Beja: Assalto ao quartel foi há 58 anos. “Intentona de Beja”, o 25 de abril adiado.
Foi há 58 anos, na noite de 31 de dezembro de 1961 para 1 de janeiro de 1962, que duas dezenas de homens entre militares e civis, empreenderam com coragem e determinação, uma tentativa de golpe de Estado, visando o derrube do regime fascista controlado por António Oliveira Salazar, que ficou conhecido como a “Intentona de Beja”.
Humberto Delgado, foi sempre apontado como o homem que esteve por detrás do golpe, mas sem nunca ter aparecido. O “General Sem Medo”, que estava na clandestinidade veio para Lisboa e depois para Vila de Frades (Vidigueira) onde acompanhou o desenrolar da revolta. Fracasso o golpe, Delgado regressa ao exílio.
Comandados pelo capitão Varela Gomes, o assalto ao quartel do Regimento de Infantaria 3 (RI3), em Beja, contou com a forte presença do major Francisco Vasconcelos Pestana, filho do antigo ministro da I República, Pestana Júnior, do capitão Pedro Marques, do tenente Brissos de Carvalho, primeiro Governador Civil de Beja após o 25 de abril, bem como dos civis Manuel Serra e Fernando Piteira Santos.
No quartel estaria metade da guarnição, cerca de 300 homens, a maior parte nas casernas quando se ouvem as rajadas de metralhadora. “Ainda não era meia-noite, tinha-me acabado de deitar quando ouvi os tiros. A noite era de temporal. Apesar da chuva e do vento ouviram-se os disparos”, recordou Benedito (nome fictício), primeiro-cabo quarteleiro na companhia de Ordem Pública do RI3, que tinha entrado de serviço às 23 horas daquele dia 31 de dezembro.
Os revoltosos dirigem-se ao comando, onde se encontra o major Calapez, segundo-comandante, para tomarem a unidade. O grupo dos revoltosos abrem fogo, e atingem o major Calapez no tórax, este ripostou e de imediato e Varela Gomes fica gravemente ferido no basso, sendo levado para o hospital de Beja. Durante a refrega, foi morto o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, então subsecretário de Estado do Exercito.
“Corri ao gabinete do oficial de dia para receber ordens e dei de caras com mais de uma dúzia de civis”, lembrando Benedito, que do rescaldo dois deles morreram. “Um estava no edifício do comando e o outro foi apanhado junto à enfermaria”, recordando o primeiro-cabo que “foram levados, não se sabe por quem, nem para onde”, remata.
Benedito e os outros militares estiveram de prevenção, fechados no quartel, uma dezena de dias. O primeiro-cabo recorda que foi “ouvido num auto”, por um brigadeiro e meia dúzia de oficiais para “se saber se havia cúmplices dentro do quartel”, cujo resultado nunca soube.
O capitão Varela Gomes foi expulso do Exercito, julgado e preso pela PIDE, enquanto o major Calapez foi considerado “herói” pelo regime de Salazar. Em 1987, por ocasião de uma Presidência Aberta, Mário Soares, o então Presidente da República, na chegada a Beja disse: “se não fosse um tal major Calapez, o 25 de Abril teria acontecido 15 anos antes”.
Teixeira Correia
(jornalista)
Foto: Jornal do Exército