Começa hoje no Tribunal de Beja, o julgamento de um antigo Gestor de Empresas da Agência de Beja do Banco Santander Totta (BST), acusado de ter desviado quase 1,4 milhões de euros, em coautoria material com outros dezassete arguidos. O caso foi revelado pelo Lidador Notícias (LN) em maio de 2016.
Sérgio Páscoa, então com 37 anos, aproveitou-se das suas funções para “interferir no tratamento informático de dados do banco, para conseguir a concessão de créditos e ao pagamento de quantias, obtendo um enriquecimento ilícito e um prejuízo económico à instituição”, justificou o MP no despacho de acusação.
Entre 7 de novembro de 2014 e 10 de fevereiro de 2016, o arguido “criou e geriu processos de concessão de crédito em que eram assinadas livranças, realizados contratos de conta corrente e assinados cheques em branco, que causaram um prejuízo patrimonial de 1.397.000 euros”, descreve a acusação.
O arguido “contava com a colaboração de conhecidos e amigos que por sua vez contrataram outras pessoas para colaborarem no plano e em troca de receberem contrapartidas financeiras”, sustenta o magistrada do MP.
Quando em maio de 2016 o caso foi despoletado e o suspeito apresentou a demissão, fonte do Santander justificou que “foram detetadas irregularidades praticadas por um colaborador no balcão de Beja”, acrescentando que pelos dados apurados “não terá lesado qualquer cliente”, concluiu.
A primeira operação suspeita teve início numa conta bancária da progenitora e da qual o arguido era co-titular, sendo acusado de 38 crimes, 21 dos quais em autoria e 17 em coautoria com os restantes arguidos, de burla qualificada, falsificação de documentos e falsificação informática. Os restantes 17 arguidos estão acusados de um crime de burla informática e outro de falsificação de documento, cada um.
Inconformados, seis arguidos, quatro pessoas e duas empresas, pediram a abertura da instrução do processo, mas o Juiz de Instrução Criminal manteve as acusações, e vão ser todos julgados pelos crimes pelos quais foram pronunciados na acusação.
“Casa assombrada”
Quando o caso foi revelado pelo LN, o edifício onde fica situado o banco e onde já esteve sediado outra instituição bancária, foi batizado como a “casa assombrada”. Há duas décadas, quando lá esteve instalado o Crédito Predial português (CPP), um funcionário desviou uma avultada quantia em dinheiro de clientes. O autor do desfalque foi Francisco Esperança, o homem que em 21 de fevereiro de 2012 matou a mulher, filha e neta à catanada. O triplo homicida que dias depois se suicidou, cumpriu pena de prisão no Estabelecimento Prisional de Beja, pelo desvio do dinheiro do CPP, onde acabou por se formar em Direito.
Teixeira Correia
(jornalista)