Beja: Escolha de novo diretor do “Diário do Alentejo”, envolta em suspeição e guerra de palavras.


“Concurso troncado, critérios direcionados, júri partidário, controlo e pressões políticas”, são algumas das acusações feitas por Paulo Barriga, diretor do jornal “Diário do Alentejo”, feitas ao Conselho de Administração da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), sedeada em Beja, proprietária do último título público em Portugal, a propósito do concurso aberto para aquele cargo.

Na base da controvérsia estão os critérios de adjudicação do lugar, onde a ponderação do preço proposto pelos concorrentes vale 50%, sendo que a restante percentagem, 30% vão para a experiência comprovada do jornalista e 20% atribuídos à capacidade de realização de vídeos/ documentários do interessado.

O valor base do contrato, com a duração de um ano e que pode ser renovado por mais duas vezes, num total de 36 meses, é de 99.000 euros, o que equivaleria a 2.750 euros/ mês. Mas como se tratada de uma contratação a recibos verdes, e face aos encargos com Segurança Social e Autoridade Tributária, o valor líquido é substancialmente reduzido. Com o concurso prevê que o menor preço proposto pode vir a ser o critério decisivo, o vencimento mensal do diretor pode ser muito menor.

O “Diário do Alentejo” esteve na origem da criação, em 1981, da Associação de Municípios do Distrito de Beja (AMDB), a primeira a “nascer” no país no pós-25 de abril, e que teve como objetivo especifico a aquisição do título e da gráfica ligada ao mesmo, que depois foi rebatizada em 2005 como Associação de Municípios do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral (AMBAAL). Em conformidade com a lei 45/2008 de 27 de agosto, revogada pela 75/2013, foi constituída a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), que a partir de 1 de Janeiro do corrente ano incorporou a AMBAAL por fusão.

Ao longo dos anos o DA são foi alvo da cobiça política e o reflexo de quem estava no Poder e no domínio da estrutura associativa. O PCP dominou com maioria durante muitos anos, mas com a conquista de autarquias por parte do PS, que contrariam a hegemonia comunista, a luta pelo controle do jornal marca as sucessiva administrações.

Diretor do jornal desde novembro de 2010, o jornalista Paulo Barriga foi o primeiro jornalista a ser nomeado para o cargo, na sequência de um concurso público, depois de muitas nomeações políticas desde os primórdios da AMDB. O socialista Jorge Pulido Valente, presidente da AMBAAL considerou que era o candidato que “melhor defendeu um projeto para a estabilidade futura do jornal”. Depois passou por administração, presidida pelo comunista João Rocha, que depois das autárquicas de 2017, volta às mãos do PS.

Paulo Barriga não poupa nas palavras e deixa duras críticas à administração da CIMBAL. “Defendo a solução dos concursos públicos, mas verdeiros e não truncados, como este, em que os critérios de seleção são uma farsa. Não se destaca o currículo do concorrente, não há uma entrevista seletiva e o melhor preço como critério não tem lógica”, justifica.

Mas o jornalista vai mais longe e diz que o concurso “devia ter um júri idóneo. Trata-se de um júri político de autarcas do mesmo partido, que manda na Comunidade e sem ninguém da área do jornalismo”, acrescentando que soube do concurso “pela comunicação social local. Isto está feito para uma pessoa”, remata.

Quando questionado se há interferência política no jornal, Barriga atira: “sofri e sofro pressões inaceitáveis do PS e do PCP e dos seus autarcas e deputados, do PSD já lá vai o tempo. Há a tentativa de controlo do jornal pelos partidos. Não há inocentes de parte nenhuma”, conclui.

Paulo Barriga garante que ao longo de oito anos “fizemos um jornal absolutamente independente e isento”, deixando um recado aos administradores do jornal: “não quero que fiquem comigo a toda a força. Assumam politicamente que querem outra pessoa. Façam a nomeação direta e não um concurso fantoche”, termina.

Jorge Rosa, presidente do CA da CIMBAL e da Câmara de Mértola, começou por referir que “não me compete comentar declarações de outra pessoa”, acrescentando que “fica mal a vitimização política”, sustentando que é preciso “dar uma volta ao jornal, que tem défice enorme que as câmaras não estão dispostas a suportar”, sustentou.

Sobre o concurso que diz ter sido feito “com total transparência”, e depois de tudo analisado, percebeu-se que “para evoluir tinha que se modernizar”, revelando que se procura “tornar o site mais atrativo, uma edição online, com uma redução na impressão em papel”, rematando que as deliberações “foram votadas por unanimidade por todas as forças políticas representadas na Com unidade”, remata.

Jorge Rosa remata justificando que “não está em causa retirar ou colocar alguém. O concurso visa concretizar os objetivos traçados”, com mudança e evolução”, concluiu.

Quem é quem

O “Diário do Alentejo” foi fundado em 1 de junho de 1932, por Carlos Marques e Manuel António Engana, tendo depois de várias convulsões financeiras e de uma situação de falência, o jornal e a gráfica foram adquiridos às Finanças pela AMDB criada para o efeito. Durante a fase de asfixia, para ser publicado o jornal chegou durante algum tempo a chamar-se “Alentejo Ilustrado”.

Atualmente com a CIMBAL, com exceção de Odemira, são treze as autarquias do distrito de Beja, as proprietárias do jornal: Aljustrel, Alvito, Almodôvar, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira.

Jornal premiado

Entre os jornalistas Paulo Barriga, Nélia Andresa e Carla Ferreira, nos últimos 8 anos o jornal alcançou duas dezenas de prémios. Em 2011 o DA conquistou o Prémio Nacional de Ilustração de Imprensa-“Stuart de Carvalhais”, com uma capa da autoria de Suza Monteiro sobre Manuel da Fonseca.

Os dois últimos ocorreram durante o corrente ano e da autoria do diretor do jornal, Paulo Barriga. Em julho, a reportagem “A Europa no seu devido lugar, foi distinguida com o prémio Fernando de Sousa, na categoria “Jornalista- Media Regional. No passado mês de novembro, a reportagem “Ensaio sobre a solidão”, alcançou o Prémio de Jornalismo Direitos Humanos e Integração, na categoria de Comunicação Social e Local., uma iniciativa conjunta da Comissão Nacional da Unesco e da Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros.

Teixeira Correia

(jornalista)


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