Bombeiros: 81 viaturas do PRR paradas. Muitas perguntas e poucas respostas.


“Foram 81 partos prematuros. Sete meses depois, regressaram à “mãe” (fabricante). Têm mais defeitos que virtudes”. É desta forma que em muitos Corpos de Bombeiros avaliam o atribulado processo de entrega e recolha dos novos veículos florestal de combate a incêndios (VFCI) e veículos tanque tático rural (VTTR), adquiridos através de verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

O despiste do VFCI dos Bombeiros Voluntários de Odemira (BVO) no dia 1 de janeiro, quando regressa ao quartel e que originou cinco feridos, um dos quais viria a falecer, levantou um coro de críticas e perguntas, até agora sem respostas.

Uma das vozes discordantes que se fez ouvir foi a de Fernando Gonçalves, comandante dos Bombeiros Voluntários de Arganil, que afirmou: “verificámos que o depósito não estava centrado e havia um problema no rodado traseiro. Pedimos ao comercial da empresa carroçadora, que disse que já tinha referenciado na ANEPC, que era um defeito nos veículos todos”, sustentou

Quando a Ministra da Administração Interna ordenou “parar de imediato as viaturas, até nova indicação”, como o Lidador Notícias (LN) revelou em exclusivo na passada terça-feira, avolumou-se o número de vozes a apontar as anomalias que os veículos apresentavam.

Aquando do conhecimento da morte de Dinis Conceição, operacional dos BVO, um dos cinco envolvidos no capotamento de um VFCI, na edição online, o LN avançava que na viatura envolvida no acidente foram detetadas anomalias, pelo que a mesma iria ser inspecionada pela empresa encarroçadora na segunda-feira seguinte, dia 7 de janeiro.

Quando se deu o acidente, já o comando da corporação alentejana tinha recebido a comunicação da empresa encarroçadora de que a mesma deveria ser levada para as suas instalações, a fim de ser inspecionada.

Houve comandantes de corporações que mandaram “encostar” os veículos com a ordem expressa de os mesmos serem usados “só em casos de necessidade extrema”, por outras palavras, só saiam para o terreno caso não existisse mais nenhum veículo de combate a incêndios.

“Chassis inapropriados para o tipo de veículo, cabine dupla montada em separado (tipo acrescento), material empregue no rollbar/Santo António diferente do aço que é recomendado pelas normas europeias, cofre da retaguarda em plástico e cabine descentrada com distância diferença entre os dois lados e a carroçaria”, são muitos dos problemas que uma fonte afeta ao comando de uma corporação de bombeiros descreveu ao LN.

Por forma a esclarecer a situação, todas estas questões foram colocadas à empresa Jacinto Marques de Oliveira, Sucrs, Lda, com sede em Esmoriz, a vencedora do concurso promovido pela Entidade de Serviços Partilhados da Administração Interna (ESPAP), mas o LN não obteve qualquer resposta.

Outra questão levantada, tem a ver com a entidade que deveria ter feito a inspeção e aceitação dos veículos, uma vez que o Caderno de Encargos da ESPAP, é omisso nesse capítulo, dizendo somente que: “a entidade compradora emite auto de recção quando não sejam detetados quaisquer defeitos ou discrepâncias em relação às características, especificações e requisitos técnicos definidos no presente cadernos de encargos”.

Situação distinta envolve o fornecimento de 8 veículos, 6 VFCI e 2 VTTF, também no âmbito do PRR para a Força Especial de Proteção Civil, o Caderno de Encargos da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), prevê que: “a entidade adjudicante, por si ou através de terceiro por si designada, procede, no prazo de 20 dias, a contar data e entrega dos bens, à inspeção quantitativa e qualitativa dos mesmos”.

Também no preço dos veículos há uma grande discrepância. Os veículos do concurso da ESPAP custaram 170.000 euros cada, enquanto que no caso da ANEPC esse custo é substancialmente maior, 230.000 euros cada um.

Quando colocado perante valores dos veículos, a fonte contada pelo LN, justificou que “há corporações que compraram em 2017 veículos de cabine integral que custaram 170.000 euros. No presente, o mesmo veículo custa 250.000 euros. Portante, como dizia aquele antigo Primeiro-ministro, é só fazer contas”, concluiu.

Além da Jacinto Marques de Oliveira, Sucrs, Lda, o LN questionou a ANEPC sobre os eventuais problemas com as 81 viaturas do concurso da ESPAP, a autoridade esclareceu que “enquanto se encontrar a decorrer o processo de inquérito, não será prestado qualquer comentário”, justificaram.

Redes Sociais: Comentários apontam erros

Na página de facebook a empresa Jacinto Marques de Oliveira, Sucrs, Lda, tem um anúncio de um veículo para combate a incêndios 4×4 e há dois comentários que se destacam, onde se abordam algumas das questões levantadas pelo LN.

O primeiro refere que “o rollbar apenas estético … mas fica bonito é isso que interessa”, sendo que uma segunda opinião versa sobre as cabines apontando que “pois esta já vem de origem a cabine dupla”.

Teixeira Correia

(jornalista)


Share This Post On
468x60.jpg