A Feira do Porco Alentejano que decorre até domingo em Ourique, é o primeiro certame na região onde voltam a estar à venda ao público as tradicionais samarras e capotes alentejano.
A polémica que rebentou há pouco mais de três meses quando um fabricante de fora do Alentejo registou a patente em seu nome. Mas há quem não se reveja naquela atitude.
A controvérsia estalou no dia 7 de dezembro de 2021, quando veio a público que Joaquim Fernando Moreira, o “Rei das Samarras”, de Penafiel, tinha registado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a autoria dos artigos e começou a notificar e a exigir que os fabricantes dos mesmos lhe pagassem licença por isso. A indignação no Alentejo foi geral e a contestação à “usurpação abusiva” levou a que esta se esbatesse.
Com o final da pandemia de Covid-19 e o aliviar das medidas de controlo da mesma, regressaram as feiras e a presença do público voltou a animar o negócio de venda das samarras e capotes alentejanos. “Em 2019 vendemos 800 peças dos vários modelos masculinos e femininos que fabricamos”, revelou ao JN, Ricardo Magalhães o proprietário do “Magalhães das Samarras”, uma empresa familiar, sediada em Penafiel, que vai passando de pais para filhos. Já foi do avô, passou para o pai e agora é o filho Ricardo que assume o negócio e a venda nos principais certames.
“Temos três alfaiates, com 72, 74 e 76 anos, que nos fazem as samarras e os capotes. O corte das peças é manual e depois levamos aos mestres. Eles dão o mais importante a mão-de-obra artesanal”, conta Ricardo que justifica que todos os moldes “foram feitos há muitos anos a partir de samarras e capotes do Alentejo”, conclui. “O meu pai ia para as feiras com uma carroça de burros e aprendi a arte muito cedo”, recorda.
Quando em dezembro a polémica do registo da patente foi tornada pública Ricardo conta que passou “um mau momento”, justificando que mesmo sendo amigo de Joaquim Moreira “foi uma atitude de aproveitamento desnecessário, porque no Alentejo as pessoas que trabalhavam na arte, não mereciam ser mal tratadas”, acrescentando que “se não fosse amigo dele também teria entrado no rol dos notificados para pagar a licença”, concluiu.
Ourique, Castro Verde, Mértola, Serpa, Beja, Estremoz e Évora, são localidades onde Ricardo Magalhães vende os agasalhos alentejanos, fabricamos manualmente pelos seus septuagenários alfaiates. “Já estava mortinho para ter uma feira no Alentejo e dar a cara aos clientes, porque levei por tabela e trabalho de forma honrada e ganho o pão com honestidade”, rematou Ricardo Magalhães.
Teixeira Correia
(jornalista)