OS PERIGOS DA INTERNET


No mês passado foi notícia, que um jovem português de 17 anos foi detido pela Polícia Judiciária por suspeitas de, através da internet, incentivar outros jovens à prática de massacres em escolas no Brasil, de onde resultou uma vítima mortal, sendo provavelmente um dos casos mais graves que ocorreram em Portugal, pelo que nos propomos, no presente artigo, abordar o assunto dos perigos da internet, numa linguagem acessível a todos.

Rogério Copeto

Coronel da GNR

Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna

O uso não supervisionado da internet, especialmente por crianças e adolescentes, apresenta diversos perigos que podem ter consequências significativas para o desenvolvimento e a segurança das crianças e jovens

Assim, para abordar o tema dos perigos da internet socorremo-nos de uma metáfora, usando para isso, uma criança que navega num imenso oceano, a bordo de um pequeno barco a remos, encontrando na sua viagem inúmeros perigos, desde piratas até enormes monstros marinhos, mas também, quem o ajuda, assim como faz amizades pelo caminho.

Ao utilizar uma criança, que navega no seu pequeno barco a remos, explica-se metaforicamente, quais os benefícios e os malefícios da internet.

A internet tem coisas boas e coisas más, e algumas muito más, que assim como um marinheiro necessita de ter conhecimentos náuticos para manejar o seu barco, também as crianças necessitam ter conhecimentos, para fugir dos “piratas” e dos “monstros marinhos” que lhe entram na sua vida, através da internet.

As nossas crianças e jovens nasceram e vivem num mundo e todas elas têm acesso a dispositivos eletrónicos desde tenra idade, quer em casa quer na escola, e para elas a informática e a internet não constituem qualquer problema, ao contrário de grande parte dos adultos, tendo à sua disposição toda a informação à distância de um clique.

Por isso todos concordamos que os benefícios da internet são inúmeros, no que diz respeito aos malefícios, é que nem todos estamos para eles despertos.

Hoje é normal as nossas crianças passarem horas e horas nos quartos, em “conversas” com os amigos(as), fazendo uso de plataformas de comunicação, sendo umas mais conhecidas, mas também outras plataformas menos conhecidas como o Discord.

Para todos os pais, a segurança dos seus filhos, continua a ser prioridade hoje, como ontem, mas enquanto no passado os perigos estavam perfeitamente identificados, hoje identificar quais os perigos a que os nossos filhos estão sujeitos, nem sempre é fácil.

Hoje uma criança no seu quarto em casa, está sujeita a um conjunto muito maior de perigos, do que no passado, quando as crianças passavam o tempo todo na rua a brincar com os amigos, muitas vezes sem os seus pais conhecerem muito bem qual a sua localização.

O grupo sempre protegeu os seus membros e hoje uma criança, sozinha no seu quarto, fazendo uso da internet, está sujeita a inúmeros perigos, sem possibilidade de se defender e sem poder contar com o grupo de amigos para a ajudarem, como faziam no passado, quando na rua se ajudavam uns aos outros.

Hoje os perigos da internet assumem diversas formas, os tais “piratas” e “monstros marinhos”, são na realidade os “conteúdos impróprios”, o “vício do jogo online”, o “roubo de identidade” e o “ciberbullying”, sem falar nos “vírus”, nos “cavalos de tróia”, no “phishing” e no “spyware”, que abundam na internet, sem esquecer os “predadores online”.

Na exposição a conteúdos inadequados a crianças ou o adolescente pode aceder a conteúdos violentos, pornográficos ou a discursos de ódio, podendo essas exposições afetar negativamente o desenvolvimento psicológico e emocional.

O cyberbullying é um problema crescente, onde crianças e jovens são assediados ou humilhados online, podendo conduzir a sérios problemas de autoestima, ansiedade, depressão e, em casos extremos, suicídio.

A internet facilita ainda o contato entre predadores sexuais e crianças e jovens, que podem ser manipulados e explorados, cujo modus operandi dos predadores é fazerem-se passar por amigos ou figuras de autoridade para ganhar a confiança das vítimas.

As crianças ao partilharem informações pessoais, colocam-se em risco, podendo ser vítimas de roubo de identidade e outras fraudes, incluindo a divulgação de moradas, números de telefone e outras informações sensíveis e pessoais.

O uso excessivo da internet pode levar à dependência, prejudicando o desempenho escolar, a socialização e a saúde física e mental, podendo ainda o tempo excessivo diante dos écrans causar problemas de visão, postura e sono.

A internet permite assim, que as nossas crianças, mesmo estando nos seus quartos, de uma forma que dantes era impensável, estejam sujeitas a um conjunto de perigos, os quais podem levar a graves consequências, caso os pais ou tutores não as alertem, supervisionem e controlem o que colocam na internet, sendo que nada do que se coloca na internet é confidencial e tão pouco se pode apagar.

Por isso, só a prevenção pode evitar traumas físicos e psíquicos que tarde ou nunca serão ultrapassados, pelo que os pais e encarregados de educação ao primeiro sinal de que algo se passa, devem tentar perceber a sua origem, sendo que o problema poderá estar no uso da internet.

Por isso a educação digital importante, tanto para adultos como para as crianças, sendo a supervisão e controle parental essencial, recorrendo-se a ferramentas de controle parental para limitar o tempo de uso da internet, devendo-se conhecer as páginas e as aplicações que os filhos usam, e ter conversas abertas sobre o que é apropriado e seguro, estabelecendo-se regras claras sobre o uso da internet, como horários específicos para uso e os tipos de páginas que podem ser visitados, ajudando a criar uma rotina saudável e evita o uso excessivo.

Manter os computadores em áreas comuns da casa, onde os pais possam supervisionar o seu uso, incentivando a utilização de páginas e aplicações educacionais e seguras, promovendo paralelamente atividades fora da internet, como a prática de desporto, leitura ou atividades em família, contribuindo dessa forma para equilibrar o tempo de ecrã e o desenvolvimento de competências sociais, criando-se um ambiente onde os jovens se sintam confortáveis para falar sobre suas experiências online, permitindo que os pais intervenham rapidamente se algo preocupante ocorrer.

O uso não supervisionado da internet apresenta riscos reais para crianças e adolescentes, mas com medidas preventivas adequadas, é possível minimizar esses perigos, onde a educação contínua, a supervisão ativa e o estabelecimento de limites claros são essenciais para garantir que os jovens possam aproveitar os benefícios da internet de maneira segura e saudável, cujas palavras-chave são: “estabelecer regras”, “acompanhar”, “estar atento aos sinais” e “comunicar”.

Nota: O texto constitui a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição da instituição onde presta serviço.


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