Beja: Pax Júlia-Teatro Municipal recebe antestreia de RAIVA, um filme de Sérgio Tréfaut.


O Pax Julia – Teatro Municipal de Beja recebe na terça-feira, dia 2 de outubro, pelas 21h30, a antestreia de RAIVA, um filme de Sérgio Tréfaut.

RAIVA, com com a participação de Isabel Ruth, Leonel Silveira e o alentejano Hugo Bentes (na foto). A entrada é gratuita mediante levantamento prévio de bilhete na bilheteira do Teatro aberta de terça a sábado entre as 16h00 e as 20h00 e em dias de espetáculo (terça a sábado entre as 16h00 e as 22h00; domingos das 14h00 às 18h30).

Sinopse

Alentejo, 1950. Nos campos desertos do Sul de Portugal, fustigados pelo vento e pela fome, a violência explode de repente: vários assassinatos a sangue frio têm lugar numa só noite. Porquê? Qual a origem dos crimes?
Adaptação de «Seara de Vento», de Manuel da Fonseca, um clássico da literatura portuguesa do século XX, Raiva é um conto negro sobre o abuso e a revolta.

Nota do realizador
Em 1933, os jornais portugueses deram destaque a uma história violenta que ficou conhecida como «a tragédia de Beja». O episódio foi capa do Diário de Notícias e transformou-se num folhetim informativo, com direito a ilustração.
Tudo começou à hora do jantar, quando um camponês armado invadiu a casa de um grande proprietário alentejano e disparou sobre dois homens, matando-os imediatamente. Eram o dono da propriedade e o seu filho. De seguida, o homicida fugiu e trancou-se no casebre isolado onde vivia com a família. Este homem havia sido preso meses antes por furto de cereais. Agora era cercado no seu casebre pela guarda pesadamente armada. Mas não se rendeu. Foram chamados reforços. O próprio exército. O tiroteio foi tão intenso que mais de cinquenta anos depois havia balas nas paredes do casebre. Muitos soldados caíram e chefe da guarda foi morto. Existem várias versões sobre o final do «louco assassino». Mas a imprensa da época garante que para pasmo de todos o seu enterro foi muito concorrido. A história transformou-se num mito.

Vinte anos mais tarde, Manuel da Fonseca, escritor e jornalista de renome, investigou este episódio para criar o romance «Seara de Vento». Na versão de Manuel da Fonseca, o monstro criado pela imprensa durante a Tragédia de Beja transforma-se um herói solitário, vítima do abuso de poder e símbolo de resistência.
O livro é um grito de indignação face à injustiça social no Alentejo, onde ser dono das grandes propriedades significava também ter mão no poder político, na guarda, na igreja e ser dono dos homens.
«Seara de Vento» tem algo de western, com tiroteios, paisagens desertas e um herói soturno.
Mas também tem algo de épico. É um romance militante, marcado por um certo romantismo político. Viria logo a ser proibido e retirado das livrarias. A frase final do romance «um homem só não vale nada», atirada em forma de grito desesperado por uma velha que representa a própria terra, significa talvez «unidos podemos mudar o mundo». A esperança na revolta e no ideal socialista está no horizonte.

«Raiva», a versão cinematográfica deste livro nada tem de romântico, nem de naturalista.
“É seca, sem qualquer tentativa de comiseração, sem qualquer apelo ao sentimentalismo ou ao idealismo. Não se oferecem promessas políticas de um futuro melhor, mesmo que alguns justamente se unam e tentem lutar de forma clandestina.
A injustiça é aqui retratada como um ciclo que se repete, e se repetirá sempre sob novas formas, mesmo que passemos toda a vida a lutar contra ela.
Escolhi adaptar um clássico do neo-realismo português, talvez o livro mais emblemático sobre o Alentejo e sobre a sua realidade ancestral, como um desafio. O filme, tal como o livro, fala do abismo entre pobres e ricos”, refere Sérgio Tréfaut.


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