Foi um verdadeiro presente de Natal “envenenado” aquele que a população de Ervidel, no concelho de Aljustrel, “recebeu” no final do ano passado, quando foi plantado um olival superintensivo, num terreno de 100 hectares, cujo limite está a cinquenta metros da aldeia.
Se a plantação causou a revolta da população, poucos dias depois uma forte chuvada arrastou a terra que antes tinha sido alvo dos trabalhos de cultivo, e a lama invadiu ruas e casas, causando diversos prejuízos.
Para dar visibilidade aos protestos, foi criado o Movimento Cívico Ervidel em Ação (MCEA), que já realizou diversas ações, a última das quais no passado domingo, junto ao recém-plantado olival, “para mostrar o descontentamento da comunidade em relação à proximidade do mesmo, e apelar às entidades competentes, medidas que defendam o interesse e saúde da população”, justificou Manuel Nobre, o porta-voz do MCEA.
A iniciativa juntou dezenas de ervidelenses, tendo sido colocadas diversas placas no caminho que rural que separa as habitações e o olival, mas “esta segunda-feira de manhã já tinham sido arrancadas, sinal de que a ação sortiu efeito e chamou a atenção do proprietário da plantação”, justificou Manuel Nobre.
“A população está num estado de “RIA”, revoltada, intranquila e alarmada”, ironizou o porta-voz do movimento, que justificou que “com camalhões de terra alinhados com a aldeia e os ventos dominantes de Norte, tem tudo para correr mal”, resumiu.
O porta-voz do MCEA lembrou que o olival “está situado nem plano orográfico superior à aldeia, sobre uma linha de água, a que se juntam os pesticidas e fitofarmacêuticos, aplicados com pulverização aérea e alta pressão, o que aumenta os riscos para a nossa saúde e qualidade de vida e dos nossos filhos”, rematou.
O Plano Diretor Municipal (PDM) de Aljustrel só foi aprovado em janeiro do corrente ano e onde é previsto que as plantações têm que estar a 250 metros das localidades, mas o olival foi plantado escassos dias antes do final de 2024. “Parece que foi plantado à pressa para contornar a lei, porque nem o sistema de rega tem montado. Para fazer a plantação, o agricultor “não teve que dar cavaco” à autarquia”, sustentou Manuel Nobre.
Numa reunião realizada há 15 dias, com membros do Movimento Chão Nosso, “foram revelados casos de pessoas que abandonaram as suas localidades com problemas de saúde. Num Alentejo despovoado, vamos ficar ainda mais pobres”, concluiu.
O MCEA já pediu uma reunião à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) e outras se vão seguir, nomeadamente ao Ministério da Agricultura e deputados da assembleia da República, por forma a reverter a situação e que sejam respeitados os 250 metros entre o olival e a aldeia de Ervidel.
Teixeira Correia
(jornalista)