(Exclusivo) Beja: Comandante da BA11, Coronel Paulo Costa, fala ao Lidador Notícias.
Chegado a Beja e à Base Aérea 11 em 25 de outubro, quando assumiu o Comando da Unidade, o Coronel Paulo Costa, dá a sua primeira entrevista, no dia em inicia a “apresentação de cumprimentos” às entidades locais, visitando a Câmara de Beja.
Com o Lidador Notícias, o oficial abordou as suas passagens pela BA11, a operacionalidade da unidade, as expetativas futuras da Base, incluindo a criação de uma Escola Internacional de Pilotagem Avançada, a situação do Bairro da Força Aérea e as relações com a Câmara Municipal e a difícil missão de “recuperar” a BA11 perante a comunidade e as instituições locais ?
O Coronel Piloto-Aviador (PilAv) Paulo Américo Oliveira da Costa, chegou à BA11 vindo da Divisão de Operações do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), tornando-se no 31º comandante da BA11, desde que 16 de agosto de 1967 o Coronel PilAv Alberto Lopes Magro foi nomeado para o cargo, o que sucedeu pela primeira vez depois de Base Aérea ter sido criada em 1964. O Coronel Paulo Costa, já passou pela BA11, primeiro entre março de 1994 e outubro de 1998 como piloto instrutor da Esquadra 101-“Roncos”, cm os aviões Epsilon e depois entre fevreiro de 2008 e julho de 2011, onde foi comandante da Esquadra 601-“Lobos”, equipada com os aviões Lockheed P-3C CUP+. O oficial foi o Diretor do Grupo de Trabalho para a substituição dos helicópteros Alouette III pelos novos AW119MKII “Koala”, que passaram a equipar a Esquadra 552-“Zangões”, desde o passado dia 18 de fevereiro.
Esta a sua terceira vez em Beja e na Base Aérea (BA) 11, depois de ter passado pela Esquadra 101-Roncos e Esquadra 601-Lobos. Torna-se agora no seu 31º comandante.
Depois de duas experiências diferentes, chego agora a Comandante da Unidade, que está muito diferente daquilo que existia anteriormente na quantidade de aeronaves e de efetivos humanos.
Por força do novo aeroporto no Montijo, tenho expetativas de que esta base vá começar a aumentar novamente os efetivos. Em março de 2020 com o retorno da Esquadra 101-Roncos com os Epsilons o que originará um aumento de pessoal.
As minhas expetativas são muito altas em relação à Base e cá estarei com muita humildade tentando conciliar essas alterações e a receção dessas novas esquadras na unidade, cumprindo um primeiro lugar a missão que me está confiada a mim e aos homens e mulheres que tenho a distinta honra de comandar.
Precisamos de muitas obras de beneficiação e a melhoria contínua é muito importante e pretendo estar ao lado, ombro com o ombro, com os militares que comando.
O senhor tem um currículo de voo invejável, são 5000 horas a pilotar os Epsilons e os P3.
De facto não muitos pilotos aviadores com tantas horas de voo. A maioria, cerca de 4000 horas foram feitas nos P3, onde passei 13 anos da minha carreira. Depois foram mais 1000 horas de Eplison e o tirocínio. Como aviador estou muito preenchido e com a chegada à BA11 ainda tenho a esperança de regressar à Esquadra 601-Lobos, que comandei durante mais de três anos e onde espero fazer mais umas horas de voo nos P3.
A BA 11, tem sido o cenário de grandes iniciativas ?
Esta unidade tem sido palco de grandes eventos e exercícios e vai manter esse estatuto. Em maio do próximo ano teremos o Tiger Meet, com a expetativa de receber mais de 100 aeronaves de todo o mundo. Para 2021 está-se a tratar da organização de mais um grane evento envolvendo helicópteros. Existe uma dinâmica de fazer desta, a base de acolhimento dos maiores exercícios militares em Portugal.
A operacionalidade da BA11 está reduzida a duas esquadras. É um cenário preocupante ?
Não, muito longe disso. Foi uma fase dentro da vida da Força Aérea (FAP) que vai sofrer uma alteração muito positiva. Os P3 foram modernizados há meia dúzia de anos e recebemos recentemente os novos helicópteros Koala, aeronaves que equipam as duas esquadras, a 601-Lobos e a 552-Zangões.
A Força Aérea está em renovação. O Epsilon ainda tem uns bons anos para voo e a 101-Roncos tem que vir sempre para Beja pela reorganização do espaço aéreo em Lisboa (ver texto sobre declarações do Ministro da Economia, Siza vieira, no final da entrevista).
Falta-nos uma esquadra de instrução avançada para substituir o Alpha-Jet, mas ainda assim a BA11 vai ficar muito musculada.
Quantos militares tem nesta altura a BA11 ?
Estamos entre os 540 e os 550 militares, número que a partir do próximo ano cair crescer substancialmente.
Seria utópico pensar na BA 11, como base única no continente, albergando as valências e esquadras da BA1 (Sintra), BA6 (Montijo) e AT1 (Portela/Figo Maduro) ?
PC: Não faz sentido. Não podemos colocar “todos os ovos no mesmo cesto. Não podemos estar dependentes do mesmo sítio e tem que existir uma distribuição coerente pelo país.
Bases/ Terminais Civis. Primeiro foi Beja, agora Montijo e já se fala em Monte Real. Podem colocar em causa a capacidade operacional da FAP ?
PC: Julgo que não. É um assunto sensível, mas os protocolos assinados com cada uma das bases isso fica salvaguardado e se houver necessidade operacional militar, esses interesses ficarão acima dos civis. Não vejo isso como uma dificuldade, porque cada caso é um caso. Mas é algo que a Força Aérea está disponível para analisar.
Na cerimónia de receção dos Koala, o Ministro da Defesa disse que iria ser criada uma base para os helicópteros de combates a incêndios que a Força Aérea vai gerir. Já está definida ? A BA11 será o local ideal ?.
Não tenho qualquer dado para que possa respostar a essa questão, o que dissesse seria mera especulação.
Os helicópteros Aloutte e Puma podem ser reconvertidos para combater os incêndios ?
Os Alouettes fizeram a guerra de África, onde os Puma também estiveram e são aeronaves que não correspondem ao padrão tecnológico que existem hoje em dia e que não são uma solução.
Temos um problema que são os fogos florestais, mas não é indo buscar aeronaves com cinquenta anos que vai resolver o problema. A Alouette não tem capacidade de carga para levar baldes de água, poderia no limite fazer a coordenação aérea. O Aloullte de 25 em 25 horas para fazer inspeções. O Koala faz a primeira inspeção é de 50 em 50 e de forma visual.
Essa não pode ser a base de trabalho, têm que ser frotas novas.
Câmara Municipal de Beja-Base Aérea 11, é uma relação que estará longe de ser a melhor, em função de algumas respostas negativas da FAP, nomeadamente sobre a Escola de Pilotos, os apartamentos e a Torre do Bairro. O presidente da autarquia faltou à sua tomada de posse, nem se fez representar. Como interpretar esses factos ?
Já falei com o senhor Presidente da Câmara e hoje mesmo vou apresentar os cumprimentos formais após a minha tomada de posse, inclusivamente já estivemos juntos num evento na cidade, onde me explicou que já tinha um compromisso assumido para aquele dia (n.d.r.: presença da cerimónia de Juramento de Bandeira no Regimento de Infantaria 1).
Tal como a FAP, a Câmara Municipal quer o desenvolvimento da cidade e do concelho. A questão da Escola Civil foi explicada pelo Ministro da Defesa, porque existe um projeto internacional para a BA11 e isso colidia com essa pretensão. A Força Aérea também disse que estando o seu dispositivo estabilizado e a decisão da Escola Internacional tomada e se perceba a evolução do Terminal Civil Aeronáutico de Beja (TCABeja), então haverá disponibilidade para avaliar de novo essa questão.
Há projeto em desenvolvimento para atrair para Beja uma Escola Internacional de Pilotagem Avançada em parceria com a indústria, com privados e forças aéreas de outros países, em que há uma vontade muito forte da Força Aérea e abraça pelo Ministério da Defesa para que isso se venha a concretizar.
Bairro da Força Aérea, com mais de mais de duzentos apartamentos, incluindo a Torre, estão vazios e há instituições que necessitam desses espaços e a FAP não está disponível para cedências.
Essa situação não pode estar desligada daquilo que são os projetos da Força Aérea. Há planos para Beja, leia-se Base Aérea (BA) 11, e em face de tudo aquilo que está pensado, não teremos excesso de apartamentos, antes pelo contrário, teremos falta.
Sei que há algum tempo atrás houve alguma pressão por parte da comunidade local, nomeadamente em relação à “Torre” e por parte da Força Aérea a posição é não inviabilizar projetos que são nossos por não termos capacidade de rececionar, quer as nossas esquadras e famílias virão para a BA 11, quer eventualmente poder atrair projetos internacionais.
É importante para a Força Aérea formar pilotos, que estão a ser enviados para os Estados Unidos da América, bem como atrair outras forças aéreas que poderiam dividir ou repartir custos que temos com a formação desses pilotos.
Percebemos o sentimento, mas também gostaria que a comunidade percebesse a ideia da Força Aérea (FAP) que é: não estamos divorciados da cidade, percebemos as carências da cidade, mas os projetos que queremos implementar em Beja vão dar mais alguma coisa à cidade.
Vamos trazer muitas famílias para o Bairro da Força Aérea e cumulativamente para Beja. Podemos trazer muitos internacionais para a cidade de Beja, de várias nacionalidades caso o projeto da Escola de Pilotagem Avançada seja bem sucedido.
Mas no caso da “Torre” houve um empresário local que avançou com um projeto e a Força Aérea dois anos depois ainda não deu uma resposta, quando esta admitiu que não tinha capacidade para fazer a obra.
Não tenho dados objetivos para responder a essa pergunta. Desconheço como foi e a quem foi feito esse pedido, não sei o que a FAP fez, que forma de contato. É-me de todo impossível pronunciar-me sobre isso.
Acha que a comunidade percebe as respostas dadas pela FAP ?
PC: Não se entenda como capricho ou vontade de dizer não a tudo. Queremos é salvaguardar os projetos para Beja/ BA11 e também outros eventos que não concorrem da melhor forma para fazer de forma diferente. Cá estremos para apoiar a Câmara Municipal e o Terminal Civil dentro das possibilidades da FAP e da BA11 e olharemos para todos os projetos com a maior atenção e disponibilidade.
Sobre o Terminal Civil Aeronáutico de Beja (TACBeja), a Força Aérea Portuguesa (FAP) tem dado todo o apoio à sua viabilização ?
Temos feito tudo para ajudar, para que o mesmo seja atrativo, temos disponibilizado todos os nossos serviços, para que tenha sucesso.
Sobre o encerramento noturno do Aeroporto da Portela de janeiro a junho de 2020, A Força Aérea tem conhecimento se poderão existir aterragem noturnas nas pistas da BA11 ?
PC: Desconheço se há ou houve algum contato entre a ANA-Aeroportos de Portugal e a FAP onde fosse abordada essa questão.
Tem consciência que o espera um trabalho difícil de “recuperar” a BA11 perante a comunidade e as instituições locais ?
Para responder a essa pergunta teria que partir da premissa que está tudo mal e eu não vejo que seja assim, há sempre possibilidade de fazer melhor. É minha intenção de fortalecer os laços que nos unem, porque a FAP e a BA11, faz parte dessa mesma comunidade.
Queremos fazer as coisas de uma forma tranquila, transparente, amiga e fraterna, sou assim tal como o reconheço à Força Aérea. Veja um grande futuro para a BA11 e para a cidade de Beja e todos em conjunto conseguiremos construir soluções interessantes para a cidade e a comunidade.
Teixeira Correia
(jornalista)
Declarações do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital
“A deslocação da base aérea número 1 de Sintra para Beja já na primavera do próximo ano vai libertar muitos constrangimentos na gestão do espaço aéreo na proximidade do aeroporto de Lisboa e permitir mais movimentos com menos constrangimentos do que aqueles que se verificam”, disse Pedro Siza Vieira no 31.º Congresso Nacional de Hotelaria e Turismo, organizado pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que começou esta quinta-feira em Viana do Castelo.
O Lidador Notícias questionou o Gabinete de Imprensa do Ministério da Economia e da Transição Digital (METD), sobre as declarações de Siva Vieira, de que “a Base Aérea N.º1 de Sintra vai para Beja na primavera”, que não é a mesma decisão que estava tomada há vários meses de que em marco/abril seria transferida para Beja a Esquadra 101-Roncos, que opera os aviões Epsilon, solicitando os seguintes esclarecimentos:
1- Para Beja vem toda a capacidade operacional instalada na Base de Sintra, Esquadra 101 e os aviões Chipmunk DHC e planadores ASK-21 ou em causa está tão somente a deslocalização da Esquadra 101 ?
2- Em caso da deslocalização de toda a capacidade operacional instalada na Base de Sintra, tem a ver com alguma alteração aos projeto do aeroporto no Montijo ?
Tendo o Gabinete de Imprensa do METD, referido que as declarações dizem respeito ao que já estava previsto: https://dre.pt/web/guest/home/-/dre/122549966/details/maximized. “que implica a deslocalização antecipada da esquadra de voo 101 (de instrução básica de pilotos) para a Base Aérea n.º 11, em Beja, libertando o espaço aéreo necessário aos fluxos de tráfego aéreo do Aeroporto Humberto Delgado e a esquadra 552, que opera o helicóptero Koala AW 119, será deslocalizada da Base Aérea n.º 11, em Beja, para a Base Aérea n.º 1, em Sintra”.
Confusão das declarações gera resposta: Câmara de Sintra garante que base área não será deslocada
O presidente da Câmara Municipal de Sintra garantiu, na quinta-feira,que a base aérea n.º 1 de Sintra não será deslocada para Beja, contrariando assim a informação veiculada hoje pelo ministro da Economia. “Na sequência das notícias vindas a público esta tarde sobre a ‘deslocação da base aérea n.º 1 de Sintra’ para Beja, a Câmara Municipal de Sintra, após contactos com o Governo, desmente formalmente a referida notícia que causou perplexidade no concelho”, refere uma nota da autarquia.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da câmara, Basílio Horta, garantiu que “é evidente que a base aérea não sai de Sintra”, acrescentando que já falou com o ministro da Defesa sobre o assunto. “Não sei o que disse o ministro da Economia, mas vi a notícia que foi dada, que põe na boca do ministro determinadas afirmações que não correspondem ao que diz a resolução do Conselho de Ministros, que não diz que a base aérea de Sintra é transferida para Beja. Isso criou em Sintra um clima de desconforto que era necessário esclarecer”, afirmou Basílio Horta à Lusa.