Cuba: “Revolta silenciosa” em Vila Alva, no funeral do bombeiro Carlos Carvalho.
Foi o quarto bombeiro que morreu em julho em combate a incêndios. Percebeu-se a “revolta silenciosa” em Vila Alva, no funeral de Carlos Carvalho. “Solidariedade não equipa bombeiros”.
A aldeia de Vila Alva, célebre pelos seus vinhos novos de talha, com cerca de 400 habitantes, foi pequeníssima para acolher centenas de pessoas que quiseram prestar a última homenagem a Carlos Carvalho, o operacional dos Bombeiros Voluntários de Cuba (BVC), falecido na quinta-feira na sequências das graves queimaduras que sofreu em todo o corpo, quando combatia um incêndio no passado dia 13 de julho, em Castro Verde.
O Presidente da República, o Ministro da Administração Interna, o comandante Operacional da ANEPC, presidente da Liga de Bombeiros, os comandantes e diversos elementos das 15 corporações do distrito, além de centenas de cidadãos da terra e anónimos disseram “presente” no último adeus a um jovem de 40 anos, que era “o grande amparo e auxílio da mãe”.
Apesar do braseiro de 40 graus que se faziam sentir em Vila Alva, ninguém ficou indiferente à dor da família de Carlos e aguentarem estoicamente no exterior da casa mortuária e acompanharam pelas ruas da aldeia o cortejo fúnebre, com o corpo do malogrado bombeiro a ser transportado em cima de uma viatura da corporação que servia.
A presença de Marcelo Rebelo de Sousa e de Eduardo Cabrita, que chegaram e partiram em silêncio, foi sentida como um gesto de solidariedade e de apoio para com a família do bombeiro, deixa o mais importante para trás subjacente à falta de material e equipamentos com as corporações se debatem e como dizia um respeitável senhor na sombra do jardim: “agora são sopas depois de almoço”.
Carlos Carvalho estava internado na Unidade de Queimados do Hospital de São José, em Lisboa, desde o dia do incêndio em estado que foi sempre considerado como “muito grave”, uma vez que apresentava queimaduras em 95% do corpo, nunca tendo saído do coma. A lutar pela vida continua Carlos Heleno, 29 anos, o outro operacional dos BVC, que apresenta uma situação mais favorável já que tem o corpo menos queimado.
Ao grito emocionado de José Galinha, comandante do Corpo de Bombeiros de Cuba, “Carlos Carvalho … presente”, topou-se a campa e fechou o ciclo de vida de mais um operacional dos bombeiros, o quarto que morreu durante o passado mês de julho, no combate a incêndios.
Lamentos de uma vida perdida
Aqui e ali as pessoas de Vila Alva aceitavam falar mas sem querer ser identificas e uma vizinha disse ao JN: “é difícil descrever uma pessoa depois de morrer. O Carlos era uma pessoa boa, não foi preciso morrer. Era o melhor amigo da Fernanda (a mãe). Vai ficar a fazer-lhe muita falta. Depois de uma queda de um andaime na construção civil há cerca de seis anos, decidiu ir para os bombeiros para ajudar os outros”.
Teixeira Correia
(jornalista)