Um ex-militar da Guarda Nacional Republicana (GNR), que prestou serviço no Comando Territorial de Évora até 2003, é apontado como líder do grupo que começa hoje a ser julgado no Tribunal de Beja.
O indivíduo é o principal suspeito de ter montado um esquema que envolve mais 14 pessoas e 6 empresas, responsável pela burla de meia centena de empresários, a quem foi causado um prejuízo superior a 1,7 milhões de euros.
Francisco Pardal de 57 anos, natural de Juromenha, concelho do Alandroal, preso no Estabelecimento Prisional de Évora, por trânsito em julgado datado de 12 de maio de 2022, o arguido cumpre uma pena de 9 anos e 6 meses, de um cumulo jurídico que envolve seis processos condenatórios que totalizam 22 anos e 3 meses de prisão.
O antigo Guarda, que contou com a colaboração de Joaquim Caeiro Cardoso, apontado como o seu “braço direito”, liderou um grupo que entre maio de 2012 e julho de 2018, montou um esquema que passou pela criação de empresas fantasmas, duas das quais tinham sede num estabelecimento de diversão noturna em Lisboa, abertura e encerramento de contas bancárias em Portugal e utilização de cheques emitidos a partir de Espanha e indivíduos que funcionavam como recetadores.
O grupo liderado por Francisco Pardal era composto por mais oito portugueses, todos naturais de Borba (Alentejo), três espanhóis, dois malianos e um brasileiro. Os seis arguidos estrangeiros e duas empresas registadas em Espanha e controladas por dois dos espanhóis, foram declarados contumaz, pelo presidente do Coletivo de Juízes do Tribunal de Beja que vai julgar o caso, que tem mais 21 processos anexados.
Francisco Pardal e Joaquim Cardoso escolhiam os alvos, apresentavam-se com diversas identidades e cargos, compravam os bens com os cheques falsos, recebiam faturas e os documentos que oficializavam a posse dos mesmos. Previamente contactavam empresários interessados na aquisição dos camiões ou máquinas, que pagavam sem saberem a sua proveniência. Alguns dos quais acabaram por não receber os bens adquiridos, nem tão pouco o dinheiro de volta. Em outras ocasiões surgiram de permeio nos negócios os irmãos Dyarra, os dois malianos, que funcionavam como recetadores encapotados.
O grupo aproveitava os anúncios nos sites de vendas de camiões e máquinas industriais e com os cheques falsos “compravam” os bens e de imediato vendiam-nas a recetadores a preços inferiores, antes dos proprietários perceberem o esquema engendrado. Para ludibriar os vendedores, os arguidos entregavam cheques, em que na frente eram impressas as palavras “Cheque Conformado”, para fazer crer que eram cheques visados e no verso era escrito “BBVA a Gerência” e apostas duas assinaturas falsas.
No despacho de acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) a que o Lidador Notícias (LN) teve acesso, Francisco Pardal é descrito como o “impulsionador de comportamentos criminógenos” contra quem deduziu acusação pela prática de cerca de uma centena de crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e roubo. O antigo militar da GNR, está acusado de 51 crimes de burla qualificada, 26 de falsificação de documentos, 13 de branqueamento de capitais e 2 de roubo, a maioria deles de forma reincidente.
No documento, o Procurador da República descreve que Francisco Pardal até na prisão continuo a burlar pessoas. “Entre 9 de junho de 2016 e 4 de dezembro de 2018, data em que foi objeto de detenção e posteriormente colocado em estabelecimento prisional, manteve o seu comportamento criminoso”, acusa Miguel F. Rodrigues.
Teixeira Correia
(jornalista)