Através do seu representante, proprietários acusam o Governo de mentir e o recurso aos tribunais para travar ocupação do Zmar é hipótese. O caso já é tido como “uma embrulhada legal e precipitada do Governo”.
O advogado Nuno Silva Vieira, representante de 114 dos 160 proprietários de habitações (Zmontes) no empreendimento Zmar, localizado na freguesia Longueira-Almograve, concelho de Odemira, afirmou ao Lidador Notícias (LN) que “se durante a próxima semana o Governo mantiver a postura de não dialogar, vamos recorrer aos tribunais para travar a requisição”, justificou.
O causídico acrescentou que o recurso “será por vício na fundamentação por parte do Executivo, ao dizer que tomou a decisão, depois de não ter chegado a acordo para a cedência do empreendimento”. Sem papas na língua, Nuno Silva Vieira foi mais longe e acusou o Governo de “estar a mentir” sustentando que “não falaram com ninguém sobre a situação”, rematou.
O recurso aos tribunais é uma forma de combater o despacho assinado pelo Primeiro-ministro António Costa e Ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita que decretou “a requisição temporária, por motivos de interesse público a totalidade dos imóveis e dos direitos a inerentes” que compõem o empreendimento Zmar Eco Experience”.
O Governo, sustenta o advogado, “não fez o trabalho de casa e tomou uma decisão precipitada. Pensou que o empreendimento era algum pardieiro. Se calhar nem sabia do plano de recuperação aprovado em tribunal”, concluiu. “Hoje (sábado) surgiram notícias de que o Zmar deve dinheiro ao Estado. É mentira. Deve à AICEP e ao Turismo de Portugal e o plano aprovado visa esse pagamento”, sustentou.
Nuno Silva Vieira reuniu na sexta-feira com o presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro, a quem ficou de apresentar um relatório das necessidades financeiras para colocar o Zmar ao serviço do Estado. “Vai também incluir a relação das 160 casas dos proprietários a não utilizar, caso exista essa necessidade”, concluiu.
Quem já veio a público manifestar oposição à decisão do Executivo de António Costa foi o Bastonário da Ordem dos Advogados (AO), Luís Menezes Leitão, que considera que o caso “pode constituir uma lesão de direitos humanos, que deve por isso ser objeto de apreciação pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem”, defendendo que ao ser levantado o estado de emergência “os cidadãos têm os mesmos direitos a ser protegidos contra intervenções arbitrárias do Estado na sua propriedade e no seu domicílio familiar”, rematou.
Amanhã (segunda-feira) Luís Menezes Leitão vai visitar o Zmar e na companhia do Luís Silva Vieira, vai fazer uma declaração pública sobre a ilegalidade da medida anunciada por António Costa.
No seio da Câmara de Odemira toda a situação é vista como “uma embrulhada legal e precipitada do Governo”. O presidente da autarquia, José Alberto Guerreiro não quer prestar declarações sobre o Zmar sustentando apenas que: “a câmara foi confrontada com a requisição e não foi ouvida sobre o assunto. O processo está em desenvolvimento”, disse.
Na sexta-feira o autarca revelou que a Pousada da Juventude de Almograve vai receber os infetados com covid-19 nos seus 42 quartos e que os excedentários, os convalescentes e pessoas que habitem em condições consideradas inadequadas, seriam alojadas no ZMar. Não há ainda data para que o processo de transporte de pessoas para aqueles locais seja efetuado.
A fixação de cercas sanitárias nas freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve, levou à interdição de deslocações rodoviárias de e para aquelas freguesias, sendo exceções as entradas e saídas para as atividades ligadas a três setores de serviços: básicos/essenciais, escolares e sociais.
Entretanto a Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA) que a proibição de circulação de trabalhadores provenientes de outras freguesias “vai implicar um desperdício de milhares de toneladas de produtos agrícolas e despesas e perdas de milhões de euros para todas as empresas que operaram na região”, justificando que compromete em alguns casos “todo o ano de produção”, remata a AHSA.
Para obstar à circulação rodoviária, a GNR, através do Destacamento Territorial de Odemira, do Comando de Beja, com reforços de meios de outros comandos territoriais, tem quatro controles rodoviárias em Vila Nova de Milfontes, Alguceiras, Baiona e Boavista dos Pinheiro, não havendo até ao momento registo de irregularidades.
Teixeira Correia
(jornalista)
Foto: Reinaldo Rodrigues/ Global Imagens