A rede criminosa, composta na esmagadora maioria por cidadãos romenos, estava organizada em três grupos que se ligavam entre si e com uma composição de carácter familiar.
A forma como o grupo atuava, permitia-lhe gerir os proveitos monetários gerados pelo trabalho dos explorados, na maioria das vezes em proveito próprio.
Exemplo prático desta situação tem a ver com a família liderada por Madalin Ion, o homem que regou a cônjuge com gasolina, que viu a mulher, o filho, o genro e um irmão deste, todos detidos na operação da PJ.
Os trabalhadores explorados pela rede criminosa detida na quarta-feira pela PJ em Beja, Cuba, Serpa e Ferreira do Alentejo, viviam um clima de medo e terror, já que além das ameaças físicas e psicológicas de que eram alvo em Portugal, as suas famílias que estavam nos países de origem sofriam o mesmo tipo de intimidações.
Com este comportamento violento, os líderes e os seus “capatazes”, evitavam qualquer tipo de contestação e denúncias às autoridades do clima de escravidão em que viviam, sendo obrigados a partilhar as casas e os trabalhos que o grupo decidia, muitas vezes sem qualquer remuneração.
Ainda enquanto decorria a operação, a PJ revelou em comunicado que os integrantes da rede criminosa estão “fortemente indiciados da prática de crimes de associação criminosa, de tráfico de pessoas, de branqueamento de capitais, extorsão, posse de armas de fogo e de falsificação de documentos”, tendo sido resgatadas mais de seis dezenas de vítimas da Roménia, Moldávia. India, Senegal, Paquistão, Marrocos, Argélia, entre outros, que foram aliciados para trabalhar na agricultura no distrito de Beja e acabaram por ser explorados.
No caso dos cinco homens portugueses, são funcionários de empresas ou explorações agrícolas que recorrem a trabalhadores em regime de trabalho temporário e seriam o elo de ligação com os líderes da rede e receberiam verbas conforme os explorados que eram contratados.
O inquérito que é titulado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, foi liderado no terreno pelo juiz Carlos Alexandre e começou a ser investigado há um ano, na sequência de várias denúncias que chegaram à PJ.
Na quarta-feira às 04,00 horas, cerca de quatrocentos inspetores da Unidade Nacional de Contraterrorismo foram para o terreno e deram cumprimento a 65 mandados de busca domiciliária e não domiciliária e à detenção fora de flagrante delito de três centenas e meia de homens e mulheres, com idades compreendidas entre os 22 e os 58 anos de idade.
No escuro da noite de Beja, com o apoio de militares da Força Aérea, a base operacional da polícia foi montada no parque de estacionamento do Parque da Cidade, na entrada Norte de Beja, tendo sido equipada com uma tenda azul com o símbolo da PJ, três contentores metálicos, duas casas de banho e uma unidade móvel todas descaraterizadas, para onde foram levadas as vítimas da rede criminosa, para prestaram depoimentos sobre a organização e ouvidos para memória futura.
Da ação policial resultou a apreensão de muita documentação, dinheiro, armas de fogo e viaturas ligeiras e comerciais de passageiros, motas de quatro e de duas rodas.
Além dos inspetores da PJ, participaram na operação a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), a Segurança Social, o Alto Comissariado para as Migrações e a Proteção Civil Municipal de Beja, que colaboraram no apoio logístico e no encaminhamento de alguma das vítimas.
Os 35 detidos, seis dos quais portugueses, cinco homens e uma mulher, uma solicitadora de Cuba, começaram esta quinta-feira a ser ouvidos no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa.
Teixeira Correia
(jornalista)