Opinião (Rogério Copeto/ Oficial da GNR): INCÊNDIOS- PRIORIDADE AOS COMBATENTES!


Por ser assunto incontornável e já aqui abordado por duas vezes, sempre antes do início da Fase Charlie e antes dos incêndios serem notícia, trago outra vez o tema ao LN, para abordar os incêndios na perspectiva dos combatentes e não da floresta.

COPETO ROGER_800x800Rogério Copeto

Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

Chefe da Divisão de Ensino/ Comando da Doutrina e Formação

Conforme referi, este ano já aqui abordei o assunto dos incêndios, para dar conta que o ano de 2014 terminou com um dos mais baixos registos de incêndios deste século e que entre 01 de janeiro e 15 de outubro de 2015 se registaram menos 18% de ocorrências relativamente à média verificada no decénio 2005-2014 e ardeu menos 38% do que o valor médio de área ardida para o mesmo período.

Também referi que o presente ano se iniciou com o melhor registo da última década, sendo que comparando os valores do ano de 2016 com o histórico dos últimos 10 anos, destaca-se que se registaram menos 74% de ocorrências, relativamente à média verificada no decénio 2006-2015, e que ardeu menos 88% do que o valor médio de área ardida nesse período. O ano de 2016 apresentava, até ao dia 15 de junho, os valores mais baixos, quer em número de ocorrências quer em área ardida, desde 2006 e no mês de julho ardeu menos que a média dos últimos 10 anos, conforme é referido no artigo do Diário de Noticias “Julho teve menos área ardida do que a média do últimos 10 anos”, de 2 de agosto

Para estes resultados muito terá contribuído o trabalho desenvolvido na prevenção, nomeadamente pela GNR, que todos os anos realiza as operações “Operação Ignição Zero” e “Operação Floresta Segura”, procedendo à fiscalização do cumprimento do DL 124/2006 de 28 de junho, no que diz respeito à limpeza da floresta e das faixas de gestão de combustíveis, tendo tido como resultado a fiscalização de metade do território nacional, conforme refere a edição de 12 de agosto do Público no seu artigo “Antes da época de incêndios, GNR fiscalizou metade do território nacional”.

Mas infelizmente o ano de 2016 não irá terminar como sendo um dos melhores, mas possivelmente como um dos piores no que diz respeito à área ardida, conforme refere o Diário de Noticias na sua edição de 11 de agosto “Ardeu mais na primeira semana de agosto do que em anos inteiros” e na edição do dia 12 de agosto, o Público dava conta que “Portugal tem metade da área ardida na UE este ano: 90 mil hectares”.

O último mau ano foi o de 2013, que ficou registado como sendo o terceiro mais gravoso da última década, logo seguir a 2003 e 2005, no que diz respeito à área ardida, tendo sido no entanto o pior devido à perca de vidas humanas, que ocorreram durante o combate aos terríveis incêndios que se verificaram nesse ano.

Devido ao número elevado de perdas humanas, por parte dos bombeiros, tendo falecido onze homens e mulheres, foi elaborado o Relatório “Os grandes incêndios florestais e os acidentes mortais ocorridos em 2013” da autoria do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, do Departamento de Engenharia Mecâ­nica, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra.

Por muito que a floresta seja um bem a preservar, o bem vida humana é aquele que na hierarquia dos valores ocupa o primeiro lugar, devendo por isso todo o trabalho que possa ser desenvolvido no âmbito dos incêndios, ter como principal preocupação, a preservação de vidas humanas, especialmente as dos combatentes.

Assim, e para que o ano de 2013 não se repita, apostou-se na formação dos bombeiros, transversal a todos a hierarquia, desde o comandante ao bombeiro mais moderno, tendo como principal preocupação a salvaguarda das suas vidas, e por isso, hoje o combate aos incêndios realiza-se com bombeiros melhor formados e que põem em primeiro lugar a sua própria proteção.

A formação entretanto ministrada aos bombeiros teve como objectivo a uniformização de procedimentos, em todas as corporações de bombeiros, porque os incêndios são combatidos por diferentes corporações, provenientes de diversos pontos do país, através dos chamados Grupos de Reforço de Ataque Ampliado (GRUATA) e os Grupos de Reforço para Incêndios Florestais (GRIF), que são grupos constituídos por viaturas de combate pertencentes a corporações de bombeiros, que se deslocam de outros pontos do país, para reforçar os bombeiros locais, tendo por isso também os Comandos das corporações de bombeiros recebido formação, devido às maiores necessidades de coordenação dos meios empenhados num incêndio.

Teve ainda como objetivo a consolidação da doutrina usada no combate inicial a um incêndio, que é feita, não só com recurso a meios da corporação de bombeiros local, mas também com recurso a meios de mais duas corporações de bombeiros vizinhos, através de uma triangulação previamente definida, incluindo corpos de bombeiros de distritos diferentes, denominado de “Ataque Ampliado” ou como alguns gostam de lhe chamar “Ataque Musculado”.

Para além da aposta na formação, os bombeiros receberam nos últimos anos equipamento de proteção individual, nomeadamente novas fardas e botas ignífugo, e abrigos portáteis, que usados em situações de emergência podem salvar vidas.

No entanto é utópico pensar que é possível acabar com todos os incêndios, porque as suas causas são complexas e variadas, e por isso todos os anos é colocado no terreno um dispositivo, composto por meios humanos e materiais, para que as consequências resultantes dos incêndios sejam as menores possíveis e que os prejuízos sejam também eles reduzidos.

Mas são os combatentes que todos os anos arriscam a vida no combate aos incêndios, conforme podemos testemunhar na semana passada, cujos incêndios foram combatidos até á exaustão, que merecem o nosso maior reconhecimento, e toda e qualquer medida a ser implementada deve a eles ser dirigida em primeiro lugar, parecendo-nos que nesse âmbito algo terá mudado, tendo sido implementadas nos últimos três anos, medidas que contribuíram para que desde 2013 não se tenha lamentado a perca de nenhum bombeiro.

Verifica-se assim, que os incêndios da semana passada, que não deram descanso a todos os que os combateram, quer no continente, quer na Madeira, não tiveram como consequência a perca de nenhum bombeiro, e por esse motivo devemo-nos todos congratular, porque em primeiro lugar está a vida daqueles que tem como lema “Vida por Vida”.


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