Penha da Águia (Mértola): Pescador leva a lampreia do rio ao prato.


Em “terra de ninguém”, na margem direita do rio Guadiana, com o penhasco que deu o nome ao lugar, a espreitar da outra banda, no pequeno povoado ribeirinho de Penha da Águia, concelho de Mértola, vivem sete pessoas, há cinco barcos de pesca artesanal e o restaurante “O pescador do Guadiana”.

Mértola- Sérgio_800x800Há muitos anos que o aldeamento é tido como o “santuário da lampreia” do Grande Rio do Sul, onde chegaram a existir quase duas dezenas de barcos de pesca.

Nos tresmalhos (redes de pesca), ao muge, barbo, saboga, sável e enguia, nos mais de 50 quilómetros que separam a foz do rio em Vila Real de Santo António ao Pulo do Lobo, as marés do Oceano Atlântico trazem as lampreias.

Sérgio Valente, 41 anos, além de proprietário do restaurante, é também o pescador, arte que aprendeu e cujo barco herdou do pai e que “leva” a lampreia do rio ao prato. Sofia, a mulher de Sérgio, cozinha o ciclóstomo com a mesma receita que a sogra, a Tia Otília, começou a cozinhar há mais de 60 anos.

A lampreia à bordalesa, com arroz branco, tem como base as ervas aromáticas, à boa maneira mediterrânica, da cozinha da região mertolense.

Na localidade que o viu nascer, há 10 anos, Sérgio construiu uma habitação e o restaurante onde investiu cerca de 300 mil euros, e que batizou em homenagem ao pai e aos pescadores da Penha da Águia, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana.

Há cinco anos, com a crise que se instalou em Portugal, Sérgio, passou também a ser condutor da Câmara de Mértola, mas a pesca faz parte do seu dia-a-dia.

Antes de começar a conduzir “vou ao rio espreitar as redes” e depois de regressar a casa “volto a pegar no barco e recolho o peixe que foi apanhado nas malhas”, diz feliz.

“No Alentejo as primeiras lampreias que se apanham são machos e só depois as fêmeas”, diz quem conhece o rio como ninguém. Para Sérgio, “o Alqueva alterou o caudal do rio e há menos lampreias”, justificando que num ano de boa safra “apanham-se 100 lampreias”, remata.

Para conseguir a licença de pesca, teve que frequentar em Olhão (Algarve), durante três meses, um curso destinado a pescadores.

Com exceção da confeção, tudo passa pelas mãos de Sérgio. Pesca, esfola e arranja a lampreia que depois chega à mesa do restaurante, cujo funcionamento tem mais incidência aos fins-de-semana e mediante marcação. O pescador é contra os festivais que diz: “estragaram o já foi uma iguaria e há gente que nada percebe de culinária”, remata.

A experiência de Sérgio Guerreiro, leva-o a fazer uma revelação: “a lampreia desova e morre. As crias voltam, sete anos depois, ao local onde nasceram”, justifica.

A Penha da Águia chegou à televisão, no concurso Caça ao Tesouro, emitido pela SIC, entre 1994 e 1995, que tinha como apresentadora Catarina Furtado.

PENHA DA ÁGUIA, como ir

A partir de Beja pelo IP2 e EN 122 até Mértola, seguindo pela mesma via em direção ao Algarve e 12 kms depois de cruzar a “Vila Museu”, vira à esquerda para a Estrada Municipal que 8 kms depois o leva ao local. Restaurante “O pescador do Guadiana”, contactos: 286 675 417 e 967 747 320.

Teixeira Correia

(jornalista)


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