A LIDERANÇA MILITAR NA GESTÃO DE EXPECTATIVAS


Palavras-Chave: Liderança militar, gestão de expectativas, reconhecimento institucional, progressão na carreira, cultura organizacional.

Rogério Copeto

Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda

Nas instituições militares, a hierarquia é sagrada, onde as estrelas, os galões e as divisas simbolizam não apenas autoridade, mas a confiança depositada em quem os ostenta, pelo que, sob a rigidez das estruturas de comando, esconde-se uma verdade frequentemente ignorada: promover um militar de posto sem alinhar expectativas, reconhecimento e recompensa é como entregar um mapa sem bússola.

Pode-se ascender na carreira, mas sem a direção clara, o entusiasmo definha, a lealdade esvai-se e o futuro institucional compromete-se.  

Promover um militar sem o correspondente aumento de responsabilidades é uma ilusão da promoção sem propósito, porque a ascensão a um novo posto, pede uma liderança que inspire, oriente e valorize, pelo que quando um soldado, sargento ou oficial é promovido e cujas responsabilidades se mantêm, há uma incompreensão das expectativas associadas ao cargo, sentindo que o seu esforço não é reconhecido e não vislumbra que essa recompensa esteja alinhada com o seu sacrifício, perdendo sentido a promoção.  

O militar passa a ocupar uma maior posição, mas não de influência, porque a ausência de clareza gera frustração, e a falta de reconhecimento mina a motivação intrínseca, aquela que move um líder a dar o exemplo mesmo quando ninguém está a olhar.  

Para que uma promoção seja legítima e sustentável, ela deve estar ancorada em expectativas claras e transparentes, onde um líder militar eficaz não delega tarefas, compartilha missões, exigindo comunicar não apenas o que deve ser feito, mas por que e como deve ser feito, dando como exemplo: um capitão promovido a major precisa entender que o seu papel agora transcende a execução de ordens, ele deve tutelar os seus subordinados, antecipar riscos estratégicos e representar os valores da instituição, porque sem essa clareza, o militar sente-se perdido na sua própria patente, tornando-se um gestor de protocolos e não um líder de pessoas.  

A promoção deve também ser um reconhecimento que motive, porque nas instituições militares, medalhas e condecorações são simbólicas, mas o verdadeiro reconhecimento vai além do metal e do tecido e está na valorização do esforço invisível: um sargento que dá formação aos seus militares após o expediente; uma tenente que media conflitos internos sem procurar crédito; um soldado que mantém a disciplina em situações caóticas; pelo que reconhecer publicamente essas ações, seja em forma de elogio, oportunidades de capacitação ou inclusão em projetos estratégicos, reforça que a instituição vê, ouve e valoriza os seus membros.  

E as recompensas alimentam o futuro, tendo em conta que, recompensar é investir no crescimento integral do militar através de cursos de especialização em áreas de interesse, participação em missões de prestígio e outros, pelo que quando a recompensa está desvinculada das ambições pessoais do militar, ela perde significado, onde um cabo que sonha em tornar-se instrutor de tiro, por exemplo, não será motivado por uma transferência para a área administrativa.  

As consequências dessa desconexão, residem na ignorância, que expectativas, reconhecimento e recompensa, andam de mãos dadas, e cujos efeitos são devastadores, tais como a erosão do entusiasmo, onde os militares se tornam funcionários burocráticos, cumprindo horários sem paixão, fuga de talentos, porque os mais competentes procuram instituições ou carreiras onde se sintam verdadeiramente valorizados e a fragilidade institucional, uma vez que uma cadeia de comando fraca abre espaço para a desordem, insubordinação e perda de credibilidade institucional.  

Mas como construir lideranças que transformam? A solução está em repensar a cultura organizacional, nomeadamente através do diálogo contínuo, para alinhar expectativas e aspirar metas, pelo reconhecimento personalizado, devendo-se perceber o que cada militar valoriza, o que poderá ser um elogio formal ou missão desafiadora e por um sistema de recompensas flexível, oferecendo opções, desde a progressão na carreira até especializações, ou cargos internacionais.  

Liderar é cultivar, ou seja, nas instituições militares, a verdadeira liderança não se mede pelo número de estrelas no uniforme, mas pela capacidade de criar pontes para o crescimento, onde promover alguém sem oferecer sentido, reconhecimento e recompensa é como plantar uma árvore sem a regar, mesmo que cresça, jamais dará frutos.  

Aos comandantes que ousam liderar com humanidade e visão estratégica, cabe lembrar, um militar motivado não segue ordens, ele abraça missões, sendo nesse abraço que reside o futuro das instituições que juraram proteger.  

Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.


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