Vila de Frades/Vidigueira: Ruínas de São Cucufate serão reclassificadas como monumento nacional.


A Direção-Geral do Património Cultural abriu um procedimento para reclassificar para a categoria de monumento nacional e renomear as ruínas de São Cucufate, no Alentejo, e ampliar a zona classificada.

Segundo o anúncio publicado em Diário da República, aquele organismo, sob proposta da Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA), abriu o procedimento de ampliação da zona classificada, de reclassificação para monumento nacional e de redenominação para Sítio Arqueológico de São Cucufate das ruínas situadas na freguesia de Vila de Frades, concelho de Vidigueira, distrito de Beja, e conhecidas também como ruínas do Convento de São Cucufate ou de Santiago.

Em declarações à agência Lusa, a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, disse que a alteração da classificação, da atual categoria de imóvel de interesse público para a de monumento nacional, “a mais alta categoria de classificação” de imóveis em Portugal, “era há muito devida” e a DRCA decidiu iniciar o procedimento no âmbito da comemoração dos 40 anos da investigação nas ruínas assinalados em 2019.

Segundo a responsável, a DRCA decidiu propor a abertura do procedimento para responder “à necessidade de adequar o instrumento de proteção legal” à atual realidade monumental, à excecionalidade e ao valor patrimonial, histórico e cultural das ruínas conservadas.

O procedimento de reclassificação será feito “integrando e ilustrando valores de memória que têm a ver com a História da construção da identidade nacional e da estruturação do território ao longo de quase dois milénios” e permitirá redefinir a área classificada e propor a criação de uma Zona Especial de Proteção.

Das ruínas, é possível “partir para a História da Língua Portuguesa”, para a forma de organização, os modelos de exploração dos recursos, o povoamento e a organização administrativa e para o surgimento, a consolidação e a afirmação do Cristianismo como religião predominante na História e no território português, explicou.

Por isso, a categoria de Monumento Nacional “é muito mais adequada a esta realidade” do que a de imóvel de interesse público em vigor, sublinhou, frisando tratar-se da vila romana “[mais bem] conservada, não só em Portugal, mas também a nível internacional” e este “é também um valor absolutamente excecional que em muito contribui para a inteira justiça desta reclassificação”.

De acordo com Ana Paula Amendoeira, o sítio arqueológico de São Cucufate “era há muito conhecido” e, nos anos 40 do século XX, “mereceu a atenção de investigadores e responsáveis pelo património cultural” da época, o que levou à classificação como imóvel de interesse público em 1947.

A partir de 1979 e até 1985/87, o sítio foi revisitado por uma equipa luso-francesa de arqueologia das Universidades de Coimbra e de Bordéus III e dirigida pelos professores Jorge de Alarcão, Robert Étienne e Françoise Mayet.

Em sucessivas campanhas de investigação arqueológica, os professores “recolheram informação fundamental para uma melhor compreensão” das várias fases de construção e crescimento e dos diferentes usos do sítio, desde a sua instalação, em período romano, no século I d.C., ao seu abandono definitivo, já no século XVIII, e “evidenciando o carater único e excecional daquele conjunto a nível nacional e não só”.

A ampliação da zona classificada justifica-se porque “o desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos sistemáticos e em área, como nunca antes tinha acontecido, permitiu perceber melhor a real extensão da área de implantação do edificado”, disse.

Os trabalhos colocaram à vista ruínas que antes “estavam completamente soterradas e cuja real dimensão se desconhecia”, o que “conduziu à redefinição da área que deve estar classificada” e que “passará a integrar todos os vestígios de construções existentes e atualmente conhecidos”, explicou.

Segundo Ana Paula Amendoeira, o sítio, ao longo dos quase dois milénios de ocupação e uso, foi vila romana e mosteiro, do período romano não se conhece qualquer designação e da reutilização como conjunto religioso cristão conhece-se as designações diferentes de Convento de S. Cucufate e de S. Tiago.

Em relação à redenominação, a DRCA optou pelo nome de São Cucufate “por ser a designação mais antiga conhecida” e que remonta ao século XIII, quando foi referida num documento datado de 1255 de doação, por D. Sancho III, do Convento de S. Cucufate ao Convento de Vicente de Fora, de Lisboa, e também é “uma referência que permanece como orago da Paróquia de Vila de Frades”, que “é vizinha muito próxima”, explicou.

“Por último, mas não menos importante”, São Cucufate “foi, pelas mesmas razões, a designação escolhida pela equipa de investigadores que escavou, estudou e publicou sistematicamente o sítio”, no final dos anos 70 e nos anos 80 do século XX, o que fez com que todas as publicações científicas e de divulgação produzidas desde então utilizem aquela designação e não outra.

Já a designação de “sítio arqueológico” surge porque se trata “efetivamente de um sítio arqueológico multiperiodal” e que sobrepõe “num mesmo espaço vestígios materiais de várias épocas”.

Fonte: Lidador Notícias/ Notícias ao Minuto/ Lusa


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