Carmelo de Beja: Família Cruz Martins deixa aviso à Igreja. Ou Carmelitas ou reversão.


Herdeiros de família doadora de terreno do Carmelo quer reversão do espaço se as Irmãs Carmelitas não regressarem ao Mosteiro. Bispo de Beja mantém silêncio sobre o assunto, mesmo depois de ter recebido um dos filhos da Família Cruz Martins.

“Ou regressam as Irmãs Carmelitas ou a Diocese/Igreja devolve o Carmelo à nossa família. Ou fazem-no a bem ou fazem-no em tribunal”, avisou Francisco Cruz Martins, um dos filhos do casal que doou o terreno, com muito mais do que 1 hectare, para construção do Carmelo de Beja.

Os herdeiros do casal Maria Benedita e Francisco Cruz Martins, que em 1963 doou o terreno e pagou parte da construção do mosteiro onde foi instaurado o Carmelo do Sagrado Coração de Jesus, de Beja, pretendem a reversão do espaço caso o mesmo não volte a ser ocupados pelas irmãs carmelitas.

Tendo como justificação “a falta de irmãs” na Comunidade Carmelita, a Diocese “executou” em 22 de outubro de 2019 o decreto de supressão que fora assinado por D.José Rodriguez Carballo, a 12 de julho, em Roma. Na altura estavam no Mosteiro três freiras, para um mínimo de cinco ligadas a uma comunidade maior, que poderia ter sido Sevilha.

Ao Lidador Notícias (LN), Francisco, um dos herdeiros do casal Cruz Martins, advogado de profissão, foi taxativo ao recordar a escritura datada de 21 de novembro de 1963 (fotos desse dia em que Maria Benedita e Francisco Cruz Martins com as Irmãs a assinarem o documento) que refere tratar-se de uma “doação pura e irrevogável às Irmãs Carmelitas da Antiga Observância do Carmelo do Sagrado Coração de Jesus”, acrescentando a família “quer e vai cumprir os desígnios dos meus pais”, justificou.

“Fui recebido pelo Bispo de Beja com quem almocei. Questionei-o sobre quem tomava decisões no Camelo e foi-me respondido que desconhecia. Recentemente enviei uma carta regista a D.João Marcos, e até hoje estou à espera de resposta” acusa Francisco Martins.

O Carmelo situa-se na entrada norte de Beja, na ligação a Lisboa, instalado num terreno com 13.485 m2 e Francisco Martins deixa uma garantia aos seus conterrâneos e à comunidade cristã: “não queremos um tostão daquele espaço. Se não for para as carmelitas, será destinado a uma obra de caridade. A Diocese/Igreja que fique ciente o terreno regressa à família a bem ou em tribunal”, garantiu.

Habitado desde 24 de maio de 1971 por Monjas Femininas, as primeiras seis vindas de Sevilha em 1954, quatro das quais portuguesas, o Carmelo ficou desabitado no passado dia 27 de setembro de 2022, com a saída das duas últimas Irmãs Carmelitas, Madalena e Luísa, cujo novo destino se mantém desconhecido. No passado mês de agosto, Inês a terceira das religiosas tinha deixado o Carmelo e sido deslocada para Sevilha.

Na manhã da passada quinta-feira, os portões do Carmelo apareceram pejados de papéis em protesto contra o encerramento do espaço religioso. Nas mensagens afixadas podia, e ainda pode, ler-se que “foi encerrado por vontade e decisão da Santa Sé. A comunidade cristã e amigos do Carmelo está indignada e solicita a reabertura”.

Contatado o Bispo de Beja, D.João Marcos, tal como na semana passada, não respondeu às questões colocadas pelo LN. Por seu turno o Comissário em Portugal da Ordem do Carmo, Padre Agostinho de Castro, justificou que a congregação “já não reunia as condições canónicas para um regular funcionamento de um mosteiro de clausura”, acrescentando que as demais questões entre elas a possível reversão “estão a ser tratadas nas devidas instâncias. Tenho conhecimento das mesmas”, mas não. Não poderei acrescentar mais nada”, concluiu.

Negócio Imobiliário ? Averbamento inviabiliza novas construções.

Num averbamento do Estado de 1 de março de 1971, ao edifício foi acrescentado o Ónus Real que: “Consiste em não poderem ser construídos novos edifícios ou alterados os existentes numa área compreendida medidos a partir dos pontos mais salientes da Cadeia da Comarca de Beja sem autorização do Ministério das Obras Públicas”.

O Lidador Notícias sabe que há vários meses atrás, uma figura política de Beja visitou o espaço, então como intermediário, e em causa estava o interesse por parte de um poderoso grupo turístico/imobiliário de Espanha, para construir um hotel de luxo.

Teixeira Correia

(jornalista)


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