No artigo anterior identificámos os fatores de risco associados e os mecanismos de aliciamento que contribuem para o recrutamento de jovens para o crime organizado, pelo que no presente artigo iremos apresentar quais as estratégias de prevenção do fenómeno.
Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda
Assim, a prevenção do recrutamento juvenil exige uma abordagem multidimensional que articule família, comunidade, instituições públicas e setor digital, sendo o Policiamento Orientado para a Comunidade (Community-Oriented Policing – COP), um modelo de policiamento que aposta na proximidade entre polícias e cidadãos, com enfoque na construção de confiança, cujo objetivo é transformar as Forças de Segurança (FS) em parceiras da comunidade, quebrando a imagem de inimigo e incentivando a denúncia de práticas suspeitas, aumento a perceção de segurança através da presença regular de agentes em escolas, associações juvenis e espaços comunitários e criando-se laços de cooperação.
Fortalecer o núcleo familiar também é uma estratégia eficaz, onde os programas de apoio parental, mediação familiar e acompanhamento psicológico ajudam a reduzir tensões domésticas e a oferecer aos jovens um ambiente mais estável, através de terapias de grupo, quando aplicadas precocemente, têm demonstrado eficácia na diminuição de comportamentos de risco e na melhoria das relações entre encarregados de educação e educandos.
Os programas de desvio (youth diversion) propõem alternativas à punição tradicional, porque em vez de encarcerar jovens em conflito com a lei, oferecem-lhes oportunidades de formação, trabalho comunitário e reinserção social, sendo a lógica evitar que o sistema penal funcione como escola do crime, proporcionando antes uma segunda oportunidade de integração.
O modelo da dissuasão focalizada combina medidas de repressão com apoio à reabilitação e envolvimento comunitário, recebendo os jovens identificados como de alto risco acompanhamento específico, onde a mensagem central é clara: o envolvimento em crime organizado terá consequências sérias, mas existem caminhos alternativos que serão apoiados pelas instituições.
Com a crescente importância do meio online no recrutamento, torna-se imprescindível adotar estratégias digitais, estabelecendo o Digital Services Act (2022/2024) novas obrigações para plataformas digitais no combate a conteúdos ilícitos e paralelamente, realizar campanhas de sensibilização online, implementar ferramentas de denúncia rápida e programas educativos de literacia digital, sendo fundamentais para preparar os jovens a reconhecer e resistir a tentativas de aliciamento.
A análise do fenómeno mostra que o recrutamento juvenil não pode ser entendido isoladamente, mas sim como reflexo de desigualdades sociais e fragilidades institucionais, porque o crime organizado adapta-se rapidamente, utilizando canais digitais e aproveitando lacunas de proteção familiar e comunitária.
Um dos grandes desafios é equilibrar medidas repressivas com estratégias preventivas, onde o endurecimento penal, por si só, não resolve o problema, podendo até reforçar a exclusão e facilitar a incorporação de jovens em redes criminosas mais estruturadas, pelo que a aposta em programas preventivos integrados revela-se mais sustentável a longo prazo.
Além disso, a dimensão digital levanta novas questões, embora leis como o Digital Services Act representem avanços, a velocidade com que surgem novas plataformas dificulta a monitorização e a eficácia das medidas legais, onde a cooperação internacional e a partilha de boas práticas tornam-se essenciais.
O recrutamento de jovens para o crime organizado constitui um fenómeno complexo, enraizado em vulnerabilidades individuais, familiares e comunitárias, e reforçado por estratégias sofisticadas de exploração tanto presencial como digital, exigindo que para que a resposta seja eficaz, uma abordagem multifacetada, que combine Policiamento Orientado para a Comunidade, fortalecimento familiar, programas de desvio juvenil, medidas de dissuasão focalizada e políticas digitais robustas.
Mais do que reprimir, é necessário prevenir, educar e oferecer alternativas reais que permitam aos jovens construir projetos de vida fora da criminalidade, pelo que apenas através de um esforço coletivo entre famílias, comunidades, escolas, FS, organizações civis e instâncias europeias será possível reduzir a atratividade do crime organizado e reforçar a resiliência das novas gerações.
Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.