Quarta-feira, Outubro 29, 2025

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NO LADO CERTO DA HISTÓRIA

A expressão “no lado certo da história” tem ganho uma presença marcante no discurso contemporâneo, especialmente em contextos de decisão moral, social e organizacional, sendo usada para designar a posição que, à luz do tempo e da ética, se revelará como justa, correta e alinhada com valores universais de dignidade, equidade e respeito, esta expressão serve de farol para indivíduos e instituições que procuram orientar-se num mundo em constante transformação.

Rogério Copeto

Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Dirigente da Associação Nacional de Oficiais da Guarda

No domínio da gestão de recursos humanos e da liderança, estar “no lado certo da história” significa colocar as pessoas no centro das decisões, reconhecendo nelas não apenas recursos produtivos, mas seres humanos completos, portadores de identidade, propósito e potencial.

Durante décadas, o paradigma dominante da gestão organizacional foi marcado por uma lógica funcionalista, onde o desempenho, a produtividade e o lucro se sobrepunham frequentemente ao bem-estar humano, sendo a gestão de recursos humanos vista, muitas vezes, como uma ferramenta para servir os objetivos da instituição, em vez de uma filosofia que integrasse a visão de que as pessoas são o coração das organizações

No entanto, a evolução das práticas de gestão nas últimas décadas, impulsionada por fatores como a globalização, a transformação digital, as mudanças demográficas e as crises sociais, tem vindo a revelar que as instituições sustentáveis e éticas são aquelas que humanizam a sua liderança e cultivam culturas organizacionais baseadas na confiança, na empatia e no respeito.

Estar “no lado certo da história” em gestão de pessoas é, pois, adotar uma liderança humana, capaz de equilibrar resultados com responsabilidade social, desempenho com dignidade e eficiência com empatia, cujo tipo de liderança não se mede apenas pelos indicadores operacionais, mas também pela qualidade das relações humanas que promove, pela forma como cuida das suas equipas e pela capacidade de gerar sentido e pertença.

A liderança humana assenta em três pilares fundamentais, a autenticidade, a empatia e o propósito, sendo o líder autêntico aquele que se conhece, que age de forma coerente com os seus valores e que assume a vulnerabilidade como parte da força, e ao contrário da liderança autoritária ou tecnocrática, a liderança humana compreende que o poder não está em controlar, mas em inspirar, porque o líder empático é aquele que escuta com atenção, que compreende a diversidade de perspetivas e que cria condições para que cada pessoa se sinta vista e valorizada, cujo o propósito funciona como um norte moral, o compromisso de deixar uma marca positiva nas pessoas e na sociedade.

As organizações que escolhem estar “no lado certo da história” são aquelas que compreendem que a dignidade humana é inegociável, significando isso investir em políticas de bem-estar, promover a inclusão e a diversidade, assegurar a equidade, oferecer oportunidades de desenvolvimento contínuo e valorizar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, porque mais do que benefícios complementares, estas práticas representam um posicionamento ético e estratégico, que ao cuidar das pessoas, as organizações cuidam do seu futuro.

O impacto de uma liderança centrada nas pessoas não se limita ao ambiente interno, sendo que em tempos de crises globais, climática, económica, social e tecnológica, as instituições são cada vez mais chamadas a assumir um papel ativo na construção de um mundo mais justo e sustentável, pelo que estar “no lado certo da história”, implica reconhecer que o sucesso empresarial não pode ser construído à custa da exploração, da desigualdade ou da indiferença e a responsabilidade social corporativa, quando integrada de forma genuína, é uma extensão natural da liderança humana, traduzindo-se em decisões conscientes sobre o impacto das operações, na transparência das práticas e na contribuição positiva para a sociedade.

Contudo, esta expressão também carrega um desafio ético: quem define o “lado certo” da história? O risco de se assumir uma postura moralmente superior, desprovida de autocrítica, é real, por isso, estar no lado certo não é um ponto de chegada, mas um processo contínuo de reflexão e aprendizagem, implicando questionar práticas, reconhecer erros, adaptar-se e, sobretudo, ouvir as pessoas dentro e fora da organização, porque a história julga não apenas as intenções, mas as ações concretas que traduzem os valores proclamados ou a omissão dos mesmos.

As lideranças que resistem à mudança, que continuam a ver as pessoas como custos ou meros instrumentos de produtividade, tendem a ficar “do lado errado da história” e aquelas que cultivam confiança, propósito e bem-estar constroem organizações mais resilientes, criativas e humanas, capazes de prosperar em contextos de incerteza e no fundo, estar no lado certo é escolher a humanidade como estratégia.

O futuro, será, inevitavelmente, mais humano, porque à medida que a tecnologia evolui, nomeadamente a inteligência artificial, o valor distintivo das pessoas residirá nas suas capacidades relacionais, emocionais e criativas, reforçando a necessidade de líderes que saibam inspirar, apoiar e desenvolver talentos de forma ética e inclusiva, porque a gestão de recursos humanos centrada nas pessoas é, assim, não apenas uma opção moral, mas uma exigência estratégica e a única via para organizações verdadeiramente sustentáveis, capazes de deixar uma herança positiva, não apenas nos resultados, mas na história que ajudam a escrever.

Em suma, estar “no lado certo da história” no contexto da gestão de pessoas e da liderança humana é adotar uma visão que une ética, empatia e responsabilidade, sendo que compreender que o verdadeiro progresso organizacional não se mede apenas em lucros, mas no impacto humano que gera, porque a liderança que escolhe este caminho assume a coragem de servir, a humildade de aprender e o compromisso de fazer o bem, mesmo quando não é o caminho mais fácil, sendo precisamente essa coragem, essa coerência e essa humanidade que, no futuro, determinarão quem, de facto, esteve do lado certo da história.

Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.

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