Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): SEGURANÇA NOS AERÓDROMOS  E AEROPORTOS NACIONAIS


Terá sido mais o título e não tanto o artigo denominado “Crimes. Aeródromos com controlo reduzido”, publicado na edição de 30 de julho do jornal SOL e da autoria do jornalista Carlos Diogo Santos, que motivou a elaboração da crónica desta semana.

COPETO ROGER_800x800Rogério Copeto

Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Chefe da Divisão de Ensino/ Comando de Doutrina e Formação

Da leitura do referido título poderá concluir-se que os aeródromos portugueses se encontram com um controlo reduzido no que diz respeito à sua segurança, mas só a leitura de todo o artigo, unicamente disponível na edição em papel, podemos constatar que o pouco controlo que os aeródromos nacionais dispõem é da parte da Autoridade Tributária e do Serviço de Estrangeiros de Fronteiras, tal como é referido no seu parágrafo “Os passageiros e as mercadorias que chegam aos aeródromos portugueses só muito raramente são controlados pela Autoridade Tributária e em alguns aeródromos a fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) também é ocasional.”

Parece-nos assim que o título do artigo é excessivo, porque generaliza a falta de controlo em todos os aeródromos e o texto do mesmo é redutor, uma vez que o controlo de passageiros e mercadorias numa infra-estrutura aeroportuária não é responsabilidade unicamente das autoridades referidas, sendo essa responsabilidade atribuída em primeira instância, à força de segurança, GNR ou PSP, onde o aeródromo ou aeroporto se localiza, em cumprimento das normas da Segurança da Aviação Civil, procedendo à fiscalização de todos os passageiros e respetivas bagagens.

Mas o artigo disponibiliza também um mapa de Portugal, com a legenda “Aeródromos ‘Sem controlo’ em Portugal”, generalizando mais uma vez a falta de controlo em todos os aeródromos existentes em Portugal, sendo que da leitura do mapa ficamos a saber que são cinco os aeródromos identificados e que se localizam em Bragança, Coimbra, Cascais, Évora e Portimão e um aeroporto localizado em Beja, onde é referido que “é o aeródromo usado pelo projecto Embraer e tem por isso uma grande relevância” e sobre o aeródromo de Évora é referido que “quase sempre está fechado e apenas aterram alguns aviões”. Nesta altura importa referir que a empresa Embraer está sediada no Aeródromo de Évora e o Aeroporto de Beja é uma infra-estrutura que está certificada para receber voos internacionais, o que infelizmente não acontece com a frequência desejada.

Assim, o referido mapa ao identificar cinco aeródromos e um aeroporto exclui alguns dos principais aeródromos nacionais, nomeadamente o aeródromo de Ponte Sor, onde se localiza uma academia de formação de pilotos, o de Vila Real e o de Viseu, constituindo estes últimos, juntamente com o de Bragança, Tires e Portimão, a ligação aérea intracontinental Bragança-Vila Real-Viseu-Cascais-Portimão, que se encontra em pleno funcionamento desde dezembro do ano passado, sendo a GNR a entidade territorialmente responsável pela segurança dos aeródromos de Bragança, Vila Real, Viseu e Portimão, onde procede à fiscalização de pessoas e bens, em cumprimento das normas da Segurança da Aviação Civil, com recurso a militares formados pela GNR e certificados pela Autoridade de Segurança da Aviação Civil (ANAC).

Podendo parecer que o assunto abordado no artigo é recorrente, verifica-se através de uma rápida pesquisa, que as ocorrências nos vários aeródromos e pistas existentes em território nacional, são esporádicos e ocorrem em períodos de cinco anos, verificando-se a existência de uma ocorrência em fevereiro de 2005, quando a Policia Judiciária apreendeu 277 quilos de haxixe a bordo de um avião ligeiro que aterrou numa pista em Beja, tendo por isso motivado a elaboração em 14 de março de 2005, do artigo denominado “Há dezenas de pistas de aterragem a funcionar sem controlo em todo o país” da jornalista Mariana Oliveira do Público.

Quatro anos depois, o Correio da Manhã volta a falar no assunto, no artigo denominado “Pequenos aeródromos sem fiscalização” de 6 de abril de 2009, onde dá a saber que “A Polícia Judiciária (PJ) pede mais medidas de segurança para os pequenos aeródromos existentes no País, alegando que pistas sem fiscalização são mais susceptíveis de serem utilizadas para o tráfico de droga ou para acções terroristas. Todavia, o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) afirma não ter condições para fiscalizar todas essas pistas, algumas das quais em terra batida.”

Por motivo de um sequestro e queda de uma avioneta no Aeródromo de Tires, cuja aeronave se encontrava no Aeródromo de Évora, ocorrida em fevereiro de 2010, o Diário de Noticias na sua edição de 15 de fevereiro desse ano, publicou o artigo denominado “Aviões sem qualquer controlo nos aeródromos nacionais”, da autoria do jornalista Luis Maneta, que volta a falar na falta de controlo dos aeródromos nacionais, onde fontes policiais ligadas à aviação civil referiram que “Nos aeródromos não é exigido plano de voo e procedimentos de segurança são mínimos. Aviões como o PAC 750 XL que sexta-feira foi sequestrado em Évora e se despenhou próximo de Tires circulam pelo espaço aéreo português sem plano de voo nem qualquer tipo de controlo.”

Sendo que a última referência à falta de controlo nos aeródromos foi transmitida na reportagem da SIC de 17 de fevereiro de 2016 com o título “Falta de fiscalização no aeródromo de Tires”, dando eco às preocupações dos sindicatos do SEF e da Alfândega onde são denunciadas “… falhas graves na fiscalização dos voos privados que aterram no aeródromo de Tires, vindos de países fora da União Europeia”, alertando ainda “… que a falta de fiscalização pode abrir as portas ao tráfico de droga, de armas e branqueamento de capitais.

Por coincidência, também no dia 30 de julho, e apesar de ter ocorrido no principal aeroporto nacional e não num aeródromo, não podia deixar de referir a ocorrência, que ocupou e ainda ocupa, todos os Órgãos de Comunicação Social (OCS) desde sábado, da detenção de 5 argelinos, que entraram numa zona de acesso restrito do Aeroporto Humberto Delgado, tal como o jornal online Observador dá conta no seu artigo do próprio dia 30 de julho, denominado “Argelinos detidos na pista do aeroporto sem ligações terroristas”, referindo que após a detecção de quatro homens de nacionalidade argelina numa das pistas do aeroporto, foram os mesmos detidos pela PSP, que conclui tratar-se de “… pessoas que procuraram uma oportunidade de chegar à Europa”, tendo os mesmos cometido o “…crime de perturbação relativamente aos transportes aéreos, podendo serem julgados em sumário e serem imediatamente extraditados”.

Conforme referido, o assunto suscitou o interesse de todos os OCS e na segunda-feira dia 1 de agosto o jornal I, no artigo denominado “Aeroporto. Invasão da pista não justifica reforço da segurança”, da autoria da jornalista Marta Cerqueira informa, segundo fonte da PSP, que os detidos “ entraram na pista de aterragem através de uma saída de emergência … que não pode estar fechada por razões de segurança … e que mal é forçada a sua abertura, é ativado o sistema de segurança que prevê a atuação imediata das autoridades.”

Mas mesmo após a explicações da autoridade responsável pela segurança do Aeroporto Huberto Delgado, sobre a detenção dos cidadãos argelinos numa zona de acesso restrito do referido aeroporto, o sindicato do SEF veio afirmar ter havido falhas, conforme reportagem da SIC de 1 de agosto denominada “Sindicato do SEF afirma que houve falhas de segurança no aeroporto de Lisboa”.

Terminamos concluindo que a segurança dos aeródromos e aeroportos nacionais é efectivamente garantida pelas forças de segurança, por elas responsáveis, nomeadamente a GNR e a PSP, e por isso os portugueses podem ficar descansados, porque quer a GNR, quer a PSP, dispõem de efectivos formados e qualificados para fazer face a qualquer ameaça que possa ocorrer nessas infra-estruturas aeroportuárias.

Nota da Redação (n.d.r): Depois de um merecido período de férias, está de volta um magníficos colaboradores do LN. Excelente profissional e um amigo do seu amigo. Pela sua grande disponibilidade. O LN saúda o seu regresso.


Share This Post On
468x60.jpg