Beja: Antiga moagem e silos abandonados, à espera de novos donos.
Os antigos edifícios dos “Moinhos de Santa Iria” deverão ser alvo de concurso público de alienação até ao final do mandato do atual Executivo da Câmara de Beja, proprietária do espaço. Um empresário de Beja e uma imobiliária do Porto, estão interessados na compra.
A cidade que o Estado Novo batizou como a “Capital Agrícola” e o “Celeiro da Nação”, Beja tem uma antiga unidade de moagem e dois, dos três silos da cidade, localizados na rua da Lavoura, ao abandono. Um dos silos já foi palco, por duas vezes, de saltos de jovens para a morte.
O antigo edifício da empresa “Moinhos de Santa Iria”, que depois da falência da moagem ainda albergou uma fábrica de camisas, está em ruínas desde 1975, data em que o espaço foi pasto de um violento incêndio.
Os telhados de alguns dos edifícios do complexo já abateram, portas e janelas já desapareceram, tendo em determinada altura o portão principal sido vandalizado e o local servido de abrigo a toxicodependentes.
O espaço também já serviu para guardar veículos apreendidos à ordem de processos judiciais e cenário para a efetivação de exercícios de resgate por parte de bombeiros e Proteção Civil.
Mas o pior já ocorreu em duas ocasiões. No dia 8 de abril de 2015, um jovem de 26 atirou-se do topo dos silos, cenário dramático que se repetiu em 3 de setembro de 2016, outro jovem, este de 34 anos repetiu a atitude. Ambos tiveram morte imediata.
O espaço com 9.500 m2, segundo a escritura, foi adquirido pela Câmara Municipal Beja em 26 de junho de 2001, a empresa imobiliária proprietária do mesmo, por 230 milhões de escudos (1 milhão 147 mil euros).
Desde a aquisição, já passaram pelo Executivo da Câmara de Beja, cinco presidentes três da CDU e dois do PS, mas, a capacidade económica para recuperar o edifício é a mesma: “não nenhum projeto para reabilitação, por falta de condições económicas”, disse ao JN, o presidente da edilidade, Paulo Arsénio. O edil justificou que “devem ser criadas condições para a alienação. Vamos procurar que até ao final do mandato, seja possível publicar um concurso público de alienação”, rematou.”,
“Há interessados em adquirir o espaço. Sem se avançar valores, um empresário local ligado à construção e à hotelaria e uma imobiliária do Porto, demonstraram interesse na aquisição”, revelou o autarca. Mas o espaço já teve “um interessado de peso que manifestou interesse”, mas a sua localização “não era a ideal”, tendo Paulo Arsénio explicado que foi o Grupo Vila Galé, que tem outro edifício antigo em vista para abrir uma unidade de luxo em Beja.
Os valores a envolver na recuperação dos Moinhos de Santa Iria, são na opinião do autarca: “proibitivos e retiram capacidade à autarquia de investir, além de que há outros espaços, cujas recuperações são prioritárias, como a Casa das Artes Jorge Vieira”, justificou.
A cerca de 300 metros há outros silos, que pertencem à Direção-Geral do Património, que em tempos pertenciam ao Estado através da Empresa Pública de Abastecimento de Cereais (EPAC) e que estão também ao abandono, com portas arrombadas e cujo acesso é permitido a todo o tipo de gente. Ao abrigo da Lei 50/2018, que define a descentralização de competências, a autarquia poderia “herdar” o espaço, mas o presidente da autarquia refuta: “São silos a mais e não dos dedicamos à agricultura”, concluiu.
De um largo bloco de edifícios que pertenciam à EPAC, em 2001 a família Nabeiro adquiriu um dos espaços, onde funciona o departamento da Delta Cafés e onde emprega perto de duas dezenas de pessoas.
Junto ao IP2, na ligação a Évora, há um terceiro silo, o único em funcionamento e que pertence à Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, onde os sócios continuam a fazer a entre de cereais depois da campanha de ceifa.
Teixeira Correia
(jornalista)