FALHAS CRÍTICAS EM CONTEXTOS DE APAGÃO


No contexto de apagão geral, a atuação coordenada e eficaz das Forças de Segurança (FS) e de Proteção Civil (PC) torna-se não apenas necessária, mas crítica, sendo que o presente artigo explora o que não pode falhar nestas circunstâncias e quais os recursos essenciais para garantir a manutenção da ordem pública e a resposta a emergências.

Rogério Copeto

Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda

O apagão geral ocorrido no dia 28 de abril na Península Ibérica causado por uma falha maciça na distribuição de energia elétrica, constituiu uma ameaça à estabilidade social e à segurança pública, potencialmente devastadoras, tendo em conta a dependência quase total da sociedade moderna da eletricidade para comunicações, transportes, serviços de emergência e abastecimento de bens essenciais, tornando um apagão prolongado um evento de alto risco.

A possibilidade de um apagão geral e prolongado representa uma ameaça real e com impactos devastadores para a segurança, saúde e coesão social, tendo em conta a dependência quase total da sociedade moderna da eletricidade para comunicações, transportes, serviços de emergência e abastecimento de bens essenciais, tornando um apagão prolongado um evento de alto risco, cujos efeitos negativos evidencia o grau de dependência da sociedade moderna em relação à eletricidade e à infraestrutura digital, conforme demos a conhecer no artigo de 07 de maio, com o título “E se tivessem sido 72 horas no escuro?”

Um apagão generalizado desencadeia rapidamente um efeito dominó, com várias consequências que devem ser prevenidas ou mitigadas:

– Interrupção das comunicações: Redes de telecomunicações, internet e sistemas de rádio podem falhar, comprometendo a coordenação entre entidades e o acesso a informação pela população;

– Colapso da ordem pública: A escassez de bens essenciais (combustível, alimentos, medicamentos) pode levar a distúrbios, saques, tumultos e a alterações da ordem pública;

– Falhas nos sistemas de transporte e abastecimento: Sem energia, os sistemas ferroviários, aeroportos e postos de combustível ficam inoperacionais, dificultando a mobilização dos meios de resposta;

– Comprometimento de hospitais e serviços médicos: Apesar dos geradores de emergência, os hospitais têm autonomia limitada sem energia da rede;

– Insegurança generalizada: O aumento do medo, a desinformação e o desespero da população pode gerar reações imprevisíveis e perigosas.

Evitar estas falhas exige antecipação, planeamento rigoroso e recursos adequados por parte das FS e de PC, pelo que a preparação para um apagão prolongado deve assentar em três pilares fundamentais: planeamento, autonomia operacional e capacidade de resposta rápida.

Assim, as FS e de PC precisam de:

– Planos de contingência interinstitucionais, com cenários previstos e protocolos de atuação coordenada;

– Centros de Comando e Controlo com autonomia energética (geradores, baterias, painéis solares) e comunicações seguras;

– Treino específico para atuação em situações de crise sem acesso à rede elétrica ou comunicações regulares.

– Sistema de alertas e comunicação de emergência via rádio VHF/UHF, satélite ou redes alternativas.

Para garantir a operacionalidade e a eficácia durante um apagão, as FS e PC devem estar equipadas com:

– Geradores móveis e fixos de elevada autonomia e capacidade, especialmente para quartéis, incluindo Postos e Esquadras e centros de operações;

– Sistemas de comunicação de emergência: rádios analógicos e digitais, equipamentos de comunicação via satélite, drones com ligação segura, e repetidores móveis;

– Meios de iluminação autónoma: lanternas de alta duração, sistemas LED portáteis, torres de iluminação móveis a combustível;

– Veículos com autonomia elétrica e combustível armazenado, bem como acesso a depósitos de combustível estratégicos;

– Equipamentos de vigilância e controlo de multidões: drones, câmaras portáteis, barreiras móveis, equipamento de ordem pública;

– Kits de primeiros socorros e mantimentos de emergência, para populações isoladas ou em centros de acolhimento temporários.

– Equipamentos de cibersegurança e proteção de dados sensíveis, uma vez que ataques informáticos podem ocorrer em paralelo com um apagão.

Um apagão à escala europeia exige mecanismos de cooperação transfronteiriça, tanto na troca de informação como na ajuda mútua, sendo que em Portugal, essa coordenação deverá envolver:

– Guarda Nacional Republicana (GNR) e Polícia de Segurança Pública (PSP);

– Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC);

– Forças Armadas;

– Municípios e Serviços Municipais de Proteção Civil.

Num cenário de apagão geral, a capacidade de manter a ordem, garantir a segurança das populações e assegurar uma resposta eficaz a emergências depende da preparação meticulosa e da resiliência das FS e de PC, não se tratando apenas de reagir, mas de prevenir o colapso do tecido social, pelo que a aposta em tecnologia independente da rede elétrica, formação contínua e uma logística bem planeada são essenciais para garantir que, mesmo na escuridão, a segurança e a confiança da população não se apaguem.

Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.


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