Hugo Bentes: De cantador a protagonista de filme, no papel do Palma em “Raiva”.
Hugo Bentes, técnico de som da Câmara de Serpa e cantador do Grupo Coral da Casa do Povo da cidade e dos “Alentejanos”, vive no cinema, uma nova faceta na vida, interpretando papel de Palma, no filme “Raiva”. Hoje passam 4 anos sobre a elevação do cante alentejano a património da UNESCO.
Profissão: Técnico de som da Câmara de Serpa
Nascimento: Serpa e Residência: Beja
Em 1958, Manuel da Fonseca escreveu o livro “Seara de Vento”, onde narrava um caso da vida real ocorridos nos anos 30 no Alentejo, quando um individuo matou a tiros de caçadeira, pai e filho de uma família rica. Sessenta anos depois, o cineasta português Sérgio Tréfaut, filho de Miguel Urbano Rodrigues, um escritor alentejano, natural de Moura, muda a história, faz um filme a preto e branco e dá-lhe o nome de “Raiva”.
A chave para a realização do filme, surge durante a realização do documentário “Alentejo, Alentejo”, dedicado à nomeação do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade. Depois de ler o livro, Tréfaut escreve o guião do filme e destaca a figura do Palma, o tal homem que de caçadeira em punho, mata os dois “senhores da terra”.
Na mente do realizador surge, o nome de Javier Bardem, mas o espanhol não está pelos ajustes para encarnar a figura do homem rude alentejano. Tendo sido a cara do cartaz do documentário “Alentejo, Alentejo”, Sérgio Tréfaut, vê em Hugo Bentes, técnico de som da Câmara de Serpa e cantador do Grupo Coral da Casa do Povo daquela cidade alentejano, a “figura do Palma”.
Lido o guião de “Raiva”, o realizador convence o ator improvável a interpretar o papel. Hugo recorda quando Sérgio lhe disse: “Quero que sejas o protagonismo do filme”, e apesar de ter respondido que não era ator, recebeu como resposta: “Hugo tu és capaz”, lembra de olhos a brilhar de alegria.
Num monte construído no Cantinho da Ribeira, freguesia de Trindade, concelho de Beja, é onde aos 40 anos, o homem pai de dois rapazes e que adora o cante alentejano, salta para a ribalta do cinema. “Ser o Palma não foi fácil. Mas, rapidamente me identifiquei com “aquele homem”, pela sua forma de pensar de agir e de viver a família”, remata.
Hugo Bentes recorda aquele que foi um dos maiores desafios da sua vida. “Aprendi em tempo real. Não houve ensaios de guião ou narrativa. Saiu de forma fluída, porque tive excelentes atores ao meu lado”, atira.
Quando colocado sobre a figura do Palma, Hugo, lembra o seu Alentejo. “Viveu-se muita miséria. E pela forma de pensar e de ser, revivi em mim aquele Homem, que lutou contra a pobreza e pelo pão para a sua família”, conclui.
As reações às antestreias realizadas em todo o distrito de Beja, “têm sido muito boas”, justificando que os alentejanos se “identificam muito com a história”, recordando que ele marca “a identidade e a realidade de um povo, o seu sofrimento e a sua a sua angústia”, naquilo que o ator considera “o início de uma luta de classes”, remata.
Teixeira Correia
(jornalista)