Rogério Copeto (Opinião): PREDADORES ONLINE
Recorrendo a uma analogia fácil de perceber, navegar na internet pode ser comparada a navegar num imenso oceano, a bordo de uma pequena embarcação a remos, onde durante a nossa viagem se encontram inúmeros perigos, mas também quem nos ajude e a ainda a fazer amizades pelo caminho.
Tenente-Coronel da GNR, Mestre em Direito e Segurança e Auditor de Segurança Interna
Chefe da Divisão de Ensino/ Comando da Doutrina e Formação
Dessa forma, os “Perigos da Internet” podem ser explicados às crianças, indicando quais os benefícios e os malefícios da internet, comparando a navegação na internet, com a navegação num imenso oceano desconhecido, usando apenas uma pequena embarcação a remos, onde se podem encontrar inúmeros perigos, desde “piratas” até enormes “monstros marinhos”.
A internet tem coisas boas e coisas más, e algumas muito más, e para ser usada convenientemente, tal como um marinheiro usa o mar e necessita de ter conhecimentos náuticos para manejar a sua embarcação, também as crianças necessitam ter conhecimentos, para fugir aos “piratas” e aos “monstros marinhos”, que vão encontrando na internet.
As nossas crianças nasceram e vivem num mundo digital e todas elas têm acesso a dispositivos electrónicos desde tenra idade, quer em casa quer na escola, sendo que para elas, a informática e a internet não constitui qualquer problema, ao contrário de grande parte dos adultos. Têm à sua disposição toda a informação à distância de um clik, quer através dos computadores em casa, quer através dos smartphones ou dos tablets na rua, com acesso à internet, que na geração dos pais, só era possível ter, quando se deslocavam a uma biblioteca.
Por isso todos concordamos que os benefícios da internet são inúmeros, no que diz respeito aos malefícios, nem todos estamos para eles despertos.
Hoje é normal as nossas crianças terem um computador no quarto, onde passam horas e horas, em “conversas” com os amigos(as), fazendo uso das chamadas “redes sociais”, sejam o facebook, youtube, twitter, skype ou qualquer outra.
Para todos os pais, a segurança dos seus filhos, continua a ser prioridade hoje, como ontem, mas enquanto no passado os perigos estavam perfeitamente identificados, hoje identificar quais os perigos a que os nossos filhos estão sujeitos, nem sempre é fácil.
Hoje uma criança no seu quarto em casa, está sujeita a um conjunto muito maior de perigos, do que no passado, quando as crianças passavam o tempo todo na rua a brincar com os amigos e vizinhos, muitas vezes sem os seus pais conhecerem muito bem qual a sua localização.
O grupo sempre protegeu os seus membros e hoje uma criança, sozinha no seu quarto, fazendo uso da internet, está sujeita a inúmeros perigos, sem possibilidade de se defender e sem poder contar com o grupo de amigos para a ajudarem, como faziam no passado, quando na rua se ajudavam uns aos outros.
Hoje os perigos da internet assumem diversas formas, os tais “piratas” e “monstros marinhos”, são na realidade os “conteúdos impróprios”, o “vício do jogo online”, o “roubo de identidade” e o “ciberbullying”, sem falar nos “vírus”, nos “cavalos de tróia”, no “phishing” e no “spyware”, que abundam na internet. Mas o maior perigo para as nossas crianças que usam as redes sociais são os “predadores online”.
As redes sociais permitem que os “predadores online” entrem nos quartos das nossas crianças, de uma forma que dantes era impensável. Hoje, as nossas crianças, que passam grande parte do seu tempo livre ao computador, correm enormes riscos, se os seus pais não as alertarem, supervisionarem e controlarem o que colocam na internet, sendo que nada do que se coloca na internet é confidencial e tão pouco se pode apagar.
Os “predadores online” utilizam as redes sociais para assediarem crianças, seja do sexo feminino, seja do sexo masculino, sempre com objectivo delas abusar sexualmente.
O assédio começa normalmente com uma mentira, uma foto de perfil chamativa e um inocente pedido de amizade. O “predador online” mente em relação à idade e geralmente só após ter fotos comprometedoras das crianças, é que a confrontam, ameaçando-as com a divulgação das fotos, caso elas contem a alguém.
Depois de caírem na armadilha, é muito difícil escaparem das garras do “predador online” sem ajuda dos pais, professores ou das autoridades. As crianças cedem à pressão e acabam por contactar pessoalmente com o “predador online”, onde tudo pode acontecer, e nessa altura já é tarde demais …
Só a prevenção pode evitar traumas físicos e psíquicos que tarde ou nunca serão ultrapassados.
Cerca de 15% das crianças portuguesas já foram vítimas de assédio sexual na internet, mas muitas mais haverá que sofrem em silêncio e nada denunciam.
Os pais e encarregados de educação ao primeiro sinal de que algo se passa, devem tentar perceber a sua origem, e o problema poderá estar no uso da internet.
Assim, às crianças apela-se que peçam ajuda a um adulto (pais, autoridades ou aos professores) e aos pais e encarregados de educação apela-se que não permitam que os seus filhos forneçam dados pessoais, devendo o uso da internet ser monitorizado, conhecer os seus endereços de e-mail ou partilhar o mesmo por toda a familia, quais as redes sociais que usam e nunca responder a mensagens de estranhos.
Se tudo falhar e a criança acabar por entrar em contacto com um “predador online”, não culpar a criança e denunciar imediatamente esse facto às autoridades, forneçendo todos os documentos, incluindo endereços de correio electrónico, endereços de websites e registos.
No âmbito da segurança na internet, educar para a segurança é “estabelecer regras”, “acompanhar as crianças”, “estar atento aos sinais” e “comunicar”.