Empresa metalomecânica “herdeira” da Manuel Pires Guerreiro (MPG) fecha a porta e atira mais de dezena e meia para o desemprego.
Dezena e meia de trabalhadores do sector metalomecânico foram ontem atirados para o desemprego na sequência de um despedimento coletivo, motivado pelo encerramento da Mecren, Lda, com sede na Estrada Nacional (EN) 121, em Beja. A empresa foi alvo de um processo de execução sumária movida por um banco, face à existência de uma dívida no valor de 1.185.621,59 euros.
Em 5 de março de 1970 nasceu em Beja a empresa Manuel Pires Guerreiro, Lda (MPG), que há uma década deu origem à Mecren,Lda. O desenlace fatal começou no passado sábado, colocando fim a 51 anos de existência daquela que foi uma referência no Alentejo no sector da serralharia mecânica e civil.
Durante muitos anos a MPG dedicou-se ao fabrico de máquinas, reboques e alfaias agrícolas, tendo meio conhecido outras duas empresas, até passar a denominar-se Mecren, passando então a dedicar-se à fabricação de estruturas metálicas e à construção reparação e manutenção naval.
Os problemas financeiros da Mecren, lda, propriedade de Mário e Hugo Pires, pai e filho, já não eram novos. Em 15 de março de 2020, foi uma notícia do Lidador Notícias (LN) que revelava que os trabalhadores tinham ordenados em atraso, que “salvou” estes de um despedimento anunciado, mas que viria a ser revertido. Em outubro do ano passado o Banco Comercial Português (BCP) deu entrada no Juízo Central Cível de Beja com um processo judicial para execução dos bens da empresa pela dívida de quase 1,2 milhões de euros.
No passado sábado, quando os trabalhadores executavam um trabalho para uma empresa de construções sediada no distrito de Aveiro, irromperam pelas instalações a agente e a empresa de execução e encerraram a Mecren.
Ontem enquanto com autorização do tribunal, a empresa aveirense carregava o volumoso trabalho metalomecânico, um a um os trabalhadores subiam ao escritório para receberem os papéis para o desemprego. Ao LN, o administrador da Mecren presente nas instalações limitou-se a dizer que “os trabalhadores estão a receber a documentação necessário para o desemprego. A Mecren fecha hoje. Tudo o resto é com o administrador judicial”, rematou.
Anteontem, um dos sócios esteve nas instalações e comunicou aos trabalhadores que “por falta de recursos financeiros não era possível continuar com a empresa e que esta iria fechar, face à execução bancária”, revelou ao LN, Francisco Grade, de 58 anos, 43 dos quais passados a trabalhar naquelas instalações. De olhos molhados pelas lágrimas, justificava que “no sábado o portão foi fechado e a empresa da execução carregou vários bens como uma camioneta, um carregador telescópico Manitou. Uma grua que está em Sesimbra já estava arrestada”, rematou.
Em 2018 a empresa atravessou uma das suas melhores fases, quando construção de rebocadores, lanchas, barcaças e catamarãs, interior ou em módulos, que depois por via rodoviária eram deslocados para estaleiros navais no Seixal.
Francisco Grade (o trabalhador mais antigo)
“Como me sinto ?. Vim para aqui com 15 anos, foi a minha segunda casa. Levo muitas histórias para recordar. Com 58 anos sou “velho” para me darem trabalho. Vou aproveitar o desemprego pelo máximo de tempo e depois trato da reforma”.
Teixeira Correia
(jornalista)