Beja: Nilton David, rececionista de automóveis corre 48 horas em Ultra Trail.
Nilton foi o quarto de cinco atletas que fizeram a totalidade do “Oh Meu Deus”, tendo partido de Seia na sexta-feira, 14 de junho e chegado ao mesmo local, no domingo, perto das 10 horas da manhã.
Nome: Nilton David, Idade: 45 anos
Profissão: Rececionista em oficina de automóveis
Naturalidade: Essen/ Osbruck (Alemanha) e Residência: Beja
Chegou a Beja há duas décadas e meia vindo do Algarve, da aldeia de Altura, concelho de Castro Marim, onde foi criado, depois de ter nascido em Essen, a oitava maior cidade da Alemanha, com uma população de quase 600 mil habitantes, localizada na Renânia do Norte-Vestfália.
O seu aspeto longilíneo, 1,84 metros de altura, deixa perceber que há mais qualquer coisa por detrás do cidadão que se confessa como “um alentejano de alma e coração. “Fui traído duas vezes pelo Alentejo, na vida profissional, em primeiro e na sentimental, depois”, recorda Nilton David, que já tem um filho nascido em Beja.
Para “desentorpecer as pernas”, como se não andasse um dia inteiro de um lado para o outro na oficina, ao final da tarde, vai para o Circuito de Manutenção do Parque de Merendas da cidade alentejana e pratica o seu deporto favorito, o atletismo.
As corridas a sério começaram em 2006, quando fez a primeira meia-maratona a convite de um dos atuais integrantes do grupo informal de oito amigos que em conjunto, treina e participa em provas.
Quatro anos depois, a mágica Serra da Freita, no concelho de Arouca, foi o local onde Nilton fez o seu primeiro trail. Eram 70 quilómetros, mas só conseguiu fazer 50, mas aí, como bom alentejano “rogou uma praga” (maldição) a si próprio: “tu vais conseguir fazer um ultra-trail”, sentenciou.
Já fez muitas outras provas onde correu mais de 100 quilómetros, como por exemplo na Serra Nevada, mas o sonho, para cumprir a maldição, era ir mais além e trocou os bailes dos Santos Populares pela mítica prova de resistência “Oh Meu Deus- Ultra Trail da Serra da Estrela”, em que os atletas depois de cumpriram os exigentes 160 quilómetros, dentro de um determinado tempo, podem fazer os restantes 40, totalizando 200 quilómetros. Nilton foi o quarto de cinco atletas que fizeram a totalidade do “Oh Meu Deus”, tendo partido de Seia na sexta-feira, 14 de junho e chegado ao mesmo local, no domingo, perto das 10 horas da manhã.
“Como se fazem quase 42 horas de corrida ? Temos que carregar água, comida com 500 calorias, um impermeável uma frontal elétrica, manta de sobrevivência e um apito, além de uma grande capacidade de superação e de sofrimento. Houve momentos em que disse para mim: agora é que me fazia falta um automóvel”, atira o rececionista. Nesta prova não há prémio, quem termina recebe um Escudo de Viriato. “Eu senti-me um verdadeiro guerreiro”, remata Nilton.
Mas o que leva um homem que gira da receção e do atendimento aos clientes, para oficina, daqui para as peças, a entrar nestas aventuras ? “É para escapar à rotina, manter a forma física e desanuviar do dia-a-dia de trabalho”, justifica aquele, a quem os amigos trataram como “Runner Man”.
Teixeira Correia
(jornalista)