas comerciais, como relativamente a furtos e assaltos aos estabelecimentos comerciais.
Para a GNR os objectivos do programa “Comércio Seguro” são: Conhecer a situação dos comerciantes na sua zona de ação; Intensificar a proximidade aos comerciantes; Sensibilizar adequadamente os comerciantes para os diferentes tipos de criminalidade que sobre eles incidem com maior frequência; Garantir as condições para que os comerciantes se sintam protegidos; Ser diligente no atendimento pessoal ou telefónico; Apoiar os comerciantes nas suas necessidades.
É com estes objectivos que a GNR laça todos os anos a “Operação Comércio Seguro”, sempre por altura do período do Natal, realizando ações de sensibilização aos comerciantes, através de contactos pessoais e ações de sala, a fim de lhes comunicar os procedimentos de segurança a observar em situações de assaltos, de forma a potenciar o sentimento de segurança junto da população afetada por este tipo de criminalidade.
Para o sucesso do programa “Comércio Seguro” muito também tem contribuído o já referido protocolo formalizado entre o MAI e a APED, sendo um dos factores mais relevantes, a existência de interlocutores na GNR, que pertencendo às Secções de Programas Especiais, tem a responsabilidade de contactar com todos os comerciantes da sua zona de acção, assim como articular e planear com os mesmos, qualquer acção que os comerciantes solicitem, assim como são os primeiros a receber as queixas e denuncias, dos mesmos.
Também na sequência do protocolo assinado entre a APED e o MAI, foi definido como prioritário o aprofundamento da cooperação no âmbito da formação dos associados da APED em matéria de segurança, com o objectivo de informar e esclarecer os referidos associados, em termos de boas práticas de segurança, tendo por isso sido realizadas diversas acções de formação, com recurso a formadores da GNR e da PSP, sobre várias matérias, tais como: Tipologia de crimes, respectivas molduras penais e classificação quanto ao exercício do procedimento criminal; Gestão de Conflitos, nomeadamente, a abordagem ao conflito, atitudes a tomar e a adopção de comportamentos; Legislação aplicável à Segurança Privada, nomeadamente o respetivo enquadramento normativo, o exercício da actividade de segurança privada, o dever de colaboração e a fiscalização, por parte da GNR e da PSP.
A importância deste protocolo permitiu ainda agilizar contactos entre as Forças de Segurança e a APED, não só através dos já referidos interlocutores, mas também na elaboração de peças de expediente para uso dos comerciantes, tais como o “Auto de Entrega Sumário”, elaborado nos termos do artº 381º do Código de Processo Penal, que permite ao responsável de um estabelecimento comercial, fazer a entrega às Forças de Segurança de um suspeito de furto, sem necessidade de outros formalismos legais.
Finalizamos, voltando ao relatório referido no início do artigo, que também nos diz que no extremo oposto do ranking, estão os EUA que dominam os prejuízos, seguidos da China e do Japão, verificando-se que todas as regiões do mundo, com exceção da Europa, registaram um aumento das perdas, pelo que todos nós devemos estar orgulhosos na 6ª posição que Portugal ocupa, neste ranking dos que menos furtam nos supermercados.